SóProvas


ID
2684578
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara Municipal de São José dos Campos - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Teria eu meus seis, meus sete anos. Perto da gente, morava o “casal feliz”. Ponho as aspas porque o fato merece. Vamos que eu pergunte, ao leitor, de supetão: – “Você conhece muitos ‘casais felizes’?” Aí está uma pergunta trágica. Muitos afirmam: – “A coabitação impede a felicidade” etc. etc. Não serei tão radical. Nem podemos exigir que marido e mulher morem um no Leblon e outro para lá da praça Saenz Peña. Seja como for, uma coisa parece certa: – o “casal feliz” constitui uma raridade.

      Normalmente, marido e mulher têm uma relação de arestas e não de afinidades. Tantas vezes a vida conjugal é tecida de equívocos, de irritações, ressentimentos, dúvidas, berros etc. etc. Mas o “casal feliz” de Aldeia Campista conseguira, graças a Deus, eliminar todas as incompatibilidades. Era a mais doce convivência da rua, do bairro, talvez da cidade. Quando passavam, de braços, pela calçada, havia o sussurro espavorido: – “Olha o casal feliz!”. Da minha janela, eu os via como dois monstros.

      Estavam casados há quinze anos e não havia, na história desse amor, a lembrança de um grito, de uma impaciência, de uma indelicadeza. Até que chegou um dia de Carnaval e, justamente, a terça-feira gorda. O marido saiu para visitar uma tia doente, não sei onde. A mulher veio trazê-lo até o portão. Beijaram-se como se ele estivesse partindo para a guerra. E, no penúltimo beijo, diz a santa senhora: – “Meu filho, vem cedo, que eu quero ver os blocos”. Ele fez que sim. E ainda se beijaram diante da vizinhança invejosa e frustrada. Depois, ela esperou que ele dobrasse a esquina. E as horas foram passando. A partir das seis da tarde ficou a esposa no portão. Sete, oito, nove da noite. Os relógios não paravam. Dez da noite, onze. E, por fim, o marido chegou. Onze.

      O “casal feliz” foi parar no distrito.

      Pois bem, contei o episódio para mostrar como o “irrelevante” influi nas leis do amor e do ódio. Por causa de uma mísera terça-feira gorda, ruía por terra toda uma pirâmide de afinidades laboriosamente acumuladas. No dia seguinte, separaram-se para sempre.

           (Nelson Rodrigues, O reacionário – memórias e confissões. Adaptado)

A frase do narrador em que ele emprega linguagem figurada para se referir aos relacionamentos é:

Alternativas
Comentários
  • peguinha safado da vunesp:

    a questão pediu em relação AOS RELACIONAMENTOS(UM TODO), e não AO CASAL.

    a alternativa A) nem tem uso de linguagem figurada, a B/C/E têm uso porém são relacionadas ao CASAL.

    Gabarito D)

  • A vida não pode ser "tecida": costurada. A palavra foi empregada no sentido conotativo: figurado.

    d) Tantas vezes a vida conjugal é tecida de equívocos, de irritações...

  • e eu achando que era a letra d :(

  • por que a letra B está errada

  • ele estava falando dos relacionamentos como um todo e nao do casal. por isso a B está errada

     

    Sentido figurado = sentido conotativo (nao real das coisas)

    sentido denotativo = sentido real (D = DICIONÁRIO)

  • Eu tbm me co fundi na B , por conta da (como guerra) da ideia de último...
  • Nessa questão você teria que identificar a alternativa que contém linguagem figurada e que se refere aos RELACIONAMENTOS, como dito pelo comentário do Leonardo.

     

    a)O “casal feliz” foi parar no distrito. ( Não há linguagem figurada)

     

     b)Beijaram-se como se ele estivesse partindo para a guerra. ( Há lingugagem figurada de comparação , porém é em relação ao casal e não aos relacionamentos)

     

     c)No dia seguinte, separaram-se para sempre. ( Há linguagem figurada de exagero, porém é em relação ao casal e não aos relacionamentos)

     

     d)Tantas vezes a vida conjugal é tecida de equívocos, de irritações...( Há lingugagem figurada, a forma "tecida" é empregada no sentido literal na forma de tecer, ex: A toalha da mesa foi tecida pela minha avó) Porém, na questão essa forma é empregada como algo que ocorre progressivamente, constantemente).

     

    e)E ainda se beijaram diante da vizinhança invejosa...( Não há linguagem figurada)

  • Gabarito letra D.

    Errei na prova essa dai e acabei fiquei por 1 questão da aprovação! 

    A linguagem figurada tem que se referir ao RELACIONAMENTO (alternativa D). Marquei a B no dia. Falta de atenção ao enunciado é fatal em provas muito objetivas como as da Vunesp.

    Bons estudos!

  • Sempre encarei questões como essas da seguinte forma;

    Eu tento imaginar a cena, se ficar totalmente sem noção, é sentido conotativo.

    Beijar como se estivesse partindo para a guerra... ao meu ver (se eu estiver errado me corrija inbox) isso não é sentido conotativo.

    Realmente uma pessoa pode se despedir de outra da mesma intensidade e paxão em relação a outra pessoa que despede de ente querido que parte para a guerra.

    Imagine a cena, não é tão sem noção assim.

    Agora imagine uma entidade, chamada de Senhora Vida Conjugal, com membros, tronco e cabeça, sentada numa cadeira, fazendo crochê; em que uma linha chama equívocos e a outra irritações.

    Isso é sentido conotativo.

  • Creio que em questoes como essa deve-se adotar o Chaves. Sim! O garoto pobre que mora no 8 pode nos ajudar. Recite a alternativa, na sua mente, para o personagem criado por Carlos Bolanos. Se ele não entender e disser alguma coisa digna daquela risada de plateia pixelada ao fundo, podes crer, é sentido figurado.