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ID
2777113
Banca
FCC
Órgão
TCE-RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: A questão refere-se ao texto a seguir, que trata da direção da economia brasileira no Segundo Reinado.

    Entre 1808, com a abertura dos portos, e 1850, no auge da centralização imperial, modificara-se a pacata, fechada e obsoleta sociedade. O país europeizava-se, para escândalo de muitos, iniciando um período de progresso rápido, progresso conscientemente provocado, sob moldes ingleses. O vestuário, a alimentação, a mobília mostram, no ingênuo deslumbramento, a subversão dos hábitos lusos, vagarosamente rompidos com os valores culturais que a presença europeia infiltrava, juntamente com as mercadorias importadas. O contato litorâneo das duas culturas, uma dominante já no período final da segregação colonial, articula-se no ajustamento das economias.
    Ao Estado, a realidade mais ativa da estrutura social, coube o papel de intermediar o impacto estrangeiro, reduzindo-o à temperatura e à velocidade nativas. A engrenagem de acomodação e amortecimento poderia e deveria, se homogêneas as economias e coerentes as concepções sobre estas, ser a obra dos comerciantes estrangeiros, nas filiais brasileiras ligadas à metrópole. Poderiam esses quistos comerciais, ainda, submeter a política financeira aos seus interesses, segundo o velho padrão colonial, que viriam substituir sem mudar a substância do vínculo.
    Na verdade, evitada a prematura bravata nacionalista, diga-se, desde logo, que a dependência da economia brasileira é inegável, mas não será, entretanto, uma dependência colonial, nem se afirmará no prolongamento da atividade metropolitana, passivamente aceita. Será uma dependência por via do Estado, sob a vigilância, desconfiada muitas vezes, entusiástica outras, de uma camada social, apta a participar das vantagens do intercâmbio, preocupada, não raro, em desviar-lhe o rumo submisso. A manipulação legal e financeira apressa ou retarda a integração, enquanto nas ruas o sentimento nativista, antiluso nas suas origens, ressente-se do invasor europeu, no qual identifica a arrogância colonialista.
    O núcleo diretor da intermediação situa-se na estrutura financeira do país. Sua fraqueza, bem como seus episódicos impulsos, dão a tonalidade à necessária passagem da maré estrangeira por um filtro nacional. O Tesouro, ao tempo que reflete a realidade econômica, a ordena e a dirige, na ânsia, depois de 1850 acentuada, de erguer o país do marasmo, de adequá-lo ao mundo moderno e de impor-lhe maior ritmo de progresso. Ele expressa, no contexto do aparelhamento estatal, a face da dependência e, na preocupação de desenvolvimento, a fisionomia larvarmente autonomista.

(FAORO, Raymundo. Estado dependente, sob a orientação do Tesouro. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. v. 2, 10. ed. São Paulo: Globo; Publifolha, 2000. Grandes nomes do pensamento brasileiro. p. 3 e 4)

O que se tem no parágrafo 4, considerado em seu contexto, abona o seguinte entendimento:

Alternativas
Comentários
  • Quase fiquei cego de tanto ler e reler, porém obtive êxito kkkk

  • Fui buscar maiores fundamentos para responder a questão nos parágrafos 3 e 4:



    Na verdade, evitada a prematura bravata nacionalista, diga-se, desde logo, que a dependência da economia brasileira é inegável, mas não será, entretanto, uma dependência colonial, nem se afirmará no prolongamento da atividade metropolitana, passivamente aceita. Será uma dependência por via do Estado, sob a vigilância, desconfiada muitas vezes, entusiástica outras, de uma camada social, apta a participar das vantagens do intercâmbio, preocupada, não raro, em desviar-lhe o rumo submisso. A manipulação legal e financeira apressa ou retarda a integração, enquanto nas ruas o sentimento nativista, antiluso nas suas origens, ressente-se do invasor europeu, no qual identifica a arrogância colonialista.

        O núcleo diretor da intermediação situa-se na estrutura financeira do país. Sua fraqueza, bem como seus episódicos impulsos, dão a tonalidade à necessária passagem da maré estrangeira por um filtro nacional. O Tesouro, ao tempo que reflete a realidade econômica, a ordena e a dirige, na ânsia, depois de 1850 acentuada, de erguer o país do marasmo, de adequá-lo ao mundo moderno e de impor-lhe maior ritmo de progresso. Ele expressa, no contexto do aparelhamento estatal, a face da dependência e, na preocupação de desenvolvimento, a fisionomia larvarmente autonomista.




    Resposta: E


    O Tesouro, ao atuar no ordenamento da economia, a manteve dependente do Estado, em dependência distinta da que o país conhecera antes; mas, simultaneamente, o Tesouro, ao empenhar-se no estímulo ao desenvolvimento, manifestou traços de soberania, ainda que imaturos.

  • Depois de meia hora tentando entender o enunciado e gastando uns 40 minutos em cada alternativa, entendi que:

    A questão pergunta qual das alternativas é verdadeira de acordo com o exposto no parágrafo 4:

     

    A) Errada

    Na questão: "as diretrizes do Tesouro Nacional dessem livre passagem ao avanço da maré estrangeira"

    No texto:  "dão a tonalidade à necessária passagem da maré estrangeira por um filtro nacional" 

     

    B) Errada

    Na questão: "acabou por imprimir ritmo de progresso maior do que a nação estava pronta a suportar." (extrapolação)

    No texto:  não encontrei nenhuma referência de que a nação não suportaria tal ritmo

     

    C) Errada

    Na questão: "o Tesouro brasileiro, de um lado, dirigiu com mãos de ferro as ações comerciais nativas"

    No texto: "O Tesouro...a ordena e a dirige, na ânsia, depois de 1850 acentuada, de erguer o país do marasmo"

     

    D) Errada

    Na questão: "o Tesouro era o mais dependente de resoluções dos demais domínios"

    No texto: "O Tesouro, ao tempo que reflete a realidade econômica, a ordena e a dirige"

     

    E) Certa

    Na questão: "O Tesouro, ao atuar no ordenamento da economia, a manteve dependente do Estado... mas...manifestou traços de soberania"

    No texto: "Ele expressa, no contexto do aparelhamento estatal, a face da dependência e, na preocupação de desenvolvimento, a fisionomia larvarmente autonomista."

  • O que me ajudou: "larvarmente autonomista" - em estágio larval, de larva, inicial <---> traços de de soberania, ainda que imaturos.

  • 30 minutos para responder cada questão de português dessa prova, no PC. Fico imaginando na hora da prova...

  • eu acerto as questões eliminando as que eu considero mais erradas, seno que eu não faço a mínima ideia de que local do texto a FCC retira essas inferências dela...