SóProvas


ID
2713249
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.


Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.


      Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam.


      A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.


      Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.


(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017) 

Pode-se inferir da argumentação de Pierre Clastres que

Alternativas
Comentários
  • "Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor. "

    (...)

    "Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam."

  • Na verdade eu acho que o texto é bem cultural, transpõe a realidade de outra cultura e tende a ser um grande acréscimo nas nossas vidas como leitores.

     

    O autor, já falecido, foi um grande antropólogo.

     

    Falta às vezes um teor de humildade em certas pessoas.

  • Interpretação séria é superficial; se aprofundarmos, vemos os "selvagens" de uma forma descontraída

    Abraços

  • Gabarito D

    Infere-se que costumamos interpretar com seriedade as narrativas mitológicas, o que nem sempre é adequado no tocante aos mitos indígenas.

  • Estratégias para Compreensão/Interpretação de Textos

     

    1) Leia o texto despretensiosamente uma primeira vez, como se quisesse apenas se inteirar do assunto; e uma segunda vez, para confirmar sua primeira percepção sobre como ele foi articulado: narração, descrição, dissertação...

    2) Na segunda vez, sem muita pressa, resuma cada parágrafo, buscando sempre a ideia mais

    importante dele; parafraseie as ideias para ficarem mais claras em sua mente. Releia quantas vezes forem necessárias (administre seu tempo!).

    3) Em textos dissertativos, não deixe de sublinhar o tópico frasal (a frase mais importante) de cada parágrafo, pois lá estará a opinião ou tese do autor.

    4) Como normalmente os textos das provas de concurso são dissertativo-argumentativos, observe as estratégias de argumentação do texto: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho de autoridade, comparação, fato-exemplo, enumeração.

    5) Mais do que isso, observe entre cada par de parágrafos se há entre eles alguma relação de esclarecimento, resumo, explicação, exemplificação, descrição, enumeração, oposição, conclusão (estude os operadores argumentativos para este fim).

    6) Importante: se o enunciado mencionar tema ou ideia principal, ele se refere à tese. Vá direto ao(s) parágrafo(s) de introdução ou conclusão do texto; sempre há uma reiteração do conteúdo principal do texto.

    7) Não se desespere com palavras técnicas ou não usuais, pois elas não serão o foco da questão; no entanto, tente depreender o sentido delas pelo contexto.

    8) Não queira adivinhar o que o autor quis dizer, mas apegue-se tão somente ao texto, nunca extrapole a visão dele. Seja objetivo, não “viaje”, pois as respostas são encontradas no texto! Por isso, procure as “pistas” espalhadas nele.

    9) Nas questões, busque o comando delas, e sublinhe, para manter o foco: “Infere-se... Deduz-se... Conclui-se... A ideia central é...”.

    10) MARQUE A QUESTÃO CERTA, POR FAVOR!

     

    Descontraia-se! Fazer uma prova despretensiosamente é a melhor arma do candidato. Eu falei despretensiosamente, não “desconcentradamente”! Desconcentrado nunca! A despretensão tira de você aquele peso nas costas de fazer uma prova difícil.

     

    O Que Cai Mais na Prova? Se eu fosse você, estudaria os tipos de texto (narração e dissertação, principalmente). Sobre compreensão e interpretação de textos, procure sempre encontrar a resposta de uma questão dentro do texto. Outra dica: leia mais, faça questões de interpretação, leia mais um pouco, treine mais questões... este é o melhor método interpretativo. Aproveite as questões!

  • RAFA, te amo muito! Que comentário fantástico!

  • - LETRA D -

     

    A meu ver, a resposta está nesses dois trechos:

     

    Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito.

     

    Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade.

     

    Avante!

     

     

  • Letra D

    "Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam."