Mãe, noooosssa! Esse seu cabelo novo ficou lindo! Parece que você é, tipo, mais jovem!
– Jura, minha filha? Obrigada!
– Mas aí você vira de frente e aí a gente vê que, tipo, não é, né?
Coisa linda da mamãe! Esse diálogo é real. Claro que achei graça, mas o fato de envelhecer já não é mais segredo para ninguém.
Um belo dia, a vendedora da loja te pergunta: “A senhora quer pagar como?” Senhora? Como assim? Eu sempre fui a Marcinha! Agora eu sou a dona Márcia! Sim, o porteiro, o motorista de táxi, o jornaleiro, o garçom, o mundo inteiro resolveu ter um respeito comigo que eu não pedi!
[...]
Acho um perigo esconder a idade, podem fazer as contas para mais. E certos procedimentos para esticar o rosto podem ser um desastre, basta assistir ao Oscar para perceber que quase todas deram uma passadinha no dr. Ray antes da cerimônia. No desespero para rejuvelhecer, o excesso de plástica, botox e outros tratamentos estéticos simplesmente transformam essas mulheres em seres sem idade, sem rugas, mas sem juventude também.
Não, não se envelhece aos poucos, é de um dia para o outro, você é apanhada de surpresa, o manequim é 38, mas a pele é 40. Estranho, muito estranho. Uma corrida na praia pode virar uma tarefa hercúlea. A minissaia é definitivamente aposentada, e se tem desejo que inventem um impossível biquíni de calça comprida ou uma água mineral que venha acoplada com um pé-de-cabra para que senhoras consigam abri-las com mais facilidade. Na academia de ginástica, sem dúvida, o que mais se exercita é a humildade. É melhor não olhar para o lado, pode ser fatal. Numa conversa, invariavelmente, aparece aquela frase: “Aquele ator... que fez aquele filme, o..., o..., daquele diretor, o...”, alguém mais jovem certamente vai lembrar. Duro também é voltar a pé para casa, crente que está abafando porque está fazendo um exercício a mais e no dia seguinte achar que o carro foi roubado na garagem do prédio, mas a verdade é que foi esquecido no estacionamento mais caro de Ipanema, 24 horas antes. Legal.
Todas essas coisas acontecem realmente, mas o que há de mais intrigante é que, apesar das aparências, continuamos a viver todas as idades. A menina de 7 anos decepcionada por descobrir que Papai Noel não existe continua se decepcionando com pessoas que não são o que pareciam ser; a de 15 apreensiva com o primeiro amor está aqui; a de 20 vestida de abelha e com medo de esquecer as falas do personagem da estreia está intacta e presente em toda estreia; e a de 30 com vergonha das pernas finas está mais do que viva.
O envelhecimento é uma vantagem e tanto, comparada à segunda opção. Mas cada vez mais me convenço de que não é só isso. O mais divertido é a farra de garotas dentro de mim. Viva elas!
CABRITA, Márcia. Istoé, 23 mar 2012. Acesso em 23 mar 2012 . (Texto adaptado)