Também fundamental nesta perspectiva de ruptura foi o movimento de transformação prática, chamado de Psiquiatria Democrática, que produziu mudanças significativas nas formas de atenção à loucura, desconstruindo a lógica manicomial e promovendo a desinstitucionalização da loucura. Começou em Trieste, na Itália, nos anos 70, com Franco Basaglia, e espalhou-se pelo mundo (Amarante, 2007). Esses movimentos têm mútuas influências, formando o cenário do que vamos denominar de antítese.
Sartre serviu de mediação intelectual para outros tantos psiquiatras que questionavam a sua disciplina e antipsiquiatras. Um dos mais importantes foi Basaglia, com sua exigência de desinstitucionalização, ou seja, de desconstrução da racionalidade acerca da loucura, pois esta é base para a construção de novos modos de atenção em franca ruptura com a lógica manicomial e a possibilidade de construção de uma clínica ampliada, que nada mais é do que uma clínica do sujeito (Campos, 2007). Basaglia necessitou, nesta direção, trabalhar " a dialética alienação/libertação, ou seja, sobre as maneiras de se produzir Sujeitos com altos coeficientes de autonomia e de iniciativa em situações em que a maioria dos determinantes estaria voltados para a produção da submissão " (Campos, 2007, p. 52). E acrescenta: " neste ponto, Basaglia viu-se obrigado a apoiar-se em Sartre ", pois o existencialista vai exatamente valorizar o sujeito em uma perspectiva humanista e materialista, ao mesmo tempo. Campos (2007, p. 53) ainda afirma que a clínica basagliana é bem fenomenológica, pois " sai o objeto ontologizado da medicina - a doença - e entra em seu lugar o doente ".