Os versos do trecho I pertence ao poema "As cismas do destino" de Augusto dos Anjos
I
Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!
Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia... O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.
Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte.
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!
[...]
Poeta pré-modernista
Augusto dos Anjos vivenciou a época do parnasianismo e simbolismo e das influências destas escolas literárias através de seus escritores, como: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Cruz e Souza, Graça Aranha, dentre outros. Porém, o único livro do escritor, intitulado “Eu”, trouxe inovação no modo de escrever, com idéias modernas, termos científicos e temáticas influenciadas por sua multiplicidade intelectual. Pela divergência dos assuntos tratados pelo autor em seus poemas em relação aos dos autores da época, Augusto dos Anjos se encaixa na fase de transição para o modernismo, chamada de pré-modernismo.
http://brasilescola.uol.com.br/literatura/augusto-dos-anjos-1.htm
IV
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar nessa festa
Em manto impuro de bacante* fria!...
Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta
Que impudente* na gávea tripudia?! ...
Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto,
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Castro Alves - Navio Negreiro. Terceira fase do Romantismo brasileiro
III
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Raimundo Correira - Parnasianismo Brasileiro. Não necessariamente revela um controle da emoção. Exauta. Não há tanto preocupação com o conteúdo e sim com a forma.
III
O Eden alli vai n’aquella errante
Ilhinha verde – portos venturosos
Cantando à tona d’água, os tão mimosos
Simplices corações, o amado, o amante.
Sousândrade - Terceira geração romântica brasileira.
Inscrito cronologicamente dentro do movimento romântico, Sousândrade não escapou plenamente desse ideário. Na concepção de Williams (1976, p. 75), “Sousândrade foi um poeta romântico, modelado e desenvolvido pelo romantismo nacional e internacional”. Se pensarmos Sousândrade pelo prisma romântico, podemos perceber em sua obra a marca de sua época. A constante aproximação do cenário exótico da “pátria” ao jardim do Éden, ponto de pureza natural presente no livro do Gêneses, leva a uma idealização tipicamente romântica, pois o território nacional é comparado a um elemento de absoluta pureza. Tal postura implica um nacionalismo latente, pois o elemento natural, visto como ponto de afirmação da individualidade, passa a ser adorado enquanto índice de brasilidade.