SóProvas


ID
2713264
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      O pintor Carlos Scliar atinge no momento presente uma serenidade que é característica simples e pura de um artista sem ansiedades e sem inquietações, serenidade que esteve sempre presente num José Pancetti e que permanece também unanimemente na obra de um Milton Dacosta, de um Guignard ou Iberê Camargo, serenidade que é uma espécie de densidade, de conteúdo irredutível e inalienável, símbolo de uma fatalidade e de uma vontade de arte que deixa de ser esforço para ser personalidade e natureza.

      Na hora exata em que os pintores, na sua maioria, se comprazem com o exame tão só das derivações da cor, a apreciação de um pintor que leva as suas indagações mais além, isto é, às derivações da luz, da semelhança, das formas objetiva ou indeterminada merece ser meditada dentro de uma avaliação mais detida e menos sumária.

      Scliar faz parte do número desses artistas que não dão à ocupação com as artes um sentido partidário, não é “concretista”, nem “figurista”, nem “geométrico”, nem “informal”, quero crer que também em sua vida habitual não torce pelo Flamengo ou pelo Vasco, e sendo assim apartidário é bem o exemplo daquele pintor que leva as suas indagações além da fixação das diferenciações de um único atributo da pintura. Diz Ortega y Gasset, com boa parte de verdade, que o homem é uma máquina de preferir; apenas com boa parte de verdade, digo eu, porque esta preferência não é constante e imutável, mas sofre incessantemente as flutuações do desejo, da esperança e da curiosidade.

      A insistência numa única e determinada coisa preferida revela um espírito de ascese e solidão, de hermetismo e alheamento que se distancia da vida − e a maior parte da pintura moderna se distancia da vida! Por isso o pintor Carlos Scliar, revalorizando certas qualidades estéticas, fazendo novamente e humanamente respeitar os valores da exatidão, da virtuosidade e da dificuldade, procura reintegrar a pintura na sua totalidade e na sua grandeza. Procura reintegrá-la numa verdade da qual nunca se afastou, podemos afirmar, a arte musical, tantas vezes tomada como exemplo ou paradigma para as outras artes.

      As preferências de Scliar, entretanto, não fogem de ser limitadas apenas nesses valores específicos e abstratos, também se realizam em termos mais genéricos: na natureza-morta, na paisagem, no retrato. As variações de cor, de luz, de tonalidades das suas naturezas-mortas demonstram uma intimidade com os objetos, uma variável constância, uma assiduidade, uma vigília; os seres prediletos dos seus quadros de natureza-morta dão a impressão de que estão velando, de que estão assistindo ao pintor no trabalho e no cuidado da obra elaborada, estão ali prestando-lhe o conforto da sua utilidade, trazendo-lhe a evidência do seu mutismo e docilidade, confiando-lhe, silenciosamente, os segredos de Morandi.

                                    (CARDOZO, J. “Carlos Scliar”, Habitat, SP, 1961) 

... esta preferência não é constante e imutável, mas sofre incessantemente as flutuações do desejo... (3° parágrafo)


A redação em que se atenua a oposição acima encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • Gab.: A

    As conjunções que  "atenuam" a oposição das conjunções adversativas por serem equivalentes são as conjunções concessivas.

  • CONCESSIVAS X ADVERSATIVAS

    Concessivas:ainda que, mesmo que, se bem que, por mais que, conquanto, posto que, embora apesar de que, em que pese, malgrado, a despeito, não obstante.

    Adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.

     

    A simples troca do "mas" pelo "embora" altera o sentido do texto.

    Como assim?

     

    As conjunções concessivas dentro de uma relação de oposição, trazem a ideia secundária.

    Exemplo: aquele boy é lindo, engraçado e trabalhador (ideia principal), embora não seja muito inteligente (ideia secundária).

    No exemplo, o que mais importa? QUE O BOY É LINDO, ENGRAÇADO E TRABALHADOR! Não ser inteligente vem como ideia secundária, NÃO vai influenciar muito na opinião quanto ao boy.

     

    Ao contrário, as adversativas vão trazer a ideia principal:

    Exemplo: aquele boy é lindo, engraçado e trabalhador (ideia secundária), mas não é muito inteligente (ideia principal).

    Nesse exemplo o importante é ele não ser inteligente (provavelmente esse boy não vai ser levado pra casa). Quando tu faz uma enumeração de virtudes e depois fala "MAS", parece que todas aquelas virtudes não serviram de nada, né?

    Ja dizia minha avó (e tb John Snow): "Tudo o que vem antes do "mas" vale bosta."

     

     

    Ainda, para substituir sem alteração de sentido, precisamos trocar a ordem:

     

    Dando importância ao fato de não ser inteligente:

    Aquele boy é lindo, engraçado e trabalhador (ideia secundária), mas não é muito inteligente (ideia principal).     OU

    Embora aquele boy seja lindo, engraçado e trabalhador (ideia secundária), não é muito inteligente (ideia principal).

