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ID
2800606
Banca
FCC
Órgão
Câmara Legislativa do Distrito Federal
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Leia abaixo o Capítulo I do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, para responder à questão. 

      Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

      – Continue, disse eu acordando.

      – Já acabei, murmurou ele.

      – São muito bonitos.

      Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” – “Vou para Petrópolis, dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” – “Meu caro dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.

      Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 79-80.) 

De acordo com o texto,

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: letra D.

    Significado de Censurar: criticar, condenar, reprovar, repreender. 

  • Para ajudar a entender o texto:

    Amoado:

    que sente amuo, enfado; mal-humorado, agastado, melindrado, carrancudo.

  • Gabarito - D

     

     

    a) os amigos da cidade passam a se valer da alcunha Dom Casmurro por condenarem os versos do narrador. 

     

     

    →  Errado, conforme o trecho: "Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes"

     

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    b) o narrador sente-se incomodado com a forma como os amigos da cidade passam a se dirigir a ele. 

     

     

    → Errado, conforme o trecho: "Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei."

     

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    c) o narrador ficou amuado quando o rapaz do trem ameaçou tirar novamente os versos do bolso. 

     

     

    → Errado, quem estava "amuado" era o rapaz que leu os versos. Conforme o trecho: "Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado."

     

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    d) os vizinhos passam a reproduzir a alcunha Dom Casmurro por censurarem os hábitos reclusos do narrador. 

     

     

    →  Correto, conforme o trecho: "Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou."

     

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    e) o rapaz do trem inventa a alcunha porque o narrador censurou-lhe os versos.  

     

     

    →  Errado, o narrador em momento algum censurou os versos do rapaz, pelo contrário, ele os elogiou. Conforme o trecho: "– São muito bonitos."

     

     

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