SóProvas


ID
2406274
Banca
FAUEL
Órgão
PROAMUSEP
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos


                                                                        A VISITA

Walcyr Carrasco


        Há pessoas que ficam guardadas na alma da gente. De repente minha memória ilumina um sorriso, uma palavra, um gesto de alguém que não vejo há muito tempo. No último Dia das Mães, resolvi rever minha antiga professora de ciências, dona Thelma. Estudei com ela no Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, em Marília, no interior de São Paulo, no tempo em que o ensino médio era chamado de ginásio. Mas perdi o contato: fui criado na cidade somente até os 15 anos. Quando minha família se mudou, veio completa. Não deixamos parentes a quem visitar. Durante mais de quarenta anos, não voltei a Marília. Sempre me lembrava de dona Thelma, mas, contraditoriamente, nunca a visitei.
        Uma ex-colega de classe, Malau, que também só revi recentemente, localizou seu endereço. Minha mãe raramente comparecia às festas escolares quando eu era garoto. Em um Dia das Mães os alunos receberam rosas para oferecer. Entreguei a minha a dona Thelma, que, às vezes, eu chamava de mãe, um pouco por malandragem. Certa vez, na fila do cinema, dona Thelma chegou com o filho pequeno e me pediu para comprar seu ingresso. O funcionário proibiu:

        — Não pode comprar, ela tem de ir para o fim da fila!

        Gritei, muito espertinho: — Mas ela é minha mãe!

        — Ah, se é mãe, pode!

        Passei a chamá-la de mãe e sempre recebia um sorriso cúmplice de volta!

       Em suas aulas contemplei a beleza das células através do microscópio. Apaixonei-me pela teoria da evolução das espécies. Ela me ensinou a pesquisar por conta própria, já que gostava tanto do tema.

        Assim, um pouco me sentindo como um molequinho, apareci de surpresa em sua casa, em Marília. Em dúvida sobre o presente adequado, levei uma caixa de bombons e o meu livro Anjo de Quatro Patas. Ela me recebeu com o mesmo sorriso e os gestos leves, divertidos, juvenis apesar dos seus 77 anos.

        — Nem estou arrumada! Entre, entre!

        Adorou os bombons, autografei o livro. Serviu café com bolo. Quis saber da minha carreira. Eu, de sua vida: teve cinco filhos. O mais velho mora nos Estados Unidos, a mais nova com ela. Aposentada, dedica-se a seu marido, João Décio, professor de literatura da Unesp, autor de quatro livros.

        Falou da juventude, dos tempos de pobreza durante a faculdade. Da vida de professora. Lembramos meus tempos de escola. Muitas vezes, na época, eu a visitava. Ela me dava xerox das poesias que o marido usava como material para as aulas na universidade. Assim conheci Fernando Pessoa e Florbela Espanca.

       Mas durante todo o tempo da visita tinha a sensação de que deveria ter levado um presente mais valioso. De repente confessei:                  
        — Odiamos quando você começou a nos dar aulas!

        — Verdade?

        — Ainda me lembro da primeira prova. Decorei tudo. Só caíram perguntas que exigiam raciocínio! Foi um desastre.

        Ela riu.

        — Sempre fui contra a decoreba.

       — Depois eu comecei a juntar uma coisa com a outra.Você também me mostrou como fazer pesquisa.

        — Fiz uma pausa, procurando as palavras certas.

        Tudo o que aprendi com você me acompanha até agora, Thelma. Sabe, você me ensinou a pensar. Eu não teria me tornado quem sou hoje se você não tivesse sido minha professora.

       Compreendi que meu verdadeiro presente estava além do material. Era meu profundo agradecimento por ela ter existido em minha vida. O brilho de seus olhos me disse quanto se sentiu gratificada. Eu também, pela oportunidade de dizer que ela se tornou inesquecível não só para o garoto que eu fui, mas também para o homem em que me transformei.

Disponível em: <http://vejasp.abril.com.br/cidades/a-

visita/>. Acesso em: 13 jan 2017.

Na frase: “Há pessoas que ficam guardadas na alma da gente”, percebe-se a utilização pelo escritor de uma figura de linguagem, identificada como:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: A

     

    Metonímia: é a figura de linguagem que possibilita troca de um termo por outro de mesma similaridade. Para conceituá-la com maior clareza, podemos dizer que é definida como a substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja, proximidade de sentido entre elas.  É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.

     

    Ex: A viagem à Lua significou um grande avanço para o “homem. (Neste caso a palavra homem foi empregada no lugar de “humanidade”).

     

    Fonte: https://www.figuradelinguagem.com/metonimia/

     

     

  • Resposta: Letra "A".

