SóProvas


ID
2503522
Banca
Nosso Rumo
Órgão
CREA-SP
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Soberania


      Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação.

      Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio. E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das ideias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber.

      Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase: A imaginação é mais importante do que o saber. Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas.

      E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bem-te-vi.

Manoel de Barros. Texto extraído do livro (caixinha) Memórias InventadasA Terceira Infância, Editora Planeta – São Paulo, 2008. 

De acordo com o texto, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • c) o narrador concluiu que os eruditos esqueciam-se das coisas mais singelas.. ERRADO

    "...Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. (MAS) Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein)..." ==> Ele mudou de opinião quando conheceu Einstein.

     

     d) uma das coisas que o narrador fez foi trazer um pouco de candura (= INOCÊNCIA) às coisas eruditas. CERTO

    "...Botei um pouco de inocência na erudição..."

  • a) o narrador constrói seus devaneios de acordo com histórias que retira de livros de literatura.

    Errada: Os devaneios vêm das suas histórias -1§;

     

    b) os pais do narrador o repreendiam por fazer analogias esdrúxulas às coisas cotidianas.

    Errado: “A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada”. 1§;

     

    c) o narrador concluiu que os eruditos esqueciam-se das coisas mais singelas.

    Errado: Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Não esqueciam sempre, mas somente nas altas abstrações

     

     

    d) uma das coisas que o narrador fez foi trazer um pouco de candura às coisas eruditas.

    CERTO: Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo.

     

    e) o ser humano não possui literalmente leveza, motivo pelo qual não poderia ser um bem-te-vi.

    Errado: E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bem-te-vi.