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ID
2713048
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                A indústria do espírito

                                                JORDI SOLER – 23 DEZ 2017 - 21:00


      O filósofo Daniel Dennett propõe uma fórmula para alcançar a felicidade: “Procure algo mais importante que você e dedique sua vida a isso”.

      Essa fórmula vai na contracorrente do que propõe a indústria do espírito no século XXI, que nos diz que não há felicidade maior do que essa que sai de dentro de si mesmo, o que pode ser verdade no caso de um monge tibetano, mas não para quem é o objeto da indústria do espírito, o atribulado cidadão comum do Ocidente que costuma encontrar a felicidade do lado de fora, em outra pessoa, no seu entorno familiar e social, em seu trabalho, em um passatempo, etc. [...]

      A indústria do espírito, uma das operações mercantis mais bem-sucedidas de nosso tempo, cresceu exponencialmente nos últimos anos, é só ver a quantidade de instrutores e pupilos de mindfulness e de ioga que existem ao nosso redor. Mindfulness e ioga em sua versão pop para o Ocidente, não precisamente as antigas disciplinas praticadas pelos mestres orientais, mas um produto prático e de rápida aprendizagem que conserva sua estética, seu merchandising e suas toxinas culturais. [...]

      Frente ao argumento de que a humanidade, finalmente, tomou consciência de sua vida interior, por que demoramos tanto em alcançar esse degrau evolutivo?, proporia que, mais exatamente, a burguesia ocidental é o objetivo de uma grande operação mercantil que tem mais a ver com a economia do que com o espírito, a saúde e a felicidade da espécie humana. [...]

      A indústria do espírito é um produto das sociedades industrializadas em que as pessoas já têm muito bem resolvidas as necessidades básicas, da moradia à comida até o Netflix e o Spotify. Uma vez instalada no angustiante vazio produzido pelas necessidades resolvidas, a pessoa se movimenta para participar de um grupo que lhe procure outra necessidade.

      Esse crescente coletivo de pessoas que cavam em si mesmas buscando a felicidade já conseguiu instalar um novo narcisismo, um egocentrismo new age, um egoísmo raivosamente autorreferencial que, pelo caminho, veio alterar o famoso equilíbrio latino de mens sana in corpore sano, desviando-o descaradamente para o corpo. [...]

      Esse inovador egocentrismo new age encaixa divinamente nessa compulsão contemporânea de cultivar o físico, não importa a idade, de se antepor o corpore à mens. Ao longo da história da humanidade o objetivo havia sido tornar-se mais inteligente à medida que se envelhecia; os idosos eram sábios, esse era seu valor, mas agora vemos sua claudicação: os idosos já não querem ser sábios, preferem estar robustos e musculosos, e deixam a sabedoria nas mãos do primeiro iluminado que se preste a dar cursos. [...]

      Parece que o requisito para se salvar no século XXI é inscrever-se em um curso, pagar a alguém que nos diga o que fazer com nós mesmos e os passos que se deve seguir para viver cada instante com plena consciência. Seria saudável não perder de vista que o objetivo principal dessas sessões pagas não é tanto salvar a si mesmo, mas manter estável a economia do espírito que, sem seus milhões de subscritores, regressaria ao nível que tinha no século XX, aquela época dourada do hedonismo suicida, em que o mindfulness era patrimônio dos monges, a ioga era praticada por quatro gatos pingados e o espírito era cultivado lendo livros em gratificante solidão.

(Adaptado de: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/26/opinion/1506452714_976157.html>. Acesso em 27 mar. 2018)

Em relação às funções de “que”, considere o seguinte excerto e assinale a alternativa correta: “Essa fórmula vai na contracorrente do que propõe a indústria do espírito no século XXI, que nos diz que não há felicidade maior do que essa que sai de dentro de si mesmo [...]”.

Alternativas
Comentários
  • a indústria do espírito

  • ORaquel obrigada pela Dica
  • Questão: Em relação às funções de “que”, considere o seguinte excerto e assinale a alternativa correta: “Essa fórmula vai na contracorrente do que propõe a indústria do espírito no século XXI, que nos diz que não há felicidade maior do que essa que sai de dentro de si mesmo [...]”.

    ( A ) Em “que nos diz”, “que” substitui a expressão “a indústria do espírito”.

    Comentário:

    De fato, pois o "que" é utilizado como pronome relativo, retomando, portanto, a expressão anterior e concordando também com ela. (A industria do espírito do século XXI, a qual nos diz que (...))

    ( B ) Em “que não há felicidade”, “que” substitui o verbo “diz”.

    Comentário

    Não substitui literalmente ninguém, visto que esse não é um pronome relativo, como a alternativa acima, mas sim uma Conjunção Integrante (OSS Objetiva Direta).

    ( C ) Em “maior do que”, “que” pode ser substituído por “qual”.

    Comentário

    O "que" é utilizado dentro da locução comparativa com intensificador adverbial "maior". Não é um pronome relativo para haver o intercâmbio entre o "que" e suas derivações "o/a(s) qual(is)"

    ( D ) Em “que sai de dentro de si mesmo”, “que” substitui a palavra “fórmula”.

    Comentário

    Esse "que" realmente substitui uma palavra, porém, não é "fórmula", mas sim "felicidade". É um pronome relativo, portanto.

    ( E ) A fim de evitar a repetição de “que”, esse termo poderia ser substituído por “qual” em “que não há felicidade”.

    Comentário

    Não poderia, visto que esse "que" é utilizado como conjunção integrante, não um pronome relativo.

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    GABARITO, PORTANTO: LETRA A.

  • Puts eu aceeto tudo e na hora da prova eu nao sei fazer nem uma

  • Tipos de "QUE"

    Conjunção consecutiva → tão...que/ tal...que/ tanto que...

    Conjunção Comparativa → mais...que/ menor...que/ maior...que

    Conjunção aditiva → entre verbos repetidos, ideia de adição que=e "Os políticos mentem que mentem"

    Conjunção explicativa → após imperativos que = POIS

    Locução conjuntiva → mais de uma palavra, carga semântica variada ainda que/ já que/ mesmo que/ para que

    Substantivo → acentuado/determinante QUÊ

    Pronome interrogativo → perguntas que/ o que

    Advérbio de intensidade → não modifica o substantivo = QUÃO

    Partícula expletiva de realce → Refere ao substantivo, não tem função sintática nem semântica, combinado com o verbo pode ser suprimido "Que coisa mais desagradável"

    Pronome relativo → substitui o termo adjacente, introduz oração adjetiva

    Conjunção integrante → só une orações, introduz subordinada substantiva

    Preposição acidental → Ter/haver + infinitivo que=DE "Temos que avaliar nossas metas" = "Temos de avaliar nossas metas"

  • Quem nos diz? A indústria do espírito.