O “politicamente correto” tem seus exageros, como
chamar baixinho de “verticalmente prejudicado”, mas,
no fundo, vem de uma louvável preocupação em não
ofender os diferentes. É muito mais gentil chamar
estrabismo de “idiossincrasia ótica” do que de vesguice.
O linguajar brasileiro está cheio de expressões racistas
e preconceituosas que precisam de uma correção, e até
as várias denominações para bêbado (pinguço, bebo,
pé-de-cana) poderiam ser substituídas por algo como
“contumaz etílico”, para lhe poupar os sentimentos.
O tratamento verbal dado aos negros é o melhor
exemplo da condescendência que passa por tolerância
racial no Brasil. Termos como “crioulo”, “negão” etc. são
até considerados carinhosos, do tipo de carinho que se
dá a inferiores, e, felizmente, cada vez menos ouvidos.
“Negro” também não é mais correto. Foi substituído por
afrodescendente, por influência dos afro-americans,
num caso de colonialismo cultural positivo. Está certo.
Enquanto o racismo que não quer dizer seu nome
continua no Brasil, uma integração real pode começar
pela linguagem.
VERÍSSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de Pernambuco. 10 jun. 2006 (adaptado).
Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada no Brasil e
as exigências do comportamento “politicamente correto”,
o autor tem a intenção de