SóProvas


ID
2596813
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Câmara de Nova Friburgo - RJ
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Fazer nada

             Como a visita de um pássaro nos fez pensar no tempo.


       Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro. No hotel, em Itatiba, deram-nos o quarto 37, que se abre para um mar de morros verdes, com plantações, pastos, florestas. Fica no piso superior, tem pé-direito alto e uma varanda abraçada por árvores repletas de pássaros. À noite, entrou pela janela um passarinho. Minúsculo, branco no peito e na parte inferior da face, preto no dorso e na metade de cima da cabeça. Entrou pelo quarto, acelerado. Voava junto ao teto e não conseguia baixar até a altura da porta por onde havia entrado. Temíamos que se machucasse. Apagamos as luzes. Ele se acalmou e parou para descansar no toucador. Pulou em pé, no chão. Caminhou um pouco, ofegante. Usamos um chapéu para levá-lo à varanda, onde ficou ainda um tempo, refazendo-se.

      Depois, vimos que deixou de lembrança um cocozinho na nossa cama. De onde teria vindo essa ave? Qual o significado do carimbo de passarinho sobre o lençol? Resisti à ideia de lembrar que excremento de pássaro é sinal de boa fortuna em antigas tradições. Augúrio? Sinal? Ali não havia mistério. Era apenas um bichinho assustado, acelerado demais. Talvez apenas apavorado por haver entrado em um lugar de onde parecia impossível sair. Mais do que um significado oculto, sua visita pode é nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem não se debate, na ilusão de que está acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que está saturado por estímulos que ele próprio foi buscar? A sensação de que seu tempo é estrangulado, sem se dar conta de que é ele quem cultiva desassossego para si. Um amigo, sobrinho de um sábio do interior, costuma usar a imagem da trajetória errática e vã das formigas para ilustrar a ilusão que acomete o homem em movimentos inócuos e sem sentido, o esforço inútil. Não é à toa que se fale tanto na necessidade de ir com mais calma.

       Afinal, nós nunca aceleramos tanto. Na ilusão de anteciparmos o futuro, roubamos o momento seguinte e deixamos de vivê-lo. Convivemos sem prestar atenção no outro, respiramos com sofreguidão, comemos sem sentir o sabor. Fugimos do presente, o único tempo que existe e sobre o qual criamos a referência para um passado reconstruído na memória e um futuro sonhado. Como parar e fazer nada? Como apenas ser, sem se debater por ter entrado em uma porta estranha? Há quem não consiga relaxar e, simplesmente, fazer nada. Alguém já disse que fazer nada não é a completa falta de ação, mas a ação feita com desapego, sem visar resultado para si mesmo. Há algo de bom em atingir esse momento em que só se é parte da paisagem e não um observador separado. Se ainda quiséssemos procurar um significado para a visita da pequena ave, poderíamos dizer que ela veio trazer o tema para estas linhas que você lê agora. Como se nos dissesse: que bom que vocês conseguiram uns dias de folga e vieram aqui, cuidar um do outro. Sejam bem-vindos a este momento e esqueçam o resto. Fui.

(NOGUEIRA, Paulo. Vida Simples, ed. 37. São Paulo: Abril, 2006. Disponível em http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/. Edições/037/caminho/conteúdo_237474.shtml.)

Em relação às características e recursos textuais apresentados, pode-se afirmar que o texto em análise é predominantemente

Alternativas
Comentários
  • Convencer e persuadir?

  • Texto dissertativo argumentativo/opinativo:
    O texto argumentativo, além de discutir e informar, defende uma tese, uma opinião pessoal, sua finalidade principal é o convencimento do leitor. Para persuadi-lo, o autor se utiliza de modalizadores e de operadores argumentativos, construindo fundamentação para seus argumentos por via de relações lógicas organizadas numa estrutura argumentativa progressiva.

    A linguagem utilizada é clara, impessoal (embora parcial), culta. A primeira pessoa é utilizada para realçar a inclusão do autor no universo de ideias discutidas e seu alinhamento aos argumentos utilizados, bem como para envolver o leitor. Também é comum o uso da terceira pessoa, com verbos no presente do indicativo, como estratégia para sugerir que as informações são fatos. Os verbos são semanticamente carregados e sugerem ou corroboram a opinião que está sendo defendida. Esses argumentos são apresentados de forma estruturada, com progressão.

    Fonte: Prof. Felipe L. Rosas - Estratégia Concursos - Curso TJMG 2017
     

  • Não vi nada relacionado nesse texto sobre convencer e persuadir. Pra mim, so tem informações de coisas q ele vivenciou. Um texto argumentativo pode ser narrado???

     

  • Eu sai completamente convencida!! Excelente texto!

  • Pessoal não adianta por a definição de texto informativo porque isso a questão já falou, poderiam por a explicação com trechos do texto de o porquê desse texto ser argumentativo.

  • O texto é predominantemente argumentativo, pois o autor opina, argumenta e tenta nos convencer. Abaixo segue alguns trechos que fundamentam o meu entendimento.

     

    Linha 9 (3° parágrafo): "Mais do que um significado oculto, sua visita pode é nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem não se debate, na ilusão de que está acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que está saturado por estímulos que ele próprio foi buscar? A sensação de que seu tempo é estrangulado, sem se dar conta de que é ele quem cultiva desassossego para si."

     

    Explicação: entendo que no trecho acima o autor expressa sua opinião e ao mesmo tempo provoca o leitor a refletir. Nesse trecho o autor me convenceu que o homem sofre por estar saturado de estímulos que ele mesmo buscou.

     

    Linha 15 (4° parágrafo): "Afinal, nós nunca aceleramos tanto"

     

    Explicação: aqui o autor novamente emite sua opinião, ou seja, estamos muito acelerados, na sequencia (citação abaixo) ele insere argumentos que defendem sua pequena tese ("estamos acelerados") com o objetivo de nos convencer ou pelo menos tentar.

     

    "Na ilusão de anteciparmos o futuro, roubamos o momento seguinte e deixamos de vivê-lo. Convivemos sem prestar atenção no outro, respiramos com sofreguidão, comemos sem sentir o sabor."  Estamos ou não estamos acelerados? Creio que sim. Novamente o autor me convenceu.

  • a) Não apresenta informações fundamentais sobre determinado objeto e nem faz comentários e avaliações sobre ele. 

    b) GABARITO.

     c) Não denuncia a situação de um grupo.

     d) Não há ausência de ação e relação de anterioridade ou posterioridade entre as frases. 

    Fui pela menos errada.

  • argumentativo, faz perguntas e as responde prontamente a fim de persuadir e convencer

  • Argumentativo?

  • Complementando o que Vig Costa falou, essas perguntas que o autor fez são chamadas de perguntas retóricas. Perceba: o objetivo do autor não é saber quantas vezes realmente aconteceu tal evento, e sim levar você a refletir sobre a pergunta, ou seja, não necessita da resposta do leitor, apenas o leva a refletir.

    Textos argumentos podem utilizar desse recurso como forma de persuadir o interlocutor. E como sabemos, tentar convencer alguém a concordar com uma ideia é uma marca de textos argumentativos.