SóProvas


ID
2701849
Banca
CETREDE
Órgão
Prefeitura de Aquiraz - CE
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                           TEXTO I

   

                                    A moça em prantos


      O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido. Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único poema, nem mesmo uma modesta crônica.

      Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar, tinham motivos bastantes para isso, desde as fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância e criam neuras para o resto da vida.

      Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí pelos 15 anos ou pouco mais.

      E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos.

      Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora convencida a continuar com o insípido velocípede?

      Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.

                                                                                      Carlos Heitor Cony

De acordo com o Texto I, é CORRETO afirmar que

Alternativas
Comentários
  • "Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor."

    Gab. C

  • A "D" e a "E" estão muito distantes do que o texto fala.

    "A" e "B" dizem praticamente a mesma coisa em outras palavras.

    Sobrou a C.

  • A) o choro é permitido apenas às crianças. -->

    "...Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar,..." (2º parágrafo)

    O autor ACHAVA que só as crianças podiam chorar. Isso não significa que por ele achar isso, somente era permitido a elas chorar.

    B) os adultos não podem chorar -->

    "Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso..." (3º parágrafo)

    Para o autor, isso era um fato incompreensível, mas isso não significa que não poderia acontecer.

    D) as pessoas choram sempre às claras. -->

    Apesar desse trecho no texto: "...A moça que chorava não se escondera..." (6º parágrafo)

    É extrapolação de ideias dizer que as pessoas SEMPRE choram às claras

    E) choramos por um único motivo. -->

    "...Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos." (4º parágrafo)

    "...Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza." (6º parágrafo)

  • "Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor."

    Explicitamente letra C

  • Letra A e B tem a mesma ideia escolhendo uma a outra tbm estaria certa, então não poderia ser o gabarito.

    Gab (C)