SóProvas


ID
2437324
Banca
IBADE
Órgão
PC-AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Olhador de anúncio


      Eis que se aproxima o inverno, pelo menos nas revistas, cheias de anúncios de cobertores, lãs e malhas. O que é desenvolvimento! Em outros tempos, se o indivíduo sentia frio, passava na loja e adquiria os seus agasalhos. Hoje são os agasalhos que lhe batem à porta, em belas mensagens coloridas.

      E nunca vêm sós. O cobertor traz consigo uma linda mulher, que se apresta para se recolher debaixo de sua “nova textura antialérgica”, e a legenda: “Nosso cobertor aquece os corpos de quem já tem o coração quente”. A mulher parece convidar-nos: “Venha também”. Ficamos perturbados. Faz calor, um calor daqueles. Mas a página aconchegante instala imediatamente o inverno, e sentimo-nos na aflita necessidade de proteger o irmão corpo sob a maciez desse cobertor, e...

      Não. A mulher absolutamente não faz parte do cobertor, que é que o senhor estava pensando? Nem adianta telefonar para a loja ou para a agência de publicidade, pedindo endereço da moça do cobertor antialérgico de textura nova. Modelo fotográfico é categoria profissional respeitável, como outra qualquer. Tome juízo, amigo. E leve só o cobertor.

      São decepções de olhador de anúncios. [...].

      Mas sempre é bom tomar conhecimento das mensagens publicitárias. É o mundo visto através da arte de vender. “As lojas fazem tudo por amor". Já sabemos, pela estória do cobertormulher (uma palavra só) que esse tudo é muito relativo. "Em nossas vitrinas a japona é irresistível”. Então, precavidos, não passaremos diante das vitrinas. E essa outra mensagem é, mesmo, de alta prudência: “Aprenda a ver com os dois olhos”. Precisamos deles para navegar na maré de surrealismo que cobre outro setor da publicidade: “Na liquidação nacional, a casa x tritura preços”. Os preços virando pó, num país inteiramente líquido: vejam a força da imagem. Rara espécie animal aparece de repente: “Comprar na loja y é supergalinha-morta”.

      Prosseguimos, invocados, sonhando “o sonho branco das noites de julho”. “Ponha uma onça no seu gravador". “A alegria está no açúcar”. “Pneu de ombros arredondados é mais pneu”. “Tip-Tip tem sabor de céu”. “Use nossa palmilha voadora". “Seus pés estão chorando por falta das meias Rouxinol, que rouxinolizam o andar”. “Neste relógio, você escolhe a hora”. “Ponha você neste perfume”. “Toda a sua família cabe neste refrigerador e ainda sobra lugar para o peru de Natal". “Sirva nossa lingerie como champanha; é mais leve e mais espumante”.

      O olhador sente o prazer de novas associações de coisas, animais e pessoas; e esse prazer é poético. Quem disse que a poesia anda desvalorizada? A bossa dos anúncios prova o contrário. E ao vender-nos qualquer mercadoria, eles nos dão de presente “algo mais”, que é o produto da imaginação e tem serventia, as coisas concretas, que também de pão abstrato se nutre o homem.


 ANDRADE, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 151-2. 

Sobre o texto, leia as afirmativas.

I. É escrito em linguagem-padrão; possui um tom do discurso que varia entre o ligeiro e o polêmico, comum em crônicas.

II. Há nele caráter reflexivo e interpretativo, que parte de um assunto do cotidiano, um acontecimento banal.

III. Tem como intuito convencer o leitor, persuadi-lo a concordar com a ideia ou ponto de vista exposto.

IV. É injuntivo, pois possui a maioria dos verbos no imperativo.

Está correto apenas o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Texto injuntivo, é o tipo de texto que leva o leitor a mais que uma simples informação. Instrui o leitor! Não é o texto que argumenta, que narra, que debate, mas que leva o leitor a determinada orientação transformadora. O texto injuntivo-instrucional pode ter o poder de transformar o comportamento do leitor.

