SóProvas


ID
2589982
Banca
FGV
Órgão
SEFIN-RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                   Texto I – Há sempre o inesperado


Quem não nasceu de novo por causa de um inesperado?

Iniciei-me no exílio antropológico quando – de agosto a novembro de 1961 – fiz trabalho de campo entre os índios gaviões no sul do Pará. Mas, como os exilados também se comunicam, solicitei a uma respeitável figura do último reduto urbano que visitamos, uma cidadezinha na margem esquerda do rio Tocantins, que cuidasse da correspondência que Júlio César Melatti, meu companheiro de aventura, e eu iríamos receber. Naquele mundo sem internet, telefonemas eram impossíveis e cartas ou pacotes demoravam semanas para ir e vir.

Recebemos uma rala correspondência na aldeia do Cocal. E, quando chegamos à nossa base, no final da pesquisa, descobrimos que nossa correspondência havia sido violada.

Por quê? Ora, por engano, respondeu o responsável, arrolando em seguida o inesperado e ironia que até hoje permeiam a atividade de pesquisa de Brasil. Foi quando soubemos que quem havia se comprometido a cuidar de nossas cartas não acreditava que estávamos “estudando índios”. Na sua mente, éramos bons demais para perdermos tempo com uma atividade tão inútil quanto estúpida. Éramos estrangeiros disfarçados – muito provavelmente americanos – atrás de urânio e outros metais preciosos. Essa plausível hipótese levou o nosso intermediário ao imperativo de “conferir” a correspondência.

Mas agora que os nossos rostos escalavrados pelo ordálio do trabalho de campo provavam como estava errado, ele, pela primeira vez em sua vida, acreditou ter testemunhado dois cientistas em ação.

Há sempre o inesperado.

                      Roberto da Matta. O GLOBO. Rio de Janeiro, 18/10/2017 

Assinale a opção que apresenta o segmento do texto em que não ocorre a presença da ironia.

Alternativas
Comentários
  • A) antropológico não é um local para a pessoa se exilar. Presença de ironia.

    B) reduto carrega o significado de fortaleza, uma obra fortificada. logo após ele fala que era uma cidadezinha de Tocantins. 

    C) ?

    D) para o autor a ideia não é plausivel. A pessoa que violava as correspondencias tinha uma hipotese desvairada do que eles estariam fazendo ali

    E) Gabarito. 

  • e a C?

  • Na letra C, ele está ironizando a forma de pensar daquele responsável pelas cartas.

    Como se pesquisar sobre os índios fosse algo sem importância.

  • Quero o comentario do professor!

  • Desgraçada! Vou te Pegar FGV....Rsssssssss

  • C) ... éramos bons demais para perdermos tempo com uma atividade tão inútil quanto estúpida.

    Está sendo irônico quando diz q eram bons demais para uma atividade tão inutil quanto estúpida.O que fazia todo sentido para ele já que estava ali para o trabalho da ciência.

     

  • A letra C é um elemento de comparação.

  • Eu fiquei em dúvida entre C e E. Acredito que a ironia da C não esteja na maneira de se expressar do autor do texto (como nas outras alternativas), mas sim na opinião do intermediário da correspondência, como propôs a colega Kassia Porto.

    Gabarito: E

    Bons estudos a todos.

  • Caro colega André, a alternativa C APRESENTA ironia! Não há comparação alguma! É preciso voltar ao texto para perceber isso. As colegas Kássia e Marla estão corretas. 

  • essa banca é de arrancar o couro

  • Fiquei em dúvida entre a C e a E. E acho que a E é irônica ao referir-se como a ação a ato do esforço e, não do trabalho científico em si

    Mas a FGV é só Deus na causa, por que sem sorte torna-se "nearly impossible" as questões de português.

  • a) “ Iniciei-me no exílio antropológico ”. 

    Há presença de ironia no uso do termo "exílio", é como se ele quisesse dizer que ali é "um fim de mundo", ou algo do  tipo e para não ser desagradavél ele usa a ironia.

     b)  “ solicitei a uma respeitável figura do último reduto urbano ”. 

    Há presença de ironia no uso da expressão "ultimo reduto urbano" a justificativa é a mesa da letra a)

     c) “... uma atividade tão inútil quanto estúpida ”. 

