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ID
2801059
Banca
FCC
Órgão
Câmara Legislativa do Distrito Federal
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      A retórica de que se trata aqui é essa metalinguagem (cuja linguagem-objeto foi o “discurso”) que reinou no Ocidente do século V a.C. até o século XIX d.C. Esse discurso sobre o discurso comportou várias práticas, presentes, simultânea ou sucessivamente, segundo as épocas, na “Retórica”, entre elas:

1. uma técnica, isto é, uma “arte”, no sentido clássico da palavra – arte da persuasão, conjunto de preceitos cuja aplicação permite convencer o ouvinte do discurso (e mais tarde, o leitor da obra), mesmo quando aquilo de que se deve persuadi-lo seja “falso”;

2. um ensinamento – de início transmitida por vias pessoais, inseriu-se rapidamente em instituições de ensino;

3. uma ciência, ou, em todo caso, uma protociência − um campo de observação autônomo delimitando certos fenômenos, a saber, os “efeitos” de linguagem;

4. uma moral – sendo um sistema de “regras”, a retórica está penetrada da ambiguidade da palavra: é ao mesmo tempo um manual de receitas, animadas por uma finalidade prática, e um Código, um corpo de prescrições morais, cuja função é vigiar (isto é, permitir e limitar) os “desvios” da linguagem passional;

5. uma prática social – a Retórica é essa técnica privilegiada (pois que é preciso pagar para adquiri-la) que permite à classe dirigente garantir para si a propriedade da palavra. Sendo a linguagem um poder, decidiu-se das regras seletivas de acesso a esse poder, constituindo-o em pseudociência, fechada para “aqueles que não sabem falar”, tributária de uma iniciação dispendiosa (nascida há 2500 anos de processo de propriedade, a retórica se esgota e morre na classe de “retórica”, consagração iniciática da cultura burguesa).

      A Retórica (como metalinguagem) nasceu do processo de propriedade. Por volta de 485 a. C., dois tiranos sicilianos, Géron e Hiéron, operaram deportações, transferências de população e expropriações, para povoar Siracusa e distribuir lotes aos mercenários; quando foram derrubados por um levante democrático e se quis voltar ao ante qua, houve inumeráveis processos, pois os direitos de propriedade estavam obscurecidos. Esses processos eram de um tipo novo e mobilizavam grandes júris populares, diante dos quais, para convencer, era preciso ser “eloquente”.

      Essa eloquência, participando ao mesmo tempo da democracia e da demagogia, do judicial e do político (o que se chamou depois de deliberativo), constituiu-se rapidamente em objeto de ensino. Os primeiros professores dessa nova disciplina foram Empédocles de Agrigento, Córax, aluno seu de Siracusa (o primeiro a cobrar pelas aulas), e Tísias. Esse ensino passou com igual rapidez para a Ática (depois das guerras médicas), graças às contestações dos comerciantes, que moviam processos conjuntamente em Siracusa e em Atenas: a retórica já é, em parte, ateniense desde meados do século V.

      Córax coloca já as cinco grandes partes da oratio, que formarão durante séculos o “plano” do discurso oratório: 1. exórdio; 2. narração (relação dos fatos); 3. argumentação ou prova; 4. digressão; 5. epílogo. É fácil verificar que, ao passar do discurso judicial para a dissertação escolar, esse plano conservou a sua organização principal: uma introdução, um corpo demonstrativo, uma conclusão.

(Adaptado de: BARTHES, Roland. “A Antiga Retórica”, A Aