SóProvas


ID
279739
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Resende - RJ
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO III: 

                                            O cajueiro


      O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância, belo, imenso, no  alto do morro, atrás de casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
      Eu me lembro de outro cajueiro que era menor e morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do  cajá-manga, da pequena touceira de espadas-de-são-jorge e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a  meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos  arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes,  beijos, violetas. Tudo sumira, mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como
árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu  fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros  além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
      No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera; mas  assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras  terras um parente muito querido.
      A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira  abaixo, e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida,  pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram;  mas depois foram brincar nos galhos tombados.
      Foi agora, em setembro. Estava carregado de flores.

                                      (Rubem Braga, Cem crônicas escolhidas, Rio, José Olímpio, 1956, pp. 320-22)

Há uma infinidade de metáforas constituídas por palavras que denotam ações, atitudes ou sentimentos próprios do homem, mas aplicadas a seres ou coisas inanimadas. Tal recurso ocorre no trecho a seguir:

Alternativas
Comentários
  • A única alternativa que contém metáfora, pois retrata uma "vontade" de um ser inanimado, encontra-se na letra "E":
    .
    e) “como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa.”
    .
    .
    Como poderia o cajueiro querer alguma coisa?
    .
    .
    Bons estudos...
  • Pessoal,

    Metáfora: Segundo a gramática do Cegalla, 48º Edição, pág. 614: É o desvio da significação própria de uma palavra, nascido de uma comparação mental ou caracterísitca comum entre dois seres ou fatos.

    Ex: O pavão é um arco-íris de plumas.

    Os termos pavão e arco-íris existe uma relação de semelhança, uma característica comum: um semicírculo ou arco multicor.

    Bons estudos!

  • Atribuição de qualidades animadas a seres inanimados: prosopopéia.
  • A casa não pode ser velha, mas o cajueiro pode? É isso? 
    A casa é antiga? Não é velha pois não é viva, é essa idéia?

    Alguém confirma?
  • Se voltarmos ao texto veremos que a frase completa da letra E é a seguinte: "A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira abaixo, e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa".

    Verifica-se que, segundo o texto, o cajueiro não quis quebrar o telhado da casa, por isso caiu meio de lado.

    E é aí que se encontra a metáfora. Ora, o querer é um sentimento próprio do ser humano e não de uma árvore, como sugere o período.


  • A única alternativa que contém metáfora, pois retrata uma "vontade" de um ser inanimado, encontra-se na letra "E":
    .
    e) “como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa.” 
    .
    .
    Como poderia o cajueiro querer alguma coisa?
    .
    .
    Bons estudos...

  • Não consegui ver metáfora, apenas prosopopeia. Tudo bem ter que realizar questões difíceis, é algo necessário, mas questões controversas, isso é ridículo. Não marquei a E, pois achei que era prosopopeia. Mas é bom ir aprendendo o jeito de pensar da banca, agora já sei que eles consideram a metáfora uma prosopopeia.