- ID
- 2664061
- Banca
- INEP
- Órgão
- ENEM
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Literatura
- Assuntos
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do
Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos
de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e
ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da
virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser
mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha;
bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha
de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus
pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se
em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu
passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras
ideias.
— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os
mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão
usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas
famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam
de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em
sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento)
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do
Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse
fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso
naturalista, pois