SóProvas


ID
2661652
Banca
FUMARC
Órgão
CEMIG - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

   Há marcas que vivem da inclusão, e outras que vivem da exclusão

                                                                                    Contardo Calligaris


      Meu telefone, um iPhone 6, estava cada vez mais lento. Não era por nenhuma das causas apontadas nas inúmeras salas de conversa entre usuários de iPhones vagarosos.

      Era mesmo o processador que estava se tornando exasperadamente lento, ao ponto em que havia um intervalo sensível de tempo entre digitar e a letra aparecer na tela.

      Deixei para resolver quando chegasse a Nova York, onde, aliás, a coisa piorou: era suficiente eu tirar o celular do bolso ou deixá-lo num bolso externo (que não estivesse em contato com o calo0r do corpo) para que a carga da bateria baixasse, de repente, de 60% a zero.

      Pensei que três anos é mesmo o tempo de vida útil para uma bateria. E lá fui à loja da Apple na Broadway.

      Esperei duas horas para enfim ter acesso a alguém que me explicou que testaria minha bateria. Depois de contemplarmos os gráficos lindos e coloridos deixados no tablet pelo meu telefone, anunciou que minha bateria ainda não justificava uma troca – no tom pernóstico de um plantonista que sabe que não tem leitos disponíveis e manda você para casa com aquela dor no peito e a "certeza" de que "você não está enfartando, deve ser só digestão".

      O mesmo jovem propôs uma reinstalação do sistema operacional, – que é uma trivialidade, mas foi anunciada como se fosse um cateterismo das coronárias.

      Passei a noite me recuperando, ou seja, reinstalando aplicativos. Resultado: telefone lento como antes.

      Voltei para a Apple (loja da Quinta Avenida), onde descobri que, como na história do hospital sem leitos, de fato, a Apple não dispunha mais de baterias para substituir a minha: muitos usuários estavam com o mesmo problema. Por coincidência, tudo conjurava para que eu comprasse um telefone novo.

      Nos EUA, a Apple está sendo processada (15 casos coletivos, em diferentes Estados) por piorar propositalmente a experiência dos usuários de iPhone sem lhes oferecer alternativas –salvo, obviamente, a de adquirir um telefone novo.

      A companhia pediu desculpas públicas, mas a humildade não é o forte do treinamento Apple. Basta se lembrar que o atendimento pós-venda da companhia se chama (o ridículo não mata ninguém) "genius bar", o balcão dos gênios.

      Já pensou: você poderia ligar para seu serviço de TV a cabo porque a recepção está péssima e alguém diria: "Sim, senhor, pode marcar consulta com o balcão dos gênios".

      A maioria dos usuários não acham isso cômico e despropositado. Por que será?

      Há marcas que vivem de seu poder de inclusão, do tipo "nós fabricamos o carro que todos podem dirigir". E há marcas que vivem de seu poder de exclusão: tipo, será que você merece o que estou vendendo?

      Você já entrou alguma vez numa loja cara onde os vendedores, envaidecidos pela aura do próprio produto que vendem, olham para você com desprezo, como se você não fosse um consumidor à altura da loja?

      É uma estratégia básica de marketing: primeiro, espera-se que você inveje (e portanto deseje) o mundo do qual se sente excluído.

      Você perguntará: de que adianta, se não poderei adquirir os produtos da marca? Em geral, nesses casos o projeto é vender os acessórios da casa. Pouquíssimos comprarão o casaco de R$ 15 mil, mas milhares comprarão um lencinho (com monograma) para se sentirem, assim, membros do clube.

      A Apple mantém sua presença no mercado pela ideia de sua superioridade tecnológica - e pelo design elegante, claro.

      Seriamente, alguém que usa processador de texto não deveria escolher um computador em que não dá para apagar letras da esquerda para a direita. Mas é como os carros ingleses dos anos 1950: havia a glória de viver perigosamente e dirigir sem suspensões posteriores independentes (sem capotar a cada curva).

      Pouco importam as críticas. A Apple conseguiu convencer seus usuários de que eles mesmos, por serem usuários, fazem parte de uma arrojada elite tecnológica. Numa loja da Apple, todos, os usuários e os "gênios" vestem (real ou metaforicamente) a camiseta da marca.

