SóProvas


ID
2691247
Banca
FCC
Órgão
SABESP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      A mitificação dos homens é um fato social comum, e um dos mais perniciosos. Desde que um nome emerge, por qualquer razão, da massa anônima, está o seu dono sujeito a virar mito. Com isso, naturalmente, soma-se às forças dessa pessoa um dinamismo novo, que raramente reverte em benefício dos demais homens. De qualquer modo, uma coisa preciosa se perde: a verdade da condição real desse indivíduo.

      O escritor é um dos tipos sociais mais sujeitos a esse fenômeno. Já ouvi, inúmeras vezes, queixas como esta: “Que decepção, o Fulano. Julgava-o diferente. É um homem como outro qualquer”. Sim, as pessoas se surpreendem que os escritores comam, tropecem no beiço da calçada, assoem o nariz etc. Isso, nos casos mais graves de delírio adolescente. Mas é muito comum pensar-se que os escritores têm o mundo totalmente decifrado dentro de sua cabeça e não são suscetíveis de vacilar um instante sobre que decisão tomar em face desta ou daquela contingência.

      E o curioso é que essa vontade idealista do público se reflete frequentemente no escritor: e ei-lo se compondo, como diante do fotógrafo, a fim de não contrariar a imagem que os leitores criaram de sua pessoa. A propósito desse fenômeno, que termina por influenciar diretamente a própria obra do escritor, Roland Barthes escreveu que, na França, os homens de letras tinham todos se educado na “arte de morrer em público”. É a frase do gênio alemão, à hora da morte: “mais luz, mais luz”. (Se Goethe disse isso ou não, pouco importa: a frase é necessária para compor o mito.) No entanto, o velho e sábio Sócrates não se preocupou com que sua derradeira frase fosse esta: “Críton, nós devemos um galo a Asclépio; não te esqueças de pagá-lo”.

      Há, por outro lado, um esforço permanente dos biógrafos para fazer dos escritores e dos artistas personagens ideais. Ou para detratá-los, lançando mão de detalhes de sua vida particular. Tanto num caso, como noutro, deixa-se de lado o fato simples de que a obra de arte, quando acontece, é uma vitória da pessoa sobre seus defeitos e suas virtudes cotidianas.

(GULLAR, Ferreira. Melhores Crônicas. São Paulo, Global, 2012, ed. digital) 

Conforme o texto,

Alternativas
Comentários
  • " E o curioso é que essa vontade idealista do público se reflete frequentemente no escritor:"

  • formulação geral feita no início do texto =  A mitificação dos homens é um fato social comum, e um dos mais perniciosos. Desde que um nome emerge, por qualquer razão, da massa anônima, está o seu dono sujeito a virar mito.

     

     

    exemplo particular = O escritor é um dos tipos sociais mais sujeitos a esse fenômeno. (2º parágrafo)

     

     

    Obs.: essa estratégia de partir de uma questão geral para só então entrar na questão particular é muito utilizada e recomendada pelos professores de português quando for elaborar uma redação.

     

     

     

     

     

     

    GAB: E

  • passando a adotar esta como parâmetro para mitificá-los.  é o que desbanca a opção D. Muito cuidado!

  • erros que identifiquei a correta:

    A) . os escritores não acham que têm o mundo decifrado em suas cabeças

    b) Goethe é luz/ Socratés é real: pelo comentário não esqueça que temos que paga-lo

    c)os biografos  estão mais preocupados com detalhes da vida particular

    d) no final da frase. antes era MITO depois que conhece o escritor é desmistificado..

  • Na letra D se trocar o esta por aquela, a alternativa fica correta.

  • Muito bom o texto. Apesar de ser de 2004 cabe "como uma luva" nesse exato momento social, que pelo simples fato de cagar na internet torna um "mito" o cidadão.

  • A alternativa letra "E" (a mitificação dos escritores, tratada como exemplo particular de uma formulação geral feita no início do texto, faz com que muitas vezes eles se tornem reféns da imagem alimentada pelo público e mesmo por seus próprios biógrafos) pode ser encontrada na seguinte passagem do texto:

     

    "Há, por outro lado, um esforço permanente dos biógrafos para fazer dos escritores e dos artistas personagens ideais. Ou para detratá-los, lançando mão de detalhes de sua vida particular"

  •  Gabarito: E

    Explicação:

     

    A tese do texto é bem simples: os escritores muitas vezes são elevados ao status de mito, então as pessoas esquecem que são pessoas normais, que são falhas e cometem erros, e se decepcionam com elas. Ao mesmo tempo, alguns escritores, como reflexo de serem objeto dessa alta expectativa moral, acabam tentando parecer tão bons quanto o patamar que se espera deles, na condição de mitos.

    Isso é parafraseado em :

    a mitificação dos escritores, tratada como exemplo particular de uma formulação geral feita no início do texto, faz com que muitas vezes eles se tornem reféns da imagem alimentada pelo público e mesmo por seus próprios biógrafos.

     

    Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/prova-comentada-sabesp-fcc-portugues/

  • CORRETA E: A mitificação dos escritores, tratada como exemplo particular de uma formulação geral feita no início do texto, faz com que muitas vezes eles se tornem reféns da imagem alimentada pelo público e mesmo por seus próprios biógrafos. 

     

    No texto:

    " A mitificação dos homens é um fato social comum, e um dos mais perniciosos. Desde que um nome emerge, por qualquer razão, da massa anônima, está o seu dono sujeito a virar mito. "

     

    "O escritor é um dos tipos sociais mais sujeitos a esse fenômeno."

     

    "E o curioso é que essa vontade idealista do público se reflete frequentemente no escritor: e ei-lo se compondo, como diante do fotógrafo, a fim de não contrariar a imagem que os leitores criaram de sua pessoa."

    e

    "Há, por outro lado, um esforço permanente dos biógrafos para fazer dos escritores e dos artistas personagens ideais. Ou para detratá-los, lançando mão de detalhes de sua vida particular"

     

     

     

  • Sejamos objetivos, sem perder tempo com viagem. A tese do texto é bem simples: os escritores muitas vezes são elevados ao status de mito, então as pessoas esquecem que são pessoas normais, que são falhas e cometem erros, e se decepcionam com elas. Ao mesmo tempo, alguns escritores, como reflexo de serem objeto dessa alta expectativa moral, acabam tentando parecer tão bons quanto o patamar que se espera deles, na condição de mitos.

    Isso é parafraseado em :

    a mitificação dos escritores, tratada como exemplo particular de uma formulação geral feita no início do texto, faz com que muitas vezes eles se tornem reféns da imagem alimentada pelo público e mesmo por seus próprios biógrafos.


    Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/prova-comentada-sabesp-fcc-portugues/

  • O comportamento de Sócrates reflete o postulado do Apóstolo Paulo "A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor recíproco".