SóProvas


ID
2420095
Banca
IBADE
Órgão
PM-AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Selfies

Muita gente se irrita, e tem razão, com o uso indiscriminado dos celulares. Fossem só para falar, já seria ruim. Mas servem também para tirar fotografias, e com isso somos invadidos no Facebook com imagens de gatos subindo na cortina, focinhos de cachorro farejando a câmera, pratos de torresmo, brownie e feijoada. Se depender do que vejo com meus filhos - dez e 12 anos -, o tempo dos “selfies” está de todo modo chegando ao fim. Eles já começam a achar ridícula a mania de tirar retratos de si mesmos em qualquer ocasião. Torna-se até um motivo de preconceito para com os colegas.

“'Fulaninha? Tira foto na frente do espelho.” Hábito que pode ser compreensível, contudo. Imagino alguém dedicado a melhorar sua forma física, registrando seus progressos semanais. Ou apenas entregue, no início da adolescência, à descoberta de si mesmo.

A bobeira se revela em outras situações: é o caso de quem tira um “selfie” tendo ao fundo a torre Eiffel, ou (pior) ao lado de, sei lá, Tony Ramos ou Cauã Reymond.

Seria apenas o registro de algo importante que nos acontece - e tudo bem. O problema fica mais complicado se pensarmos no caso das fotos de comida. Em primeiro lugar, vejo em tudo isso uma espécie de degradação da experiência.

Ou seja, é como se aquilo que vivemos de fato - uma estada em Paris, o jantar num restaurante - não pudesse ser vivido e sentido como aquilo que é.

Se me entrego a tirar fotos de mim mesmo na viagem, em vez de simplesmente viajar, posso estar fugindo das minhas próprias sensações. [...]

Pode ser narcisismo, é claro. Mas o narcisismo não precisa viajar para lugar nenhum. A complicação não surge do sujeito, surge do objeto. O que me incomoda é a torre Eiffel: o que fazer com ela? O que fazer de minha relação com a torre Eiffel?

Poderia unir-me a paisagem, sentir como respiro diante daquela triunfal elevação de ferro e nuvem, deixar que meu olhar atravesse o seu duro rendilhado que fosforesce ao sol, fazer-me diminuir entre as quatro vigas curvas daquela catedral sem clero e sem paredes.

Perco tempo no centro imóvel desse mecanismo, que é como o ponteiro único de um relógio que tem seu mostrador na circunferência do horizonte. Grupos de turistas se fazem e desfazem, há ruídos e crianças.

Pego, entretanto, o meu celular: tiro uma foto de mim mesmo na torre Eiffel. O mundo se fechou no visor do aparelho. Não por acaso eu brinco, fazendo uma careta idiota: dou de costas para o monumento, mas estou na verdade dando as costas para a vida.

[...]

Talvez as coisas não sejam tão desesperadoras. Imagine-se que daqui a cem anos, depois de uma guerra atômica e de uma catástrofe climática que destruam o mundo civilizado, um pesquisador recupere os “selfies” e as fotos de batata frita.

“Como as pessoas eram felizes naquela época!” A alternativa seria dizer: “Como eram tontas! Dependerá, por certo, dos humores do pesquisador. COELHO, Marcelo. Disponível em: <http://www1 .folha. uol.com.br/fsp/ilustrad a/162525- selfies.shtml>. Acesso em 19 mar. 2017

A figura de linguagem, no trecho destacado em: “entre as quatro vigas curvas daquela CATEDRAL SEM CLERO E SEM PAREDES”, é:

Alternativas
Comentários
  • Gab: Letra B

    Antítese - Quando, em uma mesma oração, usamos termos que possuem sentidos contrários. Ex: O "Kelver" estava dormindo acordado na sala de aula.

    Metáfora - Ocorre quando é utilizada uma substituição de termos que possuem significados diferente, atribuindo a ele o mesmo sentindo. Ex: Meu pensamento é um rio subterrâneo.

    Anáfora - consiste em repetir uma palavra ou expressão a espaços regulares durante o texto. É muito comum nas trovas populares, cordéis e poemas. Ex: “Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
    Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
    Que ninguém mais deseja tanta poesia e sinceridade
    Que ninguém mais precisa tanto da alegria e serenidade”. (Vinícius de Moraes) 

    Polissíndeto - caracteriza-se pela repetição de um determinado conectivo entre palavras ou expressões. Ex: Ou você dá a festa, ou viaja, ou faz o curso. 

    Catacrese -  Não sabe o nome de alguma coisa e cria o nome. Ex: Olha aí o meu céu da boca.

     

     

     

     

  • não entendi o porquê do gabarito!

  • Nunca deixe de ler o texto! 

  •  Torre Eiffel - CATEDRAL SEM CLERO E SEM PAREDES - comparação implícita = metáfora.

  • GABARITO B METÁFORA-COMPARAÇÃO