     

    Dando importância ao fato de ser lindo, engraçado e trabalhador:

    Embora não seja muito inteligente (ideia secundária), aquele boy é lindo, engraçado e trabalhador (ideia principal).     OU

    Aquele boy não é muito inteligente (ideia secundária)mas é lindo, engraçado e trabalhador (ideia principal).

     

    Na questão: 

    ... esta preferência não é constante e imutável (ideia secundária), mas sofre incessantemente as flutuações do desejo (ideia principal).

     

    A ideia principal, o mais importante, é o fato de sofrer incessantemente as flutuações. Caso a gente queira atenuar essa ideia, podemos trocar o "mas" por "embora"

    ... esta preferência não é constante e imutável (ideia principal)., embora sofra incessantemente as flutuações do desejo (ideia secundária).

     

    Para não alterar o sentido, precisamos botar o embora na ideia secundária:

    Embora esta preferência não seja constante e imutável (ideia secundária), sofre incessantemente as flutuações do desejo (ideia principal). 

  • Assindética: apenas vírgulas no lugar de conjunções.

    Abraços

  • Não marquei a alternativa A por estar incoerente. Entendi que a banca não pedia especificamente isso, mas não acho plausível a alternativa correta estar incoerente. Vou explicar meu ponto de vista e aguardo a opinião dos colegas para que sinalizem se eu estiver viajando...

    A relação de concessão é uma ressalva que não é suficiente para mudar o resultado.

    Exemplo:

    A - Embora seja casado, frequenta festas. (a frase deixa implícito que ser casado deveria ser um impeditivo para ir a festas, mas que nesse caso não está sendo suficiente).

    B - É casado, embora não vá a festas (essa frase está incoerente, pois nesse caso não existe uma ressalva, visto que o comportamento é o esperado)

    Analisando a alternativa A:

    Esta preferência não é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo.  (a incoerência reside no fato de que sofrer incessantemente as flutuações do desejo não é uma oposição ao fato de "não ser constante e imutável" e sim a sua causa)

    CORREÇÕES POSSÍVEIS:

    Esta preferência é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo.

    Esta preferência não é constante e imutável, na medida em que sofre, incessantemente, com as flutuações do desejo.

  • Conjunções concessivas atenuam a oposição das conjunções adversativas.

    Conjunções concessivas atenuam a oposição das conjunções adversativas.

    Conjunções concessivas atenuam a oposição das conjunções adversativas.

    Conjunções concessivas atenuam a oposição das conjunções adversativas.

    Conjunções concessivas atenuam a oposição das conjunções adversativas.

     

    Não vamos esquecer! :)

     

  • As conjunções ADVERSATIVAS e CONCESSIVAS possuem valor de oposição com intençoes de uso diferentes. Com isso já poderíamos eliminar as outras alternativas, pois nenhuma delas têm valor de oposição.

     

     

    Um exemplo com intenções diferentes:

     

     

    Um advogado de acusação diz:  "O acusado possui boa conduta, mas matou". Ideia contrária que destaca a parte ruim.

     

    Já o advogado de defesa diz: "Embora tenha matado, o acusado possui boa conduta" Ideia contrária que destaca a parte boa. 

     

  • Não reparei q  pedia oposição

  • Só eu que acho que não há oposição nessa frase? Tudo bem que o "mas" é adversativo, PORÉM, nesse caso, as duas orações vão no mesmo sentido. Não é imutável E sofre flutuações. Não consegui ver a relação de oposição de idéias.

    Nunca consigo entender se a banca quer a regra fria ou a interpretação. Bendita prova OBJETIVA.

     

     

    Maia Hemerly

    Concordo que não seja coerente a ideia da alternativa A.

  • Correção:

     

    a) Esta preferência é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo. [Certo]

    a) Esta preferência não é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo. [Errado]

     

    Observação:  a questão possui erro de digitação, pois o examinador esqueceu de tirar o "não" da alternativa A.

    Créditos: M. Hemerly

  • Comentário: A oposição é dita forte, quando empregamos a estrutura coordenada adversativa, haja vista que a oração coordenada adversativa se apresenta como quebra de expectativa, rompimento de uma ideia anterior, e essa mudança da linha argumentativa é mais forte quando usamos os conectivos “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”, como se observa no trecho do terceiro parágrafo do texto:
    ... esta preferência não é constante e imutável, mas sofre incessantemente as
    flutuações do desejo...
    Normalmente, amenizamos essa quebra da linha argumentativa, mantendo a oposição, por meio da estrutura adverbial concessiva, como a que se encontra na alternativa (A).

