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ID
2605348
Banca
IBADE
Órgão
SEE -PB
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 2 


O nascimento da crônica


      Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.

      Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.

      Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.

ASSIS, Machado. “Crônicas Escolhidas", Editora Ática - São Paulo, 1994, pág. 13, e extraído do livro “As Cem Melhores Crônicas Brasileiras", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2007, pág. 27, organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.

Sobre as ideias do texto, analise as afirmativas.


I. Possui linguagem literária com um tom metalinguístico, apresentando uma crônica que versa sobre o nascimento desse gênero.

II. O autor utiliza figuras modernas e pouco conhecidas para datar o nascimento da crônica, acreditando que esse gênero nasceu de conversas entre amigos.

III. Machado de Assis afirma que a crônica nasce de trivialidades, ou seja, de detalhes do cotidiano.


Está correto o que se afirma apenas em:

Alternativas
Comentários
  • I. Possui linguagem literária com um tom metalinguístico, apresentando uma crônica que versa sobre o nascimento desse gênero. - Verdade!! O texto é realizado por um dos grandes nomes da Literatura Brasileira. Dessa maneira apresenta liguagem literária com um tom de metalinguístico (que são funções com referencial, emotiva, poética, conotativa e fática). No final do texto aparece o título: “Crônicas Escolhidas";

    II. O autor utiliza figuras modernas e pouco conhecidas para datar o nascimento da crônica, acreditando que esse gênero nasceu de conversas entre amigos. Falso!! As figuras na qual Machado de Assis cita são pessoas muito conhecidas (matava a assertiva, de primeira);

    III. Machado de Assis afirma que a crônica nasce de trivialidades, ou seja, de detalhes do cotidiano. Verdade!! No começo do texto, Machado fala da seguinte maneira: "Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade." Em seguida, o autor cita fatos do cotidiano.

  • Não concordo com o gabarito. Na III o examinador afirma que a crônica nasce de trivialidades. No texto: "Há um meio certo de comear a crônica por uma trivialidade". A ausência de vírgula (Há um meio certo de comear a crônica, por uma trivialidade) não indica que há outros meios de começar a crônica? Não seria um caso de restrição e explicação?

  • LETRA E

    A questão ao mesmo tempo que é ruim, é interessante, conforme a analisamos melhor.

    Macho de Assis realmetne afirma que a crônica nasce de uma trivialidade: "Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade.". - A Trivialidade é uma base para uam crônica e quando a usamos como base, temos um meio para começá-la.

    Talvez em uma primeira leitura, muitos tenham entendido que Machadão quis dizer que: "Um dos meio de começar uma crônica é por uma trivialidade", o que aparentemente entraria em contadição com a alternativa III. Porém o texto apresenta o MODO COMO SE COMEÇAR UMA CRÔNICA  a partir de uma trivialidade, ou seja podemos basear uma crônica em qualquer coisa, porém quando nos baseamos em uma trivialidade o meio correto de começá-la é o apresentado pelo Machadão.

    Logo a III não está errada, pois segundo Machadão: Crônicas Nascem de trivialidades.

    Enfim, no fundo eu cahei  a questão mal elaborada e creio que não há o que se falar em recurso ou anulação. Mais um dia na vida de um concursando, tudo normal.