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ID
2495932
Banca
PUC-PR
Órgão
TJ-MS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                    TEXTO I

      Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não parecia compreender que estava só no mundo. Os olhos lacrimejavam sempre, as mãos repousavam sobre o vestido preto e opaco, velho documento de sua vida. No tecido já endurecido encontravam-se pequenas crostas de pão coladas pela baba que lhe ressurgia agora em lembrança do berço. Lá estava uma nódoa amarelada, de um ovo que comera há duas semanas. E as marcas dos lugares onde dormia. Achava sempre onde dormir, casa de um, casa de outro. Quando lhe perguntavam o nome, dizia com voz purificada pela fraqueza e por longuíssimos anos de boa educação:

- Mocinha.

As pessoas sorriam. Contente pelo interesse despertado, explicava:

- Nome, nome mesmo, é Margarida.

(…)

LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina: contos. Rio de Janeiro. Rocco, 1998, p. 29.  


                                                 TEXTO II

(…)

- Bem, pode ser assim e pode não ser. Agora, tudo pronto. Dá um passo pra frente, George Jackson. E atenção, sem pressa... venha bem devagar. Se tem alguém com você, que ele fique atrás... se ele se mostrar vai levar um tiro. Venha agora. Devagar, empurra a porta pra abrir, você mesmo... uma fresta apenas para entrar se espremendo, entende?

Não me apressei, não ia dar, mesmo querendo. Dei uma passo lento de cada vez, e não tinha nenhum barulho, achei que escutava só o meu coração. Os cachorros tavam tão quietos como os humanos, mas seguiam um pouco atrás de mim. Quando cheguei nos três degraus de tora, escutei as pessoas destrancando, tirando a barra de ferro e o ferrolho. Coloquei a mão na porta e empurrei um pouco e um pouco mais, até que alguém disse: “Aí, já tá bom – bota a cabeça pra dentro”. Enfiei a cara na fresta, mas achava que eles iam cortar minha cabeça fora.

A vela tava no chão, e ali estavam todos eles, olhando pra mim, e eu pra eles, durante um quarto de minuto. Três homens grandes com espingardas apontadas para mim, o que me fez tremer, vou lhe contar. O mais velho, grisalho e com uns sessenta anos, os outros dois com trinta ou mais – todos refinados e bonitos – e uma senhora grisalha muito doce, e atrás dela duas jovens que eu não conseguia ver direito.

TWAIN, Mark. As aventuras de Huckleberry Finn. Trad. Rosaura Eichenberg. Porto Alegre: L&PM. 2011, p.112.  

A exploração das percepções sensoriais é utilizada tanto em textos literários como do cotidiano para ampliar a expressividade do que se diz. Sobre esse assunto, avalie os enunciados a seguir, transcritos de dois clássicos literários, e marque a alternativa CORRETA.

Alternativas
Comentários
  • a) correta

    b) " amarelada" visual

    c) "barulho" "escutava" auditiva

    d) "Coloquei a mão (...)" "Empurrei" tátil

    e) "doce" gustativa

  • nódoa

    substantivo feminino

    1.pequeno sinal ou espaço de cor diferente numa superfície de cor uniforme, deixado por substância que tinge ou suja; mancha.

    "está com uma n. de vinho na camisa"

  • “Aí, já tá bom – bota a cabeça pra dentro”. (percepção presente na descrição: visual.) Essa frase no fim, na minha concepção foi de cunho visual. e o "doce" da letra A não me pareceu de cunho "gustativo".

  • Não concordo com esse gabarito! Pelo que entendi então não precisa ter um sentido no texto! Se analisar o real sentido esse ''doce'' não está no sentido de gustativo!

  • Não consigo visualizar o "doce" expresso na letra "a" como gustativa. Questão estranha. 

  • doce é sentido gustativo nessa frase? que pachorra é essa? provaram a velhinha?

  • ao nível desse gabarito KKKKKKKKKKKKKKKKKK a velha doce (sentido conotativo, pode significar fofa, dócil, etc.) é para a banca sentido gustativo, deve que a narradora lambeu a velha e sentiu o gosto de açúcar kkkkkkkkkkkkkkkk