    Quem escreve não acredita ser a atividade de pesquisa com indios estupida e inutil ele usa ironia para parafrasear o que a pessoa com que ele deixou as correspondencias acha. 

     d) “ Essa plausível hipótese levou o nosso intermediário ...”. 

    Há ironia, já que para ele a hipotese levantada pela pessoa para abrir as correspondencias não são plausíveis.

     e)  “... acreditou ter testemunhado dois cientistas em ação ”. NAO HÁ SENTIDO FIGURADO NESSA FRASE.

  • É claro o sentido de ironia da alternativa C, Mariana. "Estudar índios" é uma atividade inútil e estúpida? Claro que não. Então, há ironia sim. E outra coisa: ironia não diz respeito somente a deboche, como você disse. Há ironia quando é usada uma palavra com sentido oposto do seu significado literal.

  • Gente, o autor do texto está descrevendo o pensamento do intermediário da carta, não o pensamento dele próprio. Para ele, o intermediário interceptou a carta pois acreditava que a atividade indígena era irrelevante demais (ou seja, inútil e estupida) para ser estudada por cientistas. Isso não quer dizer que o antropologo autor do texto concorde ou não, é apenas uma explicação.

     

    Questão muito controversa, não acho que a letra C tenha ironia não. 

  • Quero comentario do professor, onde peço?

  • Letra a): "exílio antropológico" - o exílio é um instituto político consistente no ato de se enviar alguém para fora do país. O exilado era obrigado a deixar o Brasil. No texto fica claro que o antropólogo ainda se encontrava em terras brasileiras, além do quê é parte to trabalho do antropólogo ter de se deslocar a regiões longínquas para realizar ofício, o que se dá de forma voluntária, razão pela qual é razoável concluir que o narrador foi irônico com essa expressão;

     

    Letra b): "respeitável figura do último reduto urbano" - resta claro que o antropólogo considera a foto respeitável apenas pelo fato de se considerar um "exilado", ou seja, pelo fato de se encontrar longe da civilização urbana. Ademais, geralmente, a característica de ser respeitável é inerente às pessoas, e não a coisas, razão pela qual é razoável perceber a ironia do narrador nessa frase;

     

    Letra c): "uma atividade tão inútil quanto estúpida" - no contexto é possível perceber que o intermediário apenas deixa claro que está desconfiado, de maneira que os motivos (as razões) dessa preocupação se consubstanciam em meras suposições feitas pelo narrador (antropólogo). Logo, verifica-se que o antropólogo é quem pressupõe que a desconfiança do intermediário advém do fato de ele (intermediário) achar que os cientistas eram bons demais para exercer aquela atividade "inútil" e "estúpida". Sendo assim, resta claro que esses termos advieram do pensamento do antropólogo, de maneira a parecer que ele estaria reduzindo a sua própria profissão. No entanto, é óbvio que estava sendo irônico, já que nenhum profissional, em tese, reduz sua profissão.

     

    Letra d): "essa plausível hipótese" - verifica-se no texto, que o antropólogo considera, ironicamente, ser plausível o fato de o intermediário achar que eram estrangeiros atrás de urânio e metais preciosos. Na verdade, se verifica que o antropólogo considera estúpido qualquer fundamento que justifique a preocupação do intermediário. Se considera estúpidas as razões da preocupação do intermediário, foi irônico ao dizer que tal hipótese era plausível.

     

    Letra e): "... acreditou ter testemunhado dois cientistas em ação": percebe-se, da leitura do texto, de que o intermediário efetivamente se convenceu do fato de serem cientistas realizando um trabalho entre os índios gaviões. Sem ironia, portanto.

  • Jim Morrison, errei e marquei a letra C justamente por raciocinar da mesma maneira que você. Entendi que o intermediário da carta realmente achava a atividade indígena inútil ou estúpida. Portanto, não haveria ironia no pensamento dele. Ele realmente achava que era irrelevante a atividade indígena. Mas, tudo bem. Bola pra frente! :D

  • Nao entendi o comentário do GABRIEL MESQUITA (a "foto"?? que foto gente?).

     "respeitável figura do último reduto urbano" - resta claro que o antropólogo considera a foto respeitável apenas pelo fato de se considerar um "exilado", ou seja, pelo fato de se encontrar longe da civilização urbana. Ademais, geralmente, a característica de ser respeitável é inerente às pessoas, e não a coisas, razão pela qual é razoável perceber a ironia do narrador nessa frase;

     

    Quando no texto ele diz "FIGURA" não quer dizer foto, fotografia, desenho, gravura. Figura quer dizer "pessoa"!!