  • Só a alternativa A traz uma concessão, sendo por isso a única que cabe para atenuar uma oposição (adversativa). Entretanto, na forma como foi feita, alterou o sentido, mas como a questão não falou nada em "manter o sentido original da frase", ela está correta.

  • A) Esta preferência não é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo. --> sentido de concessão/contraste/oposição; (Dentre todas, a única que passa a ideia de oposição!)-CORRETA


    B) Para que esta preferência não seja constante e imutável, sofre incessantemente as flutuações do desejo. --> sentido de finalidade;


    C)Como seja constante e imutável, sofre incessantemente as flutuações do desejo. --> sentido de causa/consequência;


    D)Esta preferência não é constante e imutável, desde que sofra incessantemente as flutuações do desejo. --> sentido de condição;


    E)Na medida em que esta preferência é inconstante e imutável, sofre incessantemente as flutuações do desejo. --> sentido de proporção.


  • a) E. Tem o mesmo sentido.
    b) E. O fato dela sofrer não é a causa para que não seja constante e imutável. Caso de oração final
    c) E. O fato dela constante e imutável, não é a causa para sofrer flutuações. Caso de oração causal.
    d) E. O fato dela constante e imutável não está atrelado ao fato de sofrer flutuações.Caso de oração condicional.
    e) E. O fato dela constante e imutável não está relacionado com as proporções de flutuação. Caso de oração proporcional.

  • Na medida em que É DIFERENTE de à medida que 

  • GABARITO A

     

    O enunciado da questão dá uma confundida, mas o que o examinador quer é a substituição da conjunção mas por outra adversativa que atenue a oposição.

     

    ... esta preferência não é constante e imutável, mas sofre incessantemente as flutuações do desejo...

     

    Substituindo a conjunção em destaque por outra, adversativa, que atenue a oposição na frase:

    ... esta preferência não é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo...

     

    * Note que há uma redução no sentido de oposição da frase, é como se ficasse menos "agressiva". Em questões desse tipo deve-se substituir a conjunção por outra do mesmo grupo (adversativa por adversativa, por exemplo), para que não seja alterado o sentido da frase. 

     

     

  • A esta altura da prova (Q.17) já estava achando a prova de português tão difícil que achei muito fácil óbvia a letra A e acabei não marcando imaginando que ali havia alguma pegadinha que não conseguia detectar... Até porque trocar "mas" por "embora" não atenua em nada a oposição, apenas troca 6 por meia dúzia.

    [UPDATE] Entendi a questão da atenuação com um comentário da colega Ana Leal, em resumo, ela diz que houve atenuação da oposição pelo fato da letra A trocar a conjunção adversativa "mas" por uma conjunção concessiva "embora".

  • Chupa Brasil!!!!!

    Acertei uma desta prova!!!!!



  • a conjunção coordenativa "mas" é adversativa, assim, deveriamos colocar uma conjunção que mitigasse/atenuasse o excerto, logo, seria viável colocar uma conjunção concessiva, no caso, "embora".

     

    letra a.

  • Muito boa a questão!

    Note que a oração “mas sofre incessantemente as flutuações do desejo” é introduzida por conjunção adversativa, que é responsável por enfatizar (destacar) essa oposição.

    Para atenuar (minimizar) essa oposição, devemos introduzi-la por um conector concessivo, como o faz a letra A, com o emprego da conjunção concessiva EMBORA.

    Resposta: A

  • José Maria | Direção Concursos

    Muito boa a questão!

    Note que a oração “mas sofre incessantemente as flutuações do desejo” é introduzida por conjunção adversativa, que é responsável por enfatizar (destacar) essa oposição.

    Para atenuar (minimizar) essa oposição, devemos introduzi-la por um conector concessivo, como o faz a letra A, com o emprego da conjunção concessiva EMBORA.

    Resposta: A

  • José Maria | Direção Concursos

    Muito boa a questão!

    Note que a oração “mas sofre incessantemente as flutuações do desejo” é introduzida por conjunção adversativa, que é responsável por enfatizar (destacar) essa oposição.

    Para atenuar (minimizar) essa oposição, devemos introduzi-la por um conector concessivo, como o faz a letra A, com o emprego da conjunção concessiva EMBORA.

    Resposta: A

  • Mas é muito coringa, podendo assumir a posição de adversativo, concessivo, aditivo...enfim, nesta composição o "mas" assume o papel concessivo, assim:

    As conjunções concessivas - indicam uma oração em que se admite um fato contrário à ação principal, mas incapaz de impedi-la, ainda que seja contra a decorreba de conjunções, valendo mais a análise semântica do emprego da palavra no contexto, ainda assim alguns exemplos na ordem das conjunções concessivas : Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que , apesar de que, nem que, que.

    Desta forma, a proposição correta encontra-se na letra "A" - "Esta preferência não é constante e imutável, embora sofra incessantemente as flutuações do desejo."

    Sigamos, uma hora vai.