SóProvas


ID
247249
Banca
FCC
Órgão
TRT - 12ª Região (SC)
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Gilda de Mello e Souza dizia que o Brasil é muito bom
nas novelas. Para ter público, a novela precisa dispor de personagens
de todas as classes sociais, explicava ela, o que exige
uma trama complexa. Acrescento: a mobilidade social é decisiva
nas novelas e se dá sobretudo pelo amor entre ricos e
pobres. Provavelmente as novelas exibam casos de ascensão
social pelo amor - genuíno ou fingido - em proporção maior que
a vida real .... Mas a novela não é um retrato do Brasil, ou melhor,
é sim, mas como aqueles retratos antigos do avô e da avó,
fotografados em preto e branco, mas, depois, cuidadosamente
retocados e coloridos. O fundo é real. A tela: ideais, sonhos,
fantasias.
Novelas vivem de conflitos. Eles são movidos, quase
todos, pela oposição do bem e do mal. Esse confronto dramático
nos empolga. Talvez por isso a democracia não nos
empolgue tanto, no seu dia a dia: porque, nela, os conflitos são
a norma e não a exceção. Ela é o único regime em que divergir,
sem ter de se explicar e justificar, é legítimo. Quando uma
democracia funciona bem, não escolhemos em razão da honestidade
e competência - que deveriam existir nos dois ou mais
lados em concorrência - mas com base nos valores que preferimos,
por exemplo, liberalismo ou socialismo. Mas nossa
tendência, mesmo nas democracias, é converter as eleições em
lutas do bem contra o mal. É demonizar o adversário, transformá-
lo em inimigo. Creio que isso explica por que a democracia,
uma vez instalada, empolga menos que a novela. De
noite, dá mais prazer reeditar o *ágon milenar do bem e do mal,
do que aceitar que os conflitos fazem parte essencial da vida e,
portanto, as duas partes podem ter alguma razão. Aliás, há
muitos séculos que é encenada essa situação de confronto
irremediável entre dois lados que têm razão: desde os gregos
antigos, tem o nome de tragédia. A democracia é uma tragédia
sem final infeliz - ou, talvez, sem final.
As novelas recompensam, em geral, os bons. Mas eles
são bons só na vida privada. É difícil alguém se empenhar em
melhorar a cidade, a sociedade. As personagens boas são
afetuosas, solidárias, mas não têm vida pública. As personagens
más são menos numerosas, mas são indispensáveis.
Condimentam a trama. Seu destino é mais variado, e assim
deve ser, se quisermos uma boa novela. Não podem ser todas
punidas, nem sair todas impunes.


* ágon - elemento de origem grega: assembleia; local onde se realizam
jogos sacros e lutas; luta.

(Trecho do artigo de Renato Janine Ribeiro. O Estado de S.
Paulo, C2+música, D17, 11 de setembro de 2010, com
adaptações.)

A expressão em que preenche corretamente a lacuna da frase:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito D.
    Trazendo a alternativa D para ordem direta:
    "o autor projeta defeitos e virtudes da sociedade em formas de comportamento"

    Na ordem inversa é necessário usar o pronome relativo que, e este atrai a preposição para antes dele.
    Ex: O livro de que gosto. 
    Verbo gostar exige preposição e essa é atraída pelo pronome relativo que.

          
  • Por que não a letra A?

    Quanto à letra D pensei que o certo seria

    Formas de comportamento SOBRE AS QUAIS o autor projeta defeitos e virtudes da sociedade podem ser encontradas diariamente nas ruas.
  • Na alternativa (A), a oração subordinada adjetiva restritiva deve receber o pronome relativo “que” com preposição “com” Isso ocorre porque o verbo pronominal “se distraem” é intransitivo, o pronome “se” é parte integrante do verbo, as expressões “à noite”, “em suas casas” e “com que” são adjuntos adverbiais de tempo, lugar e modo, respectivamente. Por isso o pronome relativo é preposicionado. Veja:
    A trama das novelas transforma fatos reais em sonhos, com que muitos se distraem à noite, em suas casas.
    Na alternativa (B), a oração subordinada adjetiva restritiva deve receber o pronome relativo “que” sem preposição. Isso ocorre porque o verbo “marcaram está no plural por concordar com o sujeito “que”, o qual retomou o substantivo “propostas”. Note que a expressão “o andamento da trama novelesca” é o objeto direto.
    Após algum tempo, as pessoas esquecem as propostas que marcaram o andamento da trama novelesca, mesmo que tenha obtido sucesso.
    Na alternativa (C), o substantivo “fato” rege a preposição “de”, por isso a oração sublinhada abaixo é subordinada substantiva completiva nominal.
    Veja: Devemos estar atentos ao fato de que novelas, por serem instrumento de lazer, tendem a mostram visão fantasiosa do mundo.
    A alternativa (D) é a correta, pois a oração subordinada adjetiva restritiva deve receber o pronome relativo “que” precedido da preposição “em”, porque o verbo “projeta” é transitivo direto e indireto, o sujeito é o termo “o autor”, “defeitos e virtudes da sociedade“ é o objeto direto e o pronome relativo “em que” é o objeto indireto. Por isso deve ser precedido da preposição “em”. Veja:
    Formas de comportamento em que o autor projeta defeitos e virtudes da sociedade podem ser encontradas diariamente nas ruas.
    Na alternativa (E), o verbo pronominal “se referia” é transitivo indireto e rege a preposição “a”, por isso o pronome relativo deve ser precedido dessa preposição, por ser objeto indireto. Ele tem como sujeito o termo “o crítico”.
    Veja: As novelas a que o crítico se referia haviam discutido situações desagradáveis, que passam despercebidas para a maioria das pessoas.
    Fonte: Décio Terror - Ponto dos Concursos
    Bons estudos