SóProvas


ID
2759935
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de São Luís - MA
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.


    A vida privada não é uma realidade natural, dada desde a origem dos tempos: é uma realidade histórica. A história da vida privada é, em primeiro lugar, a história de sua definição: como evoluiu sua distinção na sociedade francesa do século XX? Como o domínio da vida privada variou em seu conteúdo e abrangência?

    A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais. Para a burguesia da Belle Époque1, não há nenhuma dúvida: o “muro da vida privada” separa claramente os domínios. Por trás desse muro protetor, a vida privada e a família coincidem com bastante exatidão. Esse domínio abrange as fortunas, a saúde, os costumes, a religião: se os pais que querem casar os filhos consultam o notário ou o pároco para “tomar informações” sobre a família de um eventual pretendente, é porque a família oculta cuidadosamente ao público o tio fracassado, o irmão de costumes dissolutos e o montante das rendas. E Jaurès2, respondendo a um deputado socialista que lhe censurava a comunhão solene da filha: “Meu caro colega, você sem dúvida faz o que quer de sua mulher, eu não”, marcava com grande precisão a fronteira entre sua existência de político e sua vida privada.

    Essa separação era organizada por uma densa teia de prescrições. A baronesa Staffe3, por exemplo, cita: “Quanto menos relações mantemos com a vizinhança, mais merecemos a estima e consideração dos que nos cercam”, “não devemos falar de assuntos íntimos com os parentes ou amigos que viajam conosco na presença de desconhecidos”. O apartamento ou a casa burguesa, aliás, se caracterizam por uma nítida diferença entre as salas para as visitas e os demais aposentos. O lugar da família propriamente dita não é o salão: as crianças não entram no aposento quando há visitas e, como explica a baronesa, as fotos de família ficariam deslocadas nesse recinto. Ademais, as salas de visitas não são abertas a todos. Se toda dama da boa sociedade tem seu “dia” de receber − em 1907, são 178 em Nevers4 −, a visita à esposa de um figurão supõe uma apresentação prévia. As salas de recepção estabelecem, portanto, um espaço de transição para a vida privada propriamente dita.


(Adaptado de: PROST, Antoine. Fronteiras e espaços do privado. In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (orgs.). História da vida privada 5: Da Primeira Guerra a nossos dias. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 14 e 15.)

Obs.: 1 Período de cultura cosmopolita na história da Europa que vai de fins do século XIX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

2 Jean Léon Jaurès (1859-1914): político socialista francês.

3 Pseudônimo de Blanche-Augustine-Angèle Soyer (1843-1911), autora francesa, célebre em seu tempo pela obra Uso do mundo, sobre como saber viver na sociedade moderna.

4 Região da França, ao sul-sudeste de Paris.

O texto legitima a seguinte inferência:

Alternativas
Comentários
  • O trecho que responde a questão pode ser inferido aqui: "A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais".

    Infere-se que o sentido de privado para classes mais baixas e burguesia são, por óbvio, diferentes.

  • O texto cita que o sentido é diferente dependendo dos meios sociais, mas em nenhum momento ele especifica que são camponeses, operários ou camadas mais baixas. Ele só cita um único exemplo, que são os burgueses!

    Discordo da letra E.

    Letra C é citada no texto: "Para a burguesia da Belle Époque, não há nenhuma dúvida: o 'muro da vida privada' separa claramente os domínios. Por trás desse muro protetor, a vida privada e a família coincidem com bastante exatidão."

    A burguesia da Belle Époque exemplifica uma específica visão de vida privada e vida pública, tida como padrão a ser adotado porque o grupo francês não conheceu nenhuma dúvida na delimitação dessas esferas.

  • Vanessa Loback, acredito que o erro na letra C está em "tida como padrão a ser adotado", já que em momento algum o texto faz referência a isso.

  • Também não entendi esse gabarito. Indiquem para ser comentada pelo professor!

  • que texto chato do caramba

  • Gab: E

    Se, na Belle Époque, as condições de vida de meios sociais como os camponeses, operários ou camadas mais baixas das cidades não lhes permitiam abrigar de olhares estranhos uma parte de sua vida, o sentido de “privada” era, para eles, distinto daquele que os burgueses conheciam.

  • Segundo o enunciado, pede-se a inferência. 

    inferência

    substantivo feminino

    1. ação ou efeito de inferir; conclusão, indução.

    2.LÓGICA: operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras.

    3.por extensão: proposição admitida como verdadeira em virtude dessa operação.

    4.ESTATÍSTICA: operação que consiste em, tomando por base amostras estatísticas, efetuar generalizações.

     

    Todas as outras opções estavam explícitas no texto. 

  • Marquei letra C, mas deram letra E !!!

  • texto chatão msm! acertei, mas tive que ler umas 5x e ainda marquei com dúvida

  • O erro da letra C é dizer que a burguesia de BELLE ÉPOQUE exemplifica vida pública e no texto só diz sobre VIDA PRIVADA  e concordo que a alternativa E ela extrapola o que pode ser subentendido.

  • GABARITO - LETRA "E"

    A questão pede uma inferência extraída do texto, portanto, a resposta não vai ser uma transcrição literal dele. A letra "E" pode ser entendida como inferência do texto com base em dois trechos.

     

    Se, na Belle Époque, as condições de vida de meios sociais como os camponeses, operários ou camadas mais baixas das cidades não lhes permitiam abrigar de olhares estranhos uma parte de sua vida, o sentido de “privada” era, para eles, distinto daquele que os burgueses conheciam.

     

    1º TRECHO: A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais.

