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ID
2507326
Banca
PM-MG
Órgão
PM-MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

SEGURANÇA

            O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados. 

            Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

            Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

            Mas os assaltos continuaram. 

            Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordem de atirar para matar. 

            Mas os assaltos continuaram.

            Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas. 

            Mas os assaltos continuaram.

          Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle de saídas. Para sair, só com exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno. 

            Mas os assaltos continuaram.

         Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

            E ninguém pode sair.

        Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa, olhando melancolicamente para a rua. 

            Mas surgiu outro problema. 

            As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

            A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola; RJ: Objetiva, 2001.



O MEDO QUE DIVIDE OS DOIS BRASIS

            A primeira reação à estridência em torno do banditismo é o medo. Do medo à defesa pessoal o passo é pequeno. E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos. 

            Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser. O que não se explica é como será o país que se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. Não existe país viável baseado na exclusão de uma categoria de cidadãos. [...] A segregação e a exclusão não podem ser as vigas mestras para fazer uma civilização democrática. 

            As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou de triliardários. Os problemas das grandes cidades do Brasil não são simplesmente policiais ou urbanos. São problemas sociais. A concentração de renda, os desníveis nas condições de vida, os extremos de riqueza e pobreza abrem um fosso dividindo o país. Fazendo com que uma parte tenha medo da outra. O desafio, portanto, é de outra natureza: em vez de separar com muros, é preciso juntar os Brasis, fazê-lo justo e democrático.


Revista Veja, 23/11/1994.


Identifique a ideia, ou as ideias, do texto “O medo que divide os dois Brasis” que tem/têm relação com o texto “Segurança”.


I - “E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos. ”

II - “Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser.”

III - “O que não se explica é como será o país que se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. ”

IV - “As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos...”


São ideias do texto “O medo que divide os dois Brasis” relacionadas ao texto “Segurança”.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra D

  • GAB D

    APENAS I, III e IV.

  • Só de ler a segunda ideia ja matava a questão.
    "Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser."
    Em momento algum no texto  SEGURANÇA, fala sobre a polícia se misturar com a bandidagem.

  • "Que o medo tem razão de ser." Não tem relação com o texto anterior?

  • que momento o texto 1 fala de guetos?

  • Eu entendi o seguinte:

    I - todos os dois textos fazem menção ao exagero de segurança, isso está expresso nos dois textos.

    II - apenas o textos 2 fala de corrupção dos policiais, mas no texto 1, diz que os guardas não aceitavam suborno, ou seja, o texto 1 está contrapondo o texto 2, logo, não há relação.

    III - ''muros cada vez mais altos'', está expresso nos dois textos.

    IV- ''não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou de triliardários''(frase do texto 2). NO TEXTO 1, houve a criação de um gueto triliardários, e não foi a solução para o problema social.

    Entendi que o ponto principal que causa a insegurança, está nos problemas de diferenças sociais, ''concentração de renda, os desníveis nas condições de vida, os extremos de riqueza e pobreza abrem um fosso dividindo o país. Fazendo com que uma parte tenha medo da outra." OU seja, parece que o inciso IV,(texto 2), é o oposto do texto 1, mas na verdade, o texto 1 confirma o que é dito no texto 2. No texto 1, fala que mesmo "separando os brasis" não resolveu o problema, e no texto 2, diz justamente isso, que a separação não traz a solução do problema.

    Portanto, o inciso IV, tem relação com os dois textos.

    TEXTO 1 - gueto triliardários, não deu certo, não foi solução.

    TEXTO 2 - não é solução a exclusão, a segregação.

    Explicando um pouco mais:

    TEXTO 1

    "Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa,.."

    ". As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima."

    TEXTO 2

    ''O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou de triliardários.''

    CONCLUSÃO

    Houve a criação de gueto triliardários no texto 1. E que a propósito, não resolveu a raiz do problema.

    É justamente isso que é dito no texto 2, que Não existe país viável baseado na exclusão de uma categoria de cidadaos. [...] A segregação e a exclusão não podem ser as vigas mestras para fazer uma civilização democrática.

    NOTOU A RELAÇÃO ?

    Obs. Mas só de ter certeza que o inciso II não tem relação com os dois textos, por eliminação, chegaria ao gabarito correto letra D.