SóProvas


ID
2684443
Banca
FUMARC
Órgão
COPASA
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                           Não "temos de"

                                                                                                       Lia Luft


      Vivemos sob o império do "ter de". Portanto, vivemos num mundo de bastante mentira. Democracia? Meia mentira. Pois a desigualdade é enorme, não temos os mesmos direitos, temos quase uma ditadura da ilusão dos que ainda acreditam. Liberdade de escolha profissional? Temos de ter um trabalho bom, que dê prazer, que pague dignamente (a maioria quer salário de chefe no primeiro dia), que permita grandes realizações e muitos sonhos concretizados? "Teríamos". No máximo, temos de conseguir algo decente, que nos permita uma vida mais ou menos digna.

      Temos de ter uma vida sexual de novela? Não temos nem podemos. Primeiro, a maior parte é fantasia, pois a vida cotidiana requer, com o tempo, muito mais carinho e cuidados do que paixão selvagem. Além disso, somos uma geração altamente medicada, e atenção: muitos remédios botam a libido de castigo.

       Temos de ter diploma superior, depois mestrado, possivelmente doutorado e no Exterior? Não temos de... Pois muitas vezes um bom técnico ganha mais, e trabalha com mais gosto, do que um doutor com méritos e louvações. Temos de nos casar? Nem sempre: parece que o casamento à moda antiga, embora digam que está retornando, cumpre seu papel uma vez, depois com bastante facilidade vivemos juntos, às vezes até bem felizes, sem mais do que um contrato de união estável se temos juízo. E a questão de gênero está muito mais humanizada.

      Temos de ter filho: por favor, só tenham filhos os que de verdade querem filhos, crianças, adolescentes, jovens, adultos, e mesmo adultos barbados, para amar, cuidar, estimular, prover e ajudar a crescer, e depois deixar voar sem abandonar nem se lamentar. Mais mulheres começam a não querer ter filho – e não devem. Maternidade não pode mais ser obrigação do tempo em que, sem pílula, as mulheres muitas vezes pariam a cada dois anos, regularmente, e aos cinquenta, velhas e exaustas, tinham doze filhos. Bonito, sim. Sempre desejei muitos irmãos e um bando de filhos (consegui ter três), mas ter um que seja requer uma disposição emocional, afetiva, que não é sempre inata. Então, protejam-se as mulheres e os filhos não nascidos de uma relação que poderia ser mais complicada do que a maternidade já pode ser.

      Temos de ser chiques, e, como sempre escrevo, estar em todas as festas, restaurantes, resorts, teatros, exposições, conhecer os vinhos, curtir a vida? Não temos, pois isso exige tempo, dinheiro, gosto e disposição. Teríamos de ler bons livros, sim, observar o mundo, aprender com ele, ser boa gente também.

      Temos, sobretudo, de ser deixados em paz. Temos de ser amorosos, leais no amor e na amizade, honrados na vida e no trabalho, e, por mais simples que ele seja, sentir orgulho dele. Basta imaginar o que seriam a rua, a cidade, o mundo, sem garis, por exemplo. Sem técnicos em eletricidade, sem encanadores (também os chamam bombeiros), sem os próprios bombeiros, policiais, agricultores, motoristas, caminhoneiros, domésticas, enfermeiras e o resto. Empresários incluídos, pois, sem eles, cadê trabalho?

      Então, quem sabe a gente se protege um pouco dessa pressão do "temos de" e procura fazer da melhor forma possível o que é possível. Antes de tudo, um lembrete: cada um do seu jeito, neste mundo complicado e vida-dura, temos de tentar ser felizes. Isso não é inato: se tenta, se conquista, quando dá. Boa sorte!

Disponível em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/lya-luft/noticia/2017/06/nao-temos-de-9807278.html Acesso em 11 jul. 2017

Em: “Democracia? Meia mentira.”, meia tem valor

Alternativas
Comentários
  • Adjetivo- Modifica o substantivo mentira
    Adverbial- modifica o verbo

    Substantivo= mentira

    Gabarito A

  • é so gravar.. quando for "meia" com sentido de "um pouco" é adverbio;

    quando for "meia" com valor partitivo,de metade, ai trata-se de numeral com valor adjetivo.

    LETRA A 

  • Fique atento(a): meio, como advérbio de intensidade, sempre vira vinculado a um adjetivo e não sofrerá flexão de gênero, ou seja, se o adjetivo vinculado ao advérbio estiver no gênero feminino, ele não sofrerá alteração. Já MEIA só será aplicada quando do uso do substantivo ou para indicar um numeral fracionário. Você pode dizer que comeu meia pizza, que deu meia volta na praça, mas não existe meia cansada, meia triste, exceto se você estiver se referindo ao substantivo meia, aquela que calçamos nos pés, mas temos de convir que nunca mais vimos uma meia triste ou cansada.
  • Meia com valor de numeral - metade = adjetivo

    Com valor de um pouco = MeiO = advérbio

  • COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOHN CARNEIRO (TECCONCURSOS)

    Resposta: letra A.

     

    Na passagem “Democracia? Meia mentira.”, o termo meia tem valor ADJETIVO, pois qualifica o substantivo "mentira".

     Conceiro de adjetivo: termo que qualifica, caracteriza ou classifica o substantivo. Exemplo: na frase "minha geladeira está cheia.", o termo em destaque caracteriza o substantivo "geladeira". Da mesma forma, a palavra "meia" caracteriza o substantivo "mentira" (por isso, ela tem valor adjetivo).

     Por que não pode ser a letra B: quando tem função adverbial, o vocábulo "meio" é invariável (portanto, não se flexiona no feminino "meia"). Por exemplo: esta roupa está meio suja. A palavra "meio" funciona como advérbio porque modifica o sentido do adjetivo "suja"; advérbio é o termo que modifica o sentido de adjetivoverbo ou outro advérbio.

     No contexto da questão, como o termo "meio" variou para o feminino, ele não exerce função adverbial. Além disso, ele se refere a um substantivo, e não a adjetivoverbo ou outro advérbio!

     Por que não pode ser a letra C: o termo "meia" só é usado como substantivo quando nomeia um tecido de malha para cobrir o pé e parte da perna, o que não é o caso do contexto. Na verdade, no contexto, essa palavra serve para caracterizar o substantivo "mentira".

     Por que não pode ser a letra D: o termo "meia" não tem valor verbal porque não exprime uma ação nem um estado. Segundo os cânones gramaticais, verbo é o termo que exprime, por flexões diversas, ação ou estado que apresentam as pessoas, animais ou coisas de que se fala. Exemplo: "Democracia? Isso é meia mentira." {o termo "é" apresenta função verbal porque exprime um estado}

  • Para responder esta questão, exige-se conhecimento em morfologia. O candidato deve assinalar a assertiva que indica a classe de palavra do vocábulo abaixo em destaque. Vejamos:

    Em: “Democracia? Meia mentira.”

    a) Correta.

    O adjetivo possui a natureza de caracterizar o substantivo e, dessa forma, concordando em número, gênero e grau. Percebam que a palavra "meia" indica uma característica da mentira, dando tamanho a sua extensão, além de concordar em gênero, no feminino.

    b) Incorreta.

    O advérbio não se relaciona com o substantivo nem mesmo varia em número, gênero e grau. Percebam que "meia" está no feminino. Por outro lado, a palavra "meio" pode ser advérbio.

    Ex: Estou meio chateado. (A palavra está funcionando como advérbio, porque modifica o adjetivo "chateado".)

    c) Incorreta.

    O substantivo na verdade é a palavra "mentira" pois está sendo modificada pelo adjetivo "meia".

    d) Incorreta.

    A palavra "meia" apenas será verbo quando indicar uma ação da terceira pessoa do singular, pois é a conjugação do presente do indicativo do verbo "mear", que significa dividir.

    Ex: Ela meia o trabalho todos os dias.

    Gabarito do monitor: A

  • Adverbio não flexiona.