SóProvas


ID
2409310
Banca
COPEVE-UFAL
Órgão
Prefeitura de Maceió - AL
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

[...]

O professor amanheceu em Caratinga, vindo num ônibus São Paulo – Salvador, que tinha tomado em Leopoldina. Demorara a se decidir, e agora, quando estava prestes a concluir seu intento, titubeava. Seria pecado matar a cobra que tinha se instalado sob a cama? Não seria aquela a Serpente do Paraíso? Aquela cujo veneno o asfixiava pouco a pouco? E se, não tendo coragem para matar a cobra com suas próprias mãos, contrata-se alguém para fazer, seria pecado? Estava ali, num restaurante à beira da Rio-Bahia, um maço de notas no bolso esquerdo do paletó, pronto para entregá-lo aquele que poria fim a seus infortúnios, àquele que daria cabo à caninana. Estaria agindo errado? Quem pode saber? Deus não nos manda mensagens se estamos ou não no caminho justo. É o remorso que os indica. É a culpa que nos suplicia. Quantas noites sem dormir passaram, tentando decifrar sinais que nunca chegavam [...]


RUFFATO, Luiz. O segredo. in: Os sobreviventes. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000. p. 76.


Dadas as afirmativas sobre as características do fragmento desse conto, considerando que o escritor propõe uma espécie de aproximação entre os dilemas das personagens e o leitor,

I. O narrador entremeia na sua fala os pensamentos da personagem, de modo a compor um discurso único.

II. A presença de perguntas no fragmento, o chamado discurso indireto livre, é considerada um aspecto que aproxima o leitor dos dilemas da personagem.

III. O dilema vivido pela personagem remete a um embate entre o desejo pessoal de vingança e os valores que cercaram sua formação.


verifica-se que está(ão) correta(s)  

Alternativas
Comentários
  • Discurso indireto livre, muito utilizado na obra "Dom Casmurro", clássico de Machado de Assis (talvez seja a melhor obra de romance da literatura brasileira). No decorrer do livro, opiniões de Machado (brilhantes, por sinal) se confundem por diversas vezes com a narração (que é feita basicamente em primeira pessoa) de Bentinho, "protagonista" da obra. Vejam:

     

    Caso tivesse ressentimentos de minha mãe, não era uma razão mais para detestar Capitu, nem ela precisava de razões suplementares. Contudo, a intimidade de Capitu fê-la mais aborrecível à minha parenta. Se a princípio não a tratava mal,com o tempo trocou de maneiras e acabou fugindo-lhe. Capitu, atenta, desde que a não via, indagava dela e ia procurá-la. Prima Justina tolerava esses cuidados. A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente. Demais, Capitu usava certa magia que cativa; prima Justina acabava sorrindo, ainda que azedo, mas a sós com minha mãe achava alguma palavra ruim que dizer da menina.

  • Resposta E  (Complementando o comentário…)

    ---------------------------------------------

    I. O narrador entremeia [mistura] na sua fala os pensamentos da personagem, de modo a compor um discurso único. No decorrer do livro, opiniões de Machado (brilhantes, por sinal) se confundem por diversas vezes com a narração (que é feita basicamente em primeira pessoa) de Bentinho, "protagonista" da obra. por Felippe Almeida

    ---------------------------------------------

    II. A presença de perguntas no fragmento, o chamado discurso indireto livre, é considerada um aspecto que aproxima o leitor dos dilemas da personagem. Discurso indireto livre, muito utilizado na obra "Dom Casmurro", clássico de Machado de Assis (talvez seja a melhor obra de romance da literatura brasileira). por Felippe Almeida

    ---------------------------------------------

    III. O dilema vivido pela personagem remete a um embate entre o desejo pessoal de vingança e os valores que cercaram sua formação. por um lado o desejo de matar a cobra versus as indações [1] "não tendo coragem para matar a cobra com suas próprias mãos" [2] seria pecado? Estaria agindo errado? [3] "É o remorso que os indica. É a culpa que nos suplicia."