     

     

    Sobre as figuras de linguagem:

     

    1) Metonímia = Metonímia é a figura de linguagem que possibilita troca de um termo por outro de mesma similaridade. Para conceituá-la com maior clareza podemos dizer que é definida como a substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja, proximidade de sentido entre elas.  É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si. (fonte: https://www.figuradelinguagem.com/metonimia/)

     

    Ex.: "Não resisti aos apelos daquela meiguice."

     

     

    2) Metáfora = Metáfora é uma figura de linguagem. É um recurso semântico. Quer dizer que é um meio utilizado por quem escreve, ou por quem fala, para melhorar a expressividade de um texto literário. Quando é empregada em uma frase, faz com que esta se torne mais eloquente para os que a leem e a ouvem. (fonte: https://www.figuradelinguagem.com/metafora/)

     

    Ex.: "Ela me encarou e seu olhar era 'pedra'". 

     

     

    3) Hipérbole = A hipérbole caracteriza-se pelo exagero de uma ideia com o objetivo de expressar intensidade. É uma figura de linguagem construída através do uso intencional de uma palavra ou expressão exagerada em si mesma ou pelo uso de um termo que é exagerado em relação ao contexto. (fonte: http://www.figurasdelinguagem.com/hiperbole/)

     

    Ex.: "Essa mochila está pesando uma tonelada."

     

     

    4) Ironia = A ironia é a figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra ou expressão de forma que ela tenha um sentido diferente do habitual e produza um humor sutil. Para que a ironia funcione, esse jogo com as palavras deve ser feito com elegância, de uma maneira que não deixe transparecer imediatamente a intenção. A ironia deve estimular o raciocínio, deve fazer o leitor (ou ouvinte) considerar os diversos sentidos possíveis que uma determinada palavra ou expressão pode ter, até encontrar aquele que se encaixa na mensagem produzindo um significado inusitado. Frequentemente, esse jogo é feito utilizando-se uma palavra quando na verdade se quer dizer o oposto dela, mas vale lembrar que nem só de oposições se constroem as ironias. Às vezes, o sentido real do que se diz não é exatamente o oposto, mas é diferente, e isso basta para tornar a sentença irônica. (fonte: http://www.figurasdelinguagem.com/ironia/)

     

    Ex.: "Fale mais alto, lá da esquina ainda não dá para ouvir."

  • Comparação:  ... e flutuou no ar COMO se fosse um príncipe.

     

    Metáfora:  sua boca é um cadeado.

     

    Catacrese:   os braços do mar.

     

    Metonímia:  Leio Drummond, o nosso poeta.

     

    Antítese:   Queria subir ao céu, queria descer ao mar.

     

    Eufemismo:  Era incapaz de apropriar-se do alheio (roubar)

     

    Gradação: Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata (sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia.

     

    Hipérbole: O travesseiro eu ensopei de lágrimas ardentes.

     

    Prosopopeia:  Dorme, ruazinha, é tudo escuro.

     

     

    Sinestesia:  As derrotas do Corinthians deixam um GOSTINHO de PRAZER nos adversários. (palavras que transmitem sensações)

  • Para mim, memória e alma não têm a mesma similiaridade. 

  • Metonímia: "substituição" Ex: O homem foi à lua. ( não foi todos os homens que foram a lua)

    Metáfora*: "comparação" - sem conectivo - Ex: Meu pensamento é um rio subterrâneo. ( quis dizer que tem um pensamento profundo)

    Hiperbole: "exagero" Ex: Já te falei mil vezes isso. ( ele não falou exatamente mil vezes)

    Ironia: "deboche" "sarcasmo" Ex: Fale mais alto, lá da esquina ainda não dá para ouvir. (ele tava falando alto demais)


    *OBS: se tiver conectivo é uma comparação. Ex: A chuva caia como lágrimas de céu entristecido!

  • a)Metonímia, em que se substitui a “memória” por “alma”.

  • GABARITO: LETRA  A

    Metonímia:
    Segundo o Aulete, é uma “figura de linguagem baseada no uso de um nome no lugar de outro, pelo emprego da parte pelo todo, do efeito pela causa, do autor pela obra, do continente pelo conteúdo etc.”. Ou seja, ocorre a substituição de uma palavra por outra porque há entre elas uma relação de todo e parte.
    -O bronze (sino) repicava na torre da igreja. (a matéria pelo objeto)
    -Essa juventude (os jovens) está perdida. (o abstrato pelo concreto)
    -Vivo do suor (trabalho) do meu rosto. (o efeito pela causa)
    -Gostaria de ter um Picasso (um quadro) em casa. (o autor pela obra)
    -O Brasil (as pessoas do Brasil) vibrou com a conquista da Copa do Mundo. (o continente pelo conteúdo)

    FONTE: A gramática para concursos públicos / Fernando Pestana. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.