SóProvas


ID
2631763
Banca
INDEPAC
Órgão
Prefeitura de Osasco - SP
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                 O Diamante


      Em 1933, Jovelino, garimpeiro no interior da Bahia, concluiu que ali não havia mais nada a garimpar. Os filhos viviam da mão pra boca, Jovelino já não via jeito de conseguir com que prover o sustento da família. E resolveu se mandar para Goiás, onde Anápolis, a nova terra da promissão, atraía a cobiça dos garimpeiros de tudo quanto era parte, com seus diamantes reluzindo à flor da terra. Jovelino reuniu a filharada, e com a mulher, o genro, dois cunhados, meteu o pé na estrada.

      Longa era a estrada que levava ao Eldorado de Jovelino: quase um ano consumiu ele em andança com a sua tribo, pernoitando em paióis de fazendas, em ranchos de beira caminho, em chiqueiros e currais, onde quer que lhe dessem pasto e pousada.

      Vai daí Jovelino chegou aos arredores de Anápolis depois de muitas luas e ali se estabeleceu, firme no cabo da enxada, cavando a terra e encontrando pedras que não eram diamantes. Daqui para ali, dali para lá, ano vai, ano vem, Jovelino existia de nômade com seu povinho cada vez mais minguando de fome. Comia como podia — e não podia. Vivia ao deus-dará — e Deus não dava. Quem me conta é o filho do fazendeiro de quem Jovelino se tornou empregado:

      — Ao fim de dez anos ele concluiu que não encontraria diamante nenhum, e resolveu voltar com sua família para a Bahia onde a vida, segundo diziam, agora era melhorzinha. Não dava diamante não, mas o governo prometia emprego seguro a quem quisesse trabalhar.

      Jovelino reuniu a familia e botou pé na estrada, de volta à terra de nascença, onde haveria de morrer. Mais um ano palmilhado palmo a palmo em terra batida, vivendo de favor, Jovelino e sua obrigação, de vez em quando perdendo um, que isso de filho é criação que morre muito. Foi nos idos de 43:

      — Chegou lá e se instalou no mesmo lugar de onde havia saído. Governo deu emprego não. Plantou sua rocinha e foi se aguentando. Até que um dia...

      Até que um dia de noite Jovelino teve um sonho. Sonhou que amanhava a terra e de repente, numa enxadada certeira, a terra escorreu... A terra escorreu e aos seus olhos brilhou, reluziu, faiscou, resplandeceu um diamante soberbo, deslumbrante como uma imensa estrela no céu — como uma estrela no céu? Como o próprio olho de Deus! Jovelino olhou ao redor de seu sonho e viu que estava em Anápolis, no mesmo sítio em que tinha desenterrado a sua desilusão.

       E para lá partiu, dia seguinte mesmo, arrastando sua cambada. Levou nisso um entreano, repetindo pernoites revividos, tome estrada! Deu por si em terra de novo goiana. Quem me conta é o filho do fazendeiro:

      — Você precisava de ver o furor com que Jovelino procurou o diamante de seu sonho. A terra de Goiás ficou para sempre revolvida, graças à enxada dele. De vez em quando desmoronava, Jovelino ia ver, não era um diamante, era um calhau. Até que um dia...

      — Encontrou? — perguntei, já aflito.

      — Encontrou nada! Empregou-se na fazenda de meu pai, o tempo passou, os filhos crescidos lhe deram netos, a mulher já morta e enterrada, livre dos cunhados, os genros bem arranjados na vida. Um deles é coletor em Goiânia.

      O próprio Jovelino, entrado em anos, era agora um velho sacudido e bem disposto, que tinha mais o que fazer do que cuidar de garimpagens. Mas um dia não resistiu: passou a mão na sua enxada, e sem avisar ninguém, o olhar reluzente de esperança, partiu à procura do impossível, do irreal, do inexistente diamante de seu sonho. 

                                                                                    (Fernando Sabino)

Assinale a alternativa em que a palavra destacada possui a mesma classificação morfológica que a palavra em destaque na frase abaixo:


“Vivia ao deus-dará — e Deus não dava."

Alternativas
Comentários
  • Aguardando alguém comentar esta questão.

  • Substitui por uma conjunção adversativa nas frases abaixo e deu certo.

    Vivia ao Deus dará, mas Deus não dava.

    Não é uma questão de inteligência mas sim de sentir.

    Mas não sei se éstou certa kkkkk 

  • A questão quer saber se o candidato sabe as diversas aplicações do termo "E", que é uma conjunção coordenativa quer seja aditiva (também, bem como, nem) ou adversativa (contudo, porém, mas, etc).

    Indo à alternativa certa temos que:

     

    “Vivia ao deus-dará — e (MAS) Deus não dava." -  conjunção coordenativa adversativa.

     

    “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e (MAS) sim de sentir, de entrar em contato..." (Clarice Lispector) - conjunção coordenativa adversativa.

     

    A dica é: Substitua e veja se faz sentido.

     

    No mais, estudar sobre a conjunção E.

  • Por que a alternativa A não poderia ficar desse jeito ""Enquanto eu tiver perguntas  MAS não houver resposta continuarei a escrever "" Alguém pode me ajudar ??

  • Dorileia Pereira 

    "Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.” (Clarice Lispector)

    Está com ideia de adição e não de oposição.

    blz? espero ter ajudado

     

  • GABARITO: B

    “[...]Vivia ao deus-dará — E Deus não dava."

    Cobra-se do candidato a função morfológica do termo destacado. Percebe-se que o termo destacado exerce papel de uma conjunção adversativa, podendo ser substituído por “MAS

    “[...]Vivia ao deus-dará — MAS Deus não dava." ✅

    A alternativa que possui a mesma função morfológica é a “B

    “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato..."

    Suponho que me entender não é uma questão de inteligência MAS sim de sentir, de entrar em contato..." ✅

    pertencelemos!