SóProvas


ID
2560570
Banca
IESES
Órgão
IGP-SC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Nesta prova, considera-se uso correto da Língua Portuguesa o que está de acordo com a norma padrão escrita.

Leia o texto a seguir para responder a questão sobre seu conteúdo. 


                                           DIÁLOGO DE SURDOS

Por: Sírio Possenti. Publicado em 09 mai 2016. Adaptado de: http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/4821/n/dialogo_de_surdos Acesso em 30 out 2017. 


       A expressão corrente trata de situações em que dois lados (ou mais) falam e ninguém se entende. Na verdade, esta é uma visão um pouco simplificada das coisas. De fato, quando dois lados polemizam, dificilmente olham para as mesmas coisas (ou para as mesmas palavras). Cada lado interpreta o outro de uma forma que este acha estranha e vice-versa. 

       Dominique Maingueneau (em Gênese dos discursos, São Paulo, Parábola) deu tratamento teórico à questão (um tratamento empírico pode ser encontrado em muitos espaços, quase diariamente). [...]

       Suponhamos dois discursos, A e B. Se polemizam, B nunca diz que A diz A, mas que diz “nãoB”. E vice-versa. O interessante é que nunca se encontra “nãoB” no discurso de A, sempre se encontra A; mas B não “pode” ver isso, porque trairia sua identidade doutrinária, ideológica. 

       Um bom exemplo é o que acontece frequentemente no debate sobre variedades do português. Se um linguista diz que não há “erro” em uma fala popular, como em “as elite” (que a elite escreve burramente “a zelite”, quando deveria escrever “as elite”), seus opositores não dirão que os linguistas descrevem o fato como uma variante, mostrando que segue uma regra, mas que “aceitam tudo”, que “aceitam o erro”. O simulacro consiste no fato de que as palavras dos oponentes não são as dos linguistas (não cabe discutir quem tem razão, mas verificar que os dois não se entendem). 

        Uma variante da incompreensão é que cada lado fala de coisas diferentes. 

        Atualmente, há uma polêmica sobre se há golpe ou não há golpe. Simplificando um pouco, os que dizem que há golpe se apegam ao fato de que os dois crimes atribuídos à presidenta não seriam crimes. Os que acham que não há golpe dizem que o processo está seguindo as regras definidas pelo Supremo. 

        Um bom sintoma é a pergunta recorrente feita aos ministros do Supremo pelos repórteres: a pergunta não é “a pedalada é um crime?” (uma questão mérito), mas “impeachment é golpe?”. Esta pergunta permite que o ministro responda que não, pois o impedimento está previsto na Constituição. 

        Juca Kfouri fez uma boa comparação com futebol: a expulsão de um jogador, ou o pênalti, está prevista(o), o que não significa que qualquer expulsão é justa ou que toda falta é pênalti... 

        A teoria de Maingueneau joga água na fervura dos que acreditam que a humanidade pode se entender (o que faltaria é adotar uma língua comum, quem sabe o esperanto). Ledo engano: as pessoas não se entendem é falando a mesma língua. 

        Até hoje, ninguém venceu uma disputa intelectual (ideológica) no debate. Quando venceu, foi com o exército, com a maioria dos eleitores ou dos... deputados. 

                             Sírio Possenti Departamento de Linguística Universidade Estadual de Campinas 

Observe o emprego ou ausência do sinal indicativo de crase nas proposições que seguem, de acordo com a norma padrão:


I. Às pessoas é dada a opção de questionar as leis vigentes.

II. Às vezes que tivemos problemas quanto à distribuição de verbas já foram mencionadas.

III. Ignorou as formas de fazer referência a situações controversas tal como a apresentada à sua avaliação.

IV. Não há, àqueles que queiram se manifestar, tal possibilidade.


Estão corretas quantas das proposições? Assinale a alternativa que contenha essa resposta:

Alternativas
Comentários
  • Gab A (a II está errada)

  • I - CERTO;

     

    II - ERRADO: As vezes = As ocasiões/situações, portanto AS é artigo definido e não leva crase.

     

    III- CERTO;

     

    IV- CERTO;

     

    GABARITO: LETRA A

  • Item II - ERRADO

    Às vezes, com acento grave, é uma locução adverbial de tempo, indicando algo que acontece apenas em algumas ocasiões. É sinônimo de: de vez em quando, ocasionalmente, de quando em quando e por vezes.

     

    As vezes, sem acento grave, sendo a junção do artigo definido plural as com o substantivo feminino plural vezes, é uma expressão sinônima de: as ocasiões, os momentos e as ocorrências.

     

    https://duvidas.dicio.com.br/as-vezes-ou-as-vezes/

  • I. Às pessoas é dada a opção de questionar as leis vigentes. Correto. Dar é VTDI. Tem como complementos verbais: (algo - OD) a opção de questionar as leis vigentes e (a alguém - OI) às pessoas. 

     

    III. Ignorou as formas de fazer referência a situações controversas tal como a apresentada à sua avaliação. Correto. Nesse caso basta trocarmos a expressão '' a sua avaliação '' por palavra masculina. Assim, fica fácil observar a exigência da preposição ''a'' pela palavra apresentada. ....... tal como a apresentada Ao homem/Ao empresário... Tendo em vista que o emprego do artigo é facultativo antes do pronome possessivo sua, o emprego da crase está correta (junção da preposição exigida pelo nome + presença do artigo antes do pronome).

     

    IV. Não há, àqueles que queiram se manifestar, tal possibilidade. Correta. Aqui segue a mesma regra da alternativa III, só que o complemento nominal está deslocado, colocando-o na ordem direta e substituindo o pronome demonstrativo por palavra masculina temos: Não há tal possibilidade Aos homens/Aos empresários que queiram se manifestar. Logo, existe crase em decorrência da fusão da preposição ''a''  exigida pelo substantivo possibilidade mais o pronome demostrativo

  • I. Às pessoas é dada a opção de questionar as leis vigentes.

    A opção é dada a + as pessoas.

    II. As vezes (ocasiões) que tivemos problemas quanto à distribuição de verbas já foram mencionadas.

    III. Ignorou as formas de fazer referência a situações controversas tal como a apresentada à sua avaliação.

    IV. Não há, àqueles que queiram se manifestar, tal possibilidade.

    Não há possibilidade a + aqueles que queiram se manifestar.