  • assertivas corretas

    I. É escrito em linguagem-padrão; possui um tom do discurso que varia entre o ligeiro e o polêmico, comum em crônicas.

    II. Há nele caráter reflexivo e interpretativo, que parte de um assunto do cotidiano, um acontecimento banal.

     

    eu discordo quando diz a assertiva diz ser" um acontecimento banal".

  • Gabarito: letra E.

     

    Não se trata de texto injuntivo, mas sim dissertativo.

    O texto injuntivo é representado, em geral, por um verbo no infinitivo. Incitam a ação. Em alguns casos, de textos mais longos, o imperativo é substituído por um "deve" ou outras construções de aconselhamento/orientação. Os textos injuntivos mais frequentas são: leis, bulas de remédios, cartilhas, textos de autoajuda, etc.

    O texto dissertativo expõe opiniões, pontos de vista sobre um determinado assunto. É um texto argumentativo, que tem como objetivo persuadir o leitor. Como o autor expõe uma posição crítica, o leitor também deve ter um olhar crítico para entender a posição do autor.

     

    Fonte: Português para Consursos Cespe - Professora Flávia Rita

  • Alguem sabe informar por que o inciso III está errado?

  • Faço a mesma pergunta de Andressa Queiroz

  • Andressa e Dawson, o texto não é injuntivo, pois ele não tem esse objetivo de convencimento próprio das propagandas, ele somente nos chama para uma reflexão acerca das mensagens publicitárias por meio de uma crônica. Ele não tem a intenção de nos convencer, pois não se trata ele (o texto acima) de uma mensagem publicitária.

  • PESSOAL QUAL O ERRO DO ITEM III?

  • PESSOAS, QUAL É O ERRO DO TERCEIRO ITEM ?

     

  • ITEM III

    Creio que o intem 3 vai ao encontro do 4, o texto injunitivo, informativo é o que convence pela intrução que traz ao leitor, o que faz também o dissertativo argumentativo. Dessa forma, uma cronica do cotidiano, gênero textual normalmente narrativo,não tem essa capacidade, de instruir como o injuntivo e o dissertativo; Sobre a cronica, falam os itens 1 e 2 que foi o gabarito.. Creio que seja isso. Bons estudos.

  • Conforme a explicação da professora Isabel Vega sobre o item III da questão, na crônica não há intuito de convencer o leitor, para o autor não é essa a importância, mas sim a de expor sua opinião sobre o assunto.

    Espero ter ajudado, BONS ESTUDOS NESSE DOMINGO DE SOL!!! :o

  • II. Há nele caráter reflexivo e interpretativo, que parte de um assunto do cotidiano, um acontecimento banal.

    Só errei porque a "II" estavá no final "um acontecimento banal".  Na hora em pensamento veio que "banal" era algo como: "perigoso" coisa assim...

    Procurando sobre a palavra "banal" no site https://www.significados.com.br/banal/ vi que

    " Banal significa aquilo que não tem originalidade, não tem valor, é comum. Banal é algo trivial, sem importância, é qualquer coisa a que não se dá nenhum valor. O termo pode ser usado para caracterizar ações que não tenham muita importância, objetos banais, situações banais ou mesmo atitudes banais e ainda pessoas banais. Tornar algo banal significa fazer algo se transformar em corriqueiro, sem muita importância.Ter atitude banal significa ter atitudes sem valor. O termo banal é utilizado há bastante tempo, desde a época dos senhores feudais. Originalmente, empregava-se o termo banal, a algum bem que pertencia ao senhor feudal e os vassalos se serviam sob o pagamento de um foro, por exemplo, um moinho banal. Banal é um galicismo (palavra ou expressão de origem francesa) que se fixou na língua portuguesa com o significado de "comum". "

    agora entedi porque a "II" esta certa!

  • creio que o terceiro item não seja como principal objeito convencer o leitor, mas sim fazê-lo adquirir um conhecimento que até então n tinha, típico de texto dissertativo expositivo/explicativo.

    Minha opinião, n sei se esta certo, mas entendi assim.

  • Só em saber que a "III" não faz sentido, ou seja, não se trata de um texto dissertativo-argumentativo, já daria pra matar a questão por eliminação de alternativas.