SóProvas


ID
2485495
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
CAU-MG
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                  TRINTA ANOS DE UMA FRASE INFELIZ

      Ele não podia ter arrumado outra frase? Vá lá que haja perpetrado grande feito indo à Lua, embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver. Mas Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na Lua, precisava ter dito: “Este é um passo pequeno para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”? Não podia ter-se contentado com algo mais natural (“Quanta poeira” por exemplo), menos pedante (“Quem diria, conseguimos”), mais útil como informação (“Andar aqui é fácil/difícil; gostoso/dói a perna”) ou mais realista (“Estou preocupado com a volta”)?

      Não podia. Convencionou-se que eventos solenes pedem frases solenes. Era preciso forjar para a ocasião uma frase “histórica”. Não histórica no sentido de que fica guardada para a posteridade – a posteridade guarda também frases debochadas, como “Se eles não têm pão, comam brioches”. Histórica, no caso, equivale à frase edificante. É a história em sua versão, velhusca e fraudulenta, de “Mestra da Vida”, a História rebaixada a ramo da educação moral e cívica. À luz desse entendimento do que é “histórico”, Armstrong escolheu sua frase. Armstrong teve tanto tempo para pensar, no longo período de preparativos, ou outros tiveram tempo de pensar por ele, no caso de a frase lhe ter sido oferecida de bandeja, junto com a roupa e os instrumentos para a missão, e foi sair-se com um exemplar do primeiro gênero. Se era para dizer algo bonito, por que não recitou Shakespeare? Se queria algo inteligente, por que não encomendou a Gore Vidal ou Woody Allen?

                                                (Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 2000) 

Leia o trecho: “... embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver.”

O autor, com essa frase, expressa

Alternativas
Comentários
  • O contexto mais imediato e mínimo de “... embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver.” é o seguinte:

    "Ele não podia ter arrumado outra frase? Vá lá que haja perpetrado grande feito indo à Lua, embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver."

    O "embora" atribui uma ideia de concessividade à oração em análise; logo essa oração está em uma relação de concessão com a oração que lhe antecede (Vá lá que haja perpetrado grande feito indo à Lua). Assim, admite-se que "indo à Lua", ele (Neil Armstrong) tenha conseguido grande feito; e que esse grande feito não foi diminuído com o fato de que "tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver".

    Portanto,

    Admissão: ele conseguiu grande feito

    Concessão: soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver

    A admissão demarca algo positivo (ir à Lua); a concessão, algo negativo (soa exótico).

    A partir dessa reflexão, pode-se dizer que, com a frase: “... embora tal empreendimento soe hoje exótico como uma viagem de Gulliver.”, o autor expressa algo "negativo", ou seja, um obstáculo ao que se admite. A expressão comparativa "como uma viagem de Gulliver" parece ser algo bom, positivo; mas ela não pode nos enganar, pois está dentro da "concessão".

    As letras "b" e "d" são logo excluídas, pois denotam positividade: "importância capital" e "encantamento", ou seja aludem à admissão do fato (o grande feito de ir à Lua), não à concessão (soe exótico).

    Resta comparar as letras "a" e "c": a concessão do fato de que "ir à Lua hoje soe exótico" revela certa "incredulidade" ou "desilusão" do autor quanto à ida do homem à Lua?

    O sentido da palavra "exótico" é determinante para a solução da questão: exótico traz o sentido "de fora, exterior", sinônimo de "extravagante", "excêntrico". Assim, é como se o autor dissesse: "Ir à Lua hoje soa como algo de fora, não pertencente a nós, algo extravagante demais para admitirmos."

    Esse pensamento condiz mais com "desilusão" do que com "incredulidade", afinal não se duvida da possibilidade de "ir hoje à Lua", apenas considera tal ideia meio fora de mão. Portanto, anula-se também a letra "c".

  • Gabarito: C