    Perceba-se que a tese extraída desse excerto é a de que a questão do domínio da vida privada não é idêntica em todas as classes sociais. Aqui se encontra uma relação com a alternativa "E" ao afirmar que o sentido da vida privada para os camponeses, operários ou camadas mais baixas seria distinto do sentido de vida privada para os burgueses.

     

     2º TRECHO: Para a burguesia da Belle Époque1, não há nenhuma dúvida: o “muro da vida privada” separa claramente os domínios.

    Esse trecho guarda relação com o seguinte excerto: "as condições de vida de meios sociais como os camponeses, operários ou camadas mais baixas das cidades não lhes permitiam abrigar de olhares estranhos uma parte de sua vida". A alusão é sutil, mas é perceptível. Pode-se extrair do abordado trecho que a burguesia procura construir uma proteção entre o domínio público e o privado. Essa proteção seria representada pelo termo "muro". A alternativa "E", por seu turno, considera que as camadas mais baixas da sociedade não possuem essa proteção, por isso não conseguiriam abrigar dos olhares estranhos parte da sua vida privada.

  • FCC e seus "maravilhosos" textos. ARGH

  • Texto bom, Requer cuidado em sua compreensão!

  • A resposta extrapola o texto, mas talvez seja a menos pior

  • Texto insuportável 

  • E esse povo que fica colocando propagandas de compra de cursos aqui? Chato pra caramba...
  • Que coisa mais sem sentido!!!!

  • Que brisa é essa desse texto?

  • Que lombra é essa man

  • MISERICÓRDIA ESSE TEXTO... fiquei entre duas Ce E, e adivinhem!!! errei.

  • Li umas seis vezes até acertar.

  • Creio que os trechos que sustentam a inferência do examinador são estes:

    A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais.
    O apartamento ou a casa burguesa, aliás, se caracterizam por uma nítida diferença entre as salas para as visitas e os demais aposentos.

     

    ou seja, a casa burguesa era diferente da dos demais, condição essa que permitia abrigar de olhares estranhos sua vida privada

  • "  A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais. "  

    nesta linha do primeiro paragráfo está a resposta que é a letra E.  "vida privada não tem o mesmo sentido, em todas as sociedades." Cada cabeça é uma sentença"

  • to tentando ver o comentario da professora desde ontem e nao consigo.o video vai ate dez segundos e para.

    alguem com esse probleminha

  • desgraça,fiquei 10 minutos e ainda errei

  • questao dificil veio

  • "A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais."

    Fiquei questionando a alternativa "E" pelo trecho acima. É uma consequência até lógica e por senso comum que os mais pobres não tenham como ocultar boa parte de sua vida privada, porém devemos nos orientar pelo texto e através deste trecho dá a entender que a autora sabe quais contornos a vida privada tinha na sociedade burguesa, mas não é certo que este sentido tenha o mesmo em todos os meios sociais. (ou seja outros, meios sociais podem ou não dar o mesmo sentido que os burgueses - de acordo com o texto, claro)

  • Parabéns aos que acertaram, mas não vejo como a letra C esteja incorreta, senão vejamos: A Burguesia exemplifica a vida privada e a vida pública, haja vista haver um deputado membro dessa burguesia; ademais, tal deputado deixa bem claro, portanto delimita, os limites de sua vida privada. Ora, se é preciso delimitar é porque há uma dimensão pública a ser considerada.

    "E Jaurès2, respondendo a um deputado socialista que lhe censurava a comunhão solene da filha: “Meu caro colega, você sem dúvida faz o que quer de sua mulher, eu não”, marcava com grande precisão a fronteira entre sua existência de político e sua vida privada."

    Por seu turno, aqueles que se identificaram com a letra E incorreram numa extrapolação fantasioso, impossível deduzir apenas por este fragmento do texto: "A questão é tanto mais importante na medida em que não é certo que seu contorno tenha o mesmo sentido em todos os meios sociais." que pobres e camponeses teriam qualquer dificuldade para ocultar a face de sua vida privada. Não costumo comentar questões de português, mas esta me deixou particularmente indignado!

  • "Se, na Belle Époque, as condições de vida de meios sociais como os camponeses, operários ou camadas mais baixas das cidades não lhes permitiam abrigar de olhares estranhos uma parte de sua vida, o sentido de “privada” era, para eles, distinto daquele que os burgueses conheciam."

    Discordo, nem os burgueses conseguem abrigar de olhares estranhos uma parte de sua vida, já que os notários e os párocos, conhecendo e divulgando informações privadas, impedem isso.

  • Importante receber com cautela o comando da questão: há diferença entre constatação e inferência.

    Constatação: aquilo que o texto diz diretamente, verificação.

    Inferência: aquilo que pode ser subtendido nas entrelinhas, indução.

    A única opção em que há inferência correta de acordo com o conteúdo do texto é a letra E.

  • Para mim, a letra C é "mais correta" do que a letra E, que, para mim extrapolou muito o conteúdo do texto.

    Porém, interpretação é interpretação, algumas vezes entendo que é aberta à subjetividade. Fazer o que né, paciência.

    Como a Wanessa Loback colocou, pode se comparar os trechos da assertiva C e do trecho do texto, que são similares.

    TEXTO: "Para a burguesia da Belle Époque, não há nenhuma dúvida: o 'muro da vida privada' separa claramente os domínios. Por trás desse muro protetor, a vida privada e a família coincidem com bastante exatidão."

    ASSERTIVA C: A burguesia da Belle Époque exemplifica uma específica visão de vida privada e vida pública, tida como padrão a ser adotado porque o grupo francês não conheceu nenhuma dúvida na delimitação dessas esferas.