SóProvas


ID
2580328
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Maringá- PR
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                             Oh! Minas Gerais

                        O irresistível sotaque dos mineiros me encanta.


      Sei que deveria ir mais a Minas Gerais do que vou, umas duas, três vezes ao ano. Pra rever meus parentes, meus amigos, pra não perder o sotaque.

      Sotaque que, acho eu, fui perdendo ao longo dos anos, desde aquele 1973, quando abandonei Belo Horizonte pra ir morar a mais de dez mil quilômetros de lá.

      Senti isso quando, outro dia, pousei no aeroporto de Uberlândia e fui direto na lanchonete comer um pão de queijo que, fora de brincadeira, é mesmo o mais gostoso do mundo.

      - Cê qué qui eu isquento um tiquinho procê?

      Foi assim que a mocinha me recebeu, quase de braços abertos, como se fosse uma amiga íntima de longo tempo.

      Sei não, mas eu acho que o sotaque mineiro aumentou – e muito – desde que parti. Quando peguei o primeiro avião com destino à felicidade, todos chamavam o centro de Belo Horizonte de cidade. O trólebus subia a Rua da Bahia, as pessoas tomavam Guarapan, andavam de Opala, ouviam Fagner cantando Manera Fru Fru, Manera, chamavam acidente de trombada e a polícia de Radio Patrulha.

      Como pode, meu filho mais velho, que nasceu tão longe de Beagá, e, que hoje mora lá, me ligar e perguntar:

      - E ai pai, tudo jóia, tudo massa?

      A repórter Helena de Grammont, quando ainda trabalhava no Show da Vida, voltou encantada de lá e veio logo me perguntar se o sotaque mineiro era mesmo assim ou se estavam brincando com ela. Helena estava no carro da Globo, procurando um endereço perto de Belo Horizonte, quando perguntou para um guarda de trânsito se ele poderia ajudá-la. A resposta veio de imediato.

      - Cê ségui essa istrada toda vida e quando acabá o piche, cê quebra pra lá e continua siguino toda vida!

      Já virou folclore esse negócio de mineiro engolir parte das palavras. Debaixo da cama é badacama, conforme for é confórfô, quilo de carne é kidicarne, muito magro é magrilin, atrás da porta é trádaporta, ponto de ônibus é pôndions, litro de leite é lidileiti, massa de tomate é mastumati e tira isso daí é tirisdaí.

      Isso é verdade. Um garoto que mora em São Paulo foi a Minas Gerais e voltou com essa: Lá deve ser muito mais fácil aprender o português porque as palavras são muito mais curtas.

      Mineiro quando para num sinal de trânsito, se está vermelho, ele pensa: Péra. Se pisca o amarelo: Prestenção. Quando vem o verde: Podií.

      Mas não é só esse sotaque delicioso que o mineiro carrega dentro dele. Carrega também um jeitinho de ser.

      A Gabi, amiga nossa mineira, que mora em São Paulo há anos, toda vez que vem, aqui em casa, chega com um balaio de casos de Minas Gerais.

      Da última vez que foi a Minas, ela viu na mesa de café da tia Teresa uma capinha de crochê, cobrindo a embalagem do adoçante. Achou aquilo uma graça e comentou com a tia prendada. Pra quê? Tem dias que Teresa não dorme, preocupada querendo saber qual é a marca do adoçante que a Gabi usa, pra ela fazer uma capinha igual, já que ela gostou tanto. Chega a ligar interurbano pra São Paulo:

      - Num isquéci de mi falá a marca do seu adoçante não, preu fazê a capinha de crocrê procê...

      Coisa de mineiro.

      Bastou ela contar essa história que a Catia, outra amiga mineira – e praticante – que estava aqui em casa também, contar a história de um doce de banana divino que comeu na casa da mãe, dona Ita, a última vez que foi lá. Depois de todos elogiarem aquele doce que merecia ser comido de joelhos, ela revelou o segredo:

      - Cês criditam que eu vi um cacho de banana madurin, bonzin ainda, no lixo do vizinho, e pensei: Genti, num podêmo dispidiçá não!