     

    Para mim, o melhor comentário foi o da MARIANA S.

  • Poxa Bruna, então o meu comentário não foi bom? =(

  • Também fiquei em dúvida entre a C e a E, e marquei a errada.

     

  • A FGV PRECISA SER ESTUDADA LITERALMENTE!!!

  • Para mim, há ironia em todas as assertivas.

    Marquei a letra "E" porque a ironia me pareceu menos evidente. 

  • nível altíssimo essa questão achei

  • Ironia é a utilização de palavras que manifestam o sentido oposto do seu significado literal. Desta forma, a ironia afirma o contrário daquilo que se quer dizer ou do que se pensa.

     

    a) exílio  - que se excluiu do convívio em sociedade. O estudo é antropológico, portanto, em síntese, estudo do comportamento de uma sociedade. (E)

     

    b) respeitável figura - não é digno de respeito aquele que viola correspondência.  (E)

     

    c) inútil e estúpida - inútil, que não tem utilidade. Esdutos e pesquisas não se coadunam ao conceito de inútil. (E)

     

    d) plausível  - razoável. Não há indícios no texto que permita inferir que os cientistas eram estrangeiros. (E)

     

    d) testemunhado cientistas em ação - assistido cientistas fazendo o seu trabalho, ciência. (C)

  • Bem difícil, eu fui por eliminação. Para entender precisamos voltar ao texto.
  • Gosto desse professor de Português do Qc! Ótimo vídeo!

    Gabarito E.

  • A opção "comentários do professor" não está funcionando para smartphone.
  • Professor Arenildo explicou com perfeição essa questão.

  • Letra A – CERTA – Note que não se trata de um exílio propriamente dito, pois o autor não foi de fato expatriado, o que caracteriza um exílio. Ele apenas está longe da sua cidade e da chamada civilização, mas ainda em território brasileiro.

    Letra B – CERTA – O autor se usa da ironia ao chamar a pessoa encarregada de cuidar das correspondências de respeitável. Foi ela que violou sua correspondência, mostrando não ser tão respeitável e confiável assim.

    Letra C – CERTA – É assim que o autor se refere à atividade de pesquisa, mas fica claro que não é assim que ele pensa. Faz com essa ironia uma crítica àqueles que julgam a pesquisa dessa forma.

    Letra D – CERTA – O autor não considera nem um pouco plausível ou crível a hipótese que o considera um espião.

    Letra E – ERRADA – O termo “cientista” foi empregado no seu sentido literal, pois, de fato, eram dois cientistas ali trabalhando.

    Resposta: E

  • Uma dica para quem está estudando para a banca FGV:

    "Se vc já tem uma boa base de Português ( se em outras bancas vc estava com uma boa média de acertos) , o único jeito de entender a FGV é imprimir provas anteriores e fazer. Tenta pegar provas dos últimos 5 anos e vai intercalando uma por dia , sendo uma de nível médio e outra n. superior. Vc no início vai sair derrotado , como aconteceu comigo , querendo desistir da vida....(rsrs), mas persista , vc vai perceber que com 2 semanas ( foi o que aconteceu comigo) o seu percentual vai crescer...Ou seja: vc vai aprender como ela cobra e vai começar a pensar com o olhar da banca e vai progredir nos resultados. O que me fez escrever esse longo texto é a prova que peguei pra fazer hoje : Essa de auditor fiscal de tributos Estadual/2018/N. Superior , no qual acertei 90% das questões e só errei uma por medo de estar errada e desmarquei a que achei que era a certa, rs. Isso vai acontecer bastante nas questões dessa banca ,logo não se preocupe...

    Bom, insista, não pare, continue ... vai doer muito... vai ter dias que vc vai desejar a morte , vai ter dias que vc vai querer se encher de por@#@ , mas não desista, respira , levanta , toma uma água , lave o rosto e se tiver que chorar , chore, mas não desista! Estudar pra concurso público é , em sua maioria , estratégia e perseverança " .

    Se houver erros no meu texto , desculpe-me , eu não poderia deixar de registrar esse momento sem emoção...

    PCRJ/2021