SóProvas


ID
2494384
Banca
UTFPR
Órgão
UTFPR
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         A CARNE


    Temos, ai de nós, uma Polícia Federal satírica. Não sei se existe alguém na PF encarregado de dar codinomes aos seus investigados e nomes às suas operações. Se tiver, é um novo Jonathan Swift, um Voltaire redivivo. Deveria se identificar, para receber nossos aplausos. Essa de chamar de Carne Fraca a operação contra a corrupção nos frigoríficos e o escândalo dos fiscais da indústria de alimentos que recebiam propina para não fiscalizar nada é genial. A ação poderia se chamar Carne Podre, ou Nome aos Bois, mas aí não teria o mesmo valor literário e irônico. Carne Fraca é perfeito. Serviria mesmo para todo o conjunto das ações policiais e jurídicas a partir do começo da Lava Jato.

     A corrupção existe, afinal, porque a carne é fraca. Como disse o Oscar Wilde – outro que teria emprego garantido como frasista na Polícia Federal –, “eu resisto a tudo menos à tentação”. A tentação é demais. Somos pobres almas inocentes reféns da nossa própria carne e das suas fraquezas. De certa maneira, Carne Fraca é quase uma absolvição da corrupção epidêmica que assola o país. Rouba-se tanto porque a carne não se satisfaz com pouco, é incapaz de se contentar com o que já tem. Porque a carne é insaciável.

     Nenhum corrupto racionaliza a sua fome de ter mais, sempre mais. Nenhum decide: quero tanto e chega. Tenho um Lanborghini e dois Porsches, um para cada pé, piscina aquecida em forma de trevo, uma mulher com menos dedos e orelhas do que o necessário para usar todas as joias que lhe dou, contas na Suíça e em Liechtenstein, apartamento em Palm Beach – e pronto. Não preciso de nem um centavo a mais.

      O centavo a mais é a perdição dos nossos corruptos.O centavo a mais é a tentação irresistível de Wilde resumida numa frase. O centavo a mais é uma metáfora para o excesso., para não saber quando parar. É difícil identificar o momento em que a ganância transborda e o centavo a mais bate na porta do corrupto e o leva coercitivamente para a cadeia, o corte zero do seu cabelo, as manchetes dos jornais e a execração pública. É um pouco como o paradoxo do balão: só se descobre a capacidade máxima de um balão, o ponto em que um sopro a mais o estouraria, quando o sopro a mais é dado e ele estoura. Só se descobre quando era o momento de parar de roubar quando o momento já passou.

      “Carne Fraca” tem algo até de carinhoso, na sua ironia. A Polícia Federal, ou o autor do nome da operação, reconhece que não é fácil deixar de roubar, com tanto dinheiro voando por aí, com tantas oportunidades que o Brasil oferece para a maracutaia e o molha a mão. O que Carne Fraca diz é que a Polícia Federal não perdoa, mas entende.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. A carne. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 14. 23 março 2017.

Nos textos produzidos no ambiente profissional, utiliza-se uma linguagem objetiva, denotativa, preocupada em transmitir conteúdo, sem figuras de linguagem. O texto “A carne” está eivado de uma determinada figura. Assinale a alternativa que indica qual é essa figura.

Alternativas
Comentários
  • A ação poderia se chamar Carne Podre, ou Nome aos Bois, mas aí não teria o mesmo valor literário e irônico.

    O próprio texto traz expressamente a figura de linguagem.

  • Polícia Federal não perdoa, mas entende.
     

     

  • "A ironia (do grego antigo εἰρωνεία, transl. eironēia, 'dissimulação') é uma forma de expressão literária ou uma figura de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância entre aquilo que dizemos e que realmente pensamos. "

    Não consegui ver ironia aí não... alguém???

  • " Deveria se identificar, para receber nossos aplausos" Ironia

  • “Carne Fraca” tem algo até de carinhoso, na sua ironia. A Polícia Federal, ou o autor do nome da operação, reconhece que não é fácil deixar de roubar, com tanto dinheiro voando por aí, com tantas oportunidades que o Brasil oferece para a maracutaia e o molha a mão. O que Carne Fraca diz é que a Polícia Federal não perdoa, mas entende.