      Mais de quarenta anos depois de ter deixado minha terra querida, o jeito mineiro de ser me encanta e cada vez mais.

      Quer saber o que é ser mineiro? No final dos anos 80, quando o meu primeiro casamento se acabou, minha mãe, que era uma mineira cem por cento, queria saber se eu já “tinha outra”, como se diz lá em Minas Gerais. Um dia, cedo ainda, ela me telefonou e, ao invés de perguntar assim, na lata, se eu já tinha um novo amor, usou seu modo bem mineiro de ser:

      - Eu tava pensâno em comprá um jogo de cama procê, mas tô aqui sem sabê. Sua cama nova é di casal ou di soltero?


ADAPTADO. VILLAS, Alberto. Oh! Minas Gerais. In: Carta Capital. Publicado em 10 fev. 2017. Disponível em https://www.cartacapital.com. br/cultura/oh-minas-gerais.  

Considerando o texto Oh! Minas Gerais, em relação à variedade linguística, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • A questão trata-se do assunto de variação linguística que:

     

    -  A língua que "cria" termos e nomeia seres, objetos etc.

     

    Tipos de variações:

     

    Variação Diastrática

    - Social
    - Cultural

     

     

    Variação Diafásica

    - Situacional

    - Expressiva

     

     

    Variação Diatópica: Condiz com a letra A que é o gabarito

    - Geográfica
    - Regional

     

     

     

     

    Variação Diacrônica

    - Histórica
    - Com o tempo o termo  Vossa mercê foi se modificando, virou Vosmecê e agora é você.

     

     

     

     

    Fonte: Meu mapa mental

    https://uploaddeimagens.com.br/imagens/variacao_linguistica-png

  • Variação linguística:

    --> Variação diacrônica: aquela que varia no tempo. Ex: gírias.

    --> Variação diatópica: varia no espaço (lugar); regionalismos.

    --> Variação diastrática: varia entre as camadas sociais.

    --> Variação diamésica/diafásica: variação entre a língua falada e escrita; entre gêneros textuais.

     

    https://pt.slideshare.net/PROFESSORACLEIA/variao-lingustica-12108311

  • ''Já virou folclore esse negócio de mineiro engolir parte das palavras''.

  • Variações diatópicas

    Representam as variações que ocorrem pelas diferenças regionais.

     

    Variações históricas

    Como já foi dito, a língua é dinâmica e sofre transformações ao longo do tempo.

     

    Variações diastráticas

    São as variações ocorridas em razão da convivência entre os grupos sociais. 

     

    Variações diafásicas

    São as variações que se dão em função do contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo como falaremos com o nosso interlocutor, podendo ser formal ou informal

  • Diatópica = relacionada a questão geográfica

    Diastrática = Variação social

    Diafásica = Formalidade

    Diamésica = escrita e falada

    Paramétrica = redução de palavras

  • A AOCP adora cobrar esses "TREM" que nenhuma outra banca cobra...

  • Putzzz.......aí apelou mesmo, hein !!!

     

  • Amei o texto!!! ♥

  • Nunca nem vi!

  • Jesus, olha só essa questão?! Concurso está cada vez mais complicado rsrsrsrs

  • Texto maravilhoso,

    Questão diatópica, diastrática, diafásica, diamésica ou diabólica?

     

    SOCORRO

  • Variação Linguística (ponto do edital do TRT-RJ):

    - DIATÓPICA = região geográfica (norte/sul do país)

    - DIASTRÁTICA = grupo social (advogado/surfista/políticos/religiosos)

    - DIAFÁSICA = situação (formal/informal)

  • Que delícia de texto!  Nosso goianês não é muito diferente não kkkkk.

    Que horror de questão!

  • Prevejo que caira uma dessa no dia 10

  • aii que texto lindo. 

     

    to doida pra aocp falar sobre o nordestinês, visse. 