      Quer saber o que aconteceu com meu iPhone? Está ótimo. Fui ao Device Shop, em Times Square, no mesmo prédio do Hard Rock Cafe: atendimento imediato, troca de bateria em dez minutos, conversa agradável. Não havia gênios, só pessoas competentes. E custou menos de dois terços do que pagaria na Apple.

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2018/01/1949427- ha-marcas-que-vivem-da-inclusao-e-outras-que-vivem-da-exclusao.shtml Acesso em 20 mar. 2018

Em: “Basta se lembrar que o atendimento pós-venda da companhia se chama (o ridículo não mata ninguém) ‘genius bar’, o balcão dos gênios.”, a MELHOR interpretação para o trecho: “o ridículo não mata ninguém” é

Alternativas
Comentários
  • nem sei oque te responder nessa... 

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  • Nenhuma das 164 pessoas que marcaram a alternativa A vai se pronunciar?

  • LETRA A

    Erre​i a questão mas vamos lá:

    Basta se lembrar que o atendimento pós-venda da companhia se chama (o ridículo não mata ninguém) ‘genius bar’, o balcão dos gênios.

    a) Não há nada de errado em ser ridículo quando o objetivo é exaltar seu produto. - Estamos falando do ATENDIMENTO PÓS-VENDA, logo a letra C poderia ser considerada uma Generalização, pois nem todos os canais de atendimento da Apple têm esse nome. A passagem acima faz questão de específicar: Atendimento pós-venda.
    Esse trecho aqui nos ajuda a compreender um pouco melhor essa diferença:
    "Já pensou: você poderia ligar para seu serviço de TV a cabo porque a recepção está péssima e alguém diria: 'Sim, senhor, pode marcar consulta com o balcão dos gênios'." - Ele ligou para uma central de atendimento, que não tem nome e essa central pediu para ele se dirigir ao Balcão dos Gênios.

    Meus 20 centavos

  • Para exaltar o produto pessoas se expõem ao ridículo,e não há nada de errado nisso,pois a venda é mais importante.Bom,foi oque entendi!.Marquei a A e acertei!!

  • o site tem muitas questoes iguais com gabaritos diferentes

  • Meus caros, marquei A e pelo que entendi, apesar de ter algumas outras alternativas que também responderiam a questão, a ssertiva pediu a MELHOR interpretação para o texto, é subjetivo e estranho, mas é FUMARC.

  • Acertei a questão, mas fiquei MUITO na dúvida entre A e B. Essa FUMARC é uma tristeza.

    Escolhi A voltando ao contexto em que a frase está inserida e, considerando a ideia geral de cultura de superioridade da marca. É uma estratégia ser superior, não importa se efetivamente o atendimento é ridículo. Então a questão não é as pessoas se ofenderem com a escolha do nome e sim o objetivo de vender a ideia de superioridade em todo o seguimento da marca. 

     

    "A companhia pediu desculpas públicas, mas a humildade não é o forte do treinamento Apple. Basta se lembrar que o atendimento pós-venda da companhia se chama (o ridículo não mata ninguém) "genius bar", o balcão dos gênios."

    Ainda ao final : "A Apple conseguiu convencer seus usuários de que eles mesmos, por serem usuários, fazem parte de uma arrojada elite tecnológica. Numa loja da Apple, todos, os usuários e os "gênios" vestem (real ou metaforicamente) a camiseta da marca."

     

     

  • BEM SUBJETIVO!!!

  • Fiz por eliminação.......

     

    O pós-venda da Apple é humilde o suficiente para entender que no seu balcão só há gênios. - ERRADA, a Apple é humilde onde?? 

    O atendimento da Apple é tão ridículo que se autodenomina como “gênio”. - Nada a ver com nada. 

    Ninguém deveria se ofender com o nome ridículo dado ao atendimento pósvenda da Apple. - Nada a ver com nada.

     

    Sobrou a A

     

  • Resolvi por eliminação.

  • detesto falar mal de questões....mas que banca de quinta "catiguria"........... 

  • O que é melhor para você pode não ser para mim. kk

    Muito subjetivo...