  • " Deveria se identificar, para receber nossos aplausos" 
    Isto não é ironia... o autor realmente gostou do nome dado a operação. Talvez tem um exagero, mas exagero não é ironia.

    Sim, o autor falou "ironia" realmente, então talvez resta-nos a acreditar. Mas... fora isto... não vejo ironia não.

  • Metáfora  -  Tempo é dinheiro.

    A metáfora é um tipo de comparação, mas sem os termos comparativos (tal comocomosão comotanto quanto, etc). Na metáfora, a comparação entre dois elementos está implícita, trazendo uma relação de semelhança entre eles. 

     

    Comparação - Tempo é como dinheiro.

    A comparação consiste na aproximação entre dois objetos por meio de uma característica semelhante entre eles, dando a um as características do outro. Difere da metáfora porque possui, obrigatoriamente, termos comparativos. Em suma, é uma comparação explícita. Exemplo:

     

    Metonímia - Não leu Machado de Assis.

    É a substituição de uma palavra por outra sendo que, entre ambas, há uma proximidade de sentidos, uma relação de implicação. Exemplos:

     

    Antítese

    A antítese consiste no uso de palavras, expressões ou ideias que se opõem. Exemplo:

     

    Paradoxo

    Paradoxo é a presença de elementos que se anulam numa frase, trazendo à tona uma situação que foge da lógica. Exemplo:

    Amor é fogo que arde sem se ver;
    É ferida que dói e não se sente;
     

     

    Personificação (ou prosopopeia)

    A personificação, também chamada prosopopeia, consiste na atribuição de características humanas, como sentimentos, linguagem humana e ações do homem, a coisas não-humanas. Exemplo:

    Congresso Internacional do Medo

     

     

    Hipérbole

    Esta figura de linguagem consiste no emprego de palavras que expressam uma ideia de exagero de forma intencional. Exemplo:

    Ela chorou rios de lágrimas.

     

    Eufemismo

    O eufemismo ocorre quando utilizamos palavras ou expressões que atenuam e substituem outras que produzem um efeito desagradável e chocante. Exemplos:

    Faltei com a verdade ao dizer que fui à igreja.

     

     

    Ironia

    É a expressão de ideias com significado oposto ao que se realmente pensa ou acredita.

     

     

     

    Elipse

    Temos elipse quando, em um texto, alguns elementos são omitidos sem ocasionar a perda de sentido, uma vez que as palavras omitidas ficam subentendidas através do contexto. 

    Ela está passando mal! Depressa, um médico!

     

     

     

    Zeugma

    É parecido com a elipse, no entanto, só podemos identificar desta forma esta figura de linguagem quando há omissão de algo que já foi expresso no texto. Sabemos que o termo foi omitido porque já foi apresentado

     

    Pleonasmo

    Repetição de uma ideia por meio de outras palavras. É utilizado como forma de ênfase e, além de ser figura de linguagem, é classificada como vício

     

    Polissíndeto

    Consiste na repetição de conjunções para garantir um texto mais expressivo. Exemplo:

     

    Assíndeto

    O assíndeto ocorre quando há omissão das conjunções. Exemplo:
    Barbeio-me, visto-me, calço-me.

     

    Onomatopeia

    Temos onomatopeia quando há o uso de palavras que reproduzem os sons de seres vivos e objetos. É mais comum em história em quadrinhos.

     

    Sinestesia

    A sinestesia traz textos que expressam as sensações humanas, com o cruzamento de palavras referentes aos cinco sentidos. 

    Agora, o cheiro áspero das flores

  • Notei um eufemismo na expressão "o centavo a mais" usada diversas vezes no texto. É um eufemismo pra roubalheira generalizada.

  • A ironia está no tom complacente para com os corruptos.

  • Gab.: D

    Ironia.