SóProvas


ID
2686243
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Barretos - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Recentemente, acabei me detendo num debate sobre o conceito de reputação. Antes a reputação era apenas boa ou ruim e, diante do risco de ter uma má reputação, muitos tentavam resgatá-la com o suicídio ou com crimes de honra. Naturalmente, todos desejavam ter uma boa reputação.

      Mas há muito tempo o conceito de reputação deu lugar ao de notoriedade.

      O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”. O valor predominante é aparecer e naturalmente o meio mais seguro é a TV. E não é necessário ser um renomado economista ou um médico agraciado com o prêmio Nobel, basta confessar num programa lacrimogêneo que foi traído pelo cônjuge.

      Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação. E não é que as pessoas não almejem uma boa reputação, mas é muito difícil conquistá-la, é preciso protagonizar um ato heroico, ganhar um Nobel, e estas não são coisas ao alcance de qualquer um. Mais fácil atrair interesse, melhor ainda se for mórbido, por ter ido para a cama por dinheiro com uma pessoa famosa ou por ter sido acusado de peculato. Passaram-se décadas desde que alguém teve a vida destruída por ter sido fotografado algemado.

      O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.

      Ora, este frenesi de aparecer (e a notoriedade a qualquer custo, embora o preço seja algo que antigamente seria a marca da vergonha) nasce da perda da vergonha ou perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade).

      Também é sinal de falta de vergonha falar aos berros ao celular, obrigando todo mundo a tomar conhecimento das próprias questões particulares, que antigamente eram sussurradas ao ouvido. Não é que a pessoa não perceba que os outros estão ouvindo, é que inconscientemente ela quer que a ouçam, mesmo que suas histórias privadas sejam irrelevantes.

      Li que não sei qual movimento eclesiástico quer retornar à confissão pública. Claro, que graça pode ter contar as pró- prias vergonhas apenas para o confessor?

(Umberto Eco. Por que só a Virgem Maria? Pape satàn aleppe: Crônicas de uma sociedade líquida. Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)

O autor do texto traz uma reflexão sobre uma mudança de comportamento na sociedade atual. Trata-se da

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: d) disposição das pessoas em se submeterem a situações antes consideradas vexatórias como um meio de satisfazer a necessidade de serem percebidas.

    Reescritura:  Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação.

  • "...perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade)."

     

    D) disposição das pessoas em se submeterem a situações antes consideradas vexatórias como um meio de satisfazer a necessidade de serem percebidas.

  • Certeza que o autor se inspirou no livro "A sociedade do espetáculo" de Guy Debord para escrever essa crônica. Infelizmente a vida em sociedade se tornou isso que o autor descreveu: a perda ou substituição de valores decentes por atitudes midiáticas. 

  • Aí tu pega uma prova pra Juíz e o texto tem 15 linhas e as afirmativas são simples.

  • Gabarito D

  • Só que uma prova de juiz não é só composta de português, até por que cuida-se em saber mais sobre os conhecimentos dos aspectos do direito que gramática em si, não é por que em uma prova de juiz "o português" seja mais singular  que a prova seja mais fácil ou que exige  menos do candidato.. antes de falar isso..vai lá fazer a prova e depois me diz!!

     

     

  • 5º parágrafo do texto: O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.