  • Que texto maravilhoso!!!!!

  • Acho melhor contentar com meu carrinho de mão..

  • Que diabo é variação paramétrica???

  • Nossa que texto gostoso, deu até vontade de conhecer Minas.

  • Se todos os textos da banca AOCP fossem assim, daria gosto de ler.


    Sucesso a todos!

  • Fui por eliminação das definições, se não fossem elas teria dançado.

  •  a) A variedade predominante é a DIATÓPICA, que expressa a diversidade linguística-cultural entre regiões geográficas distintas. 

     b) A variedade predominante é a DIAMÉSICA, em que há a utilização de linguagem escrita e falada.

     c) A variedade dominante é a DIASTRÁTICA, que representa a diversidade linguística-cultural entre classes sociais.

     d) A variedade predominante é a PARAMÉTRICA, em que há a redução no padrão morfológico de realização das palavras. 

     e) A variedade dominante é a DIAFÁSICA, uma vez que o autor emprega tanto a variedade formal como a informal. 

     

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Varia%C3%A7%C3%A3o_lingu%C3%ADstica

     

  • Eita ! isso é questão pra o ENEM!

  • Variações diafásicas

    São as variações que se dão em função do contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo como falaremos com o nosso interlocutor, podendo ser formal ou informal.

    Variações históricas

    Como já foi dito, a língua é dinâmica e sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo de variação histórica é a questão da ortografia: a palavra “farmácia” já foi escrita com “ph” (pharmácia). A palavra “você”, que tem origem etimológica na expressão de tratamento de deferência “vossa mercê” e que se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê”, até chegar na que utilizamos hoje que é, muitas vezes (principalmente na Internet), abreviado para “vc”.

    Variações diatópicas

    Representam as variações que ocorrem pelas diferenças regionais. As variações regionais, denominados dialetos, são as variações referentes a diferentes regiões geográficas, de acordo com a cultura local. Um exemplo deste tipo de variação é a palavra “mandioca” que, em certos lugares, recebe outras denominações, como “macaxeira” e “aipim”. Nesta modalidade também estão os sotaques, ligados às marcas orais da linguagem.

    Variações diastráticas

    São as variações ocorridas em razão da convivência entre os grupos sociais. As gírias, os jargões e o linguajar caipira são exemplos desta modalidade de variação linguística. É uma variação social e pertence a um grupo específico de pessoas. As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos grupos, como os policiais, cantores de rap, surfistas, estudantes, jornalistas, entre outros. Já os jargões estão relacionados com as áreas profissionais, caracterizando um linguajar técnico. Como exemplo, podemos citar os profissionais da Medicina, os advogados, os profissionais da Informática, dentre outros.


    https://www.estudopratico.com.br/variacoes-linguisticas-diafasica-diatopica-diastratica-e-historica/

  • Gente... EU amo a FCC

  • GAB A

    VARIAÇÃO DIATÓPICA (GEOGRÁFICA, REGIONAL, DIALETAL) - apresenta mudanças de região para região; o sotaque (pronúncia típica de uma região) é o principal acusador do lugar onde determinado indivíduo vive, mas a peculiaridade se estende também ao vocabulário, sentido das palavras, estrutura sintática etc.

    Ex.: os falantes do Estado de Minas Gerais possuem uma forma diferente em relação à fala dos falantes do Rio de Janeiro.

  • Diatópica = relacionada a questão geográfica ( lembre de TÓPICOS/PONTOS/LUGARES)

    DiaStrática = Variação Social

    DiaFásica = Formalidade

    DiamÉSica = EScrita e falada

    PaRamétrica = Redução de palavras

  • Diatopicas..................geográfica

    Diacronicas................históricas

    Diastrasticas..............sociais

    Diafasicas...................formal ou coloquial

  • Eles usam a gramática do Celso Cunha quando abordam esse tipo de questão.

  • eu esperava o pior.... mas isso é BEM pior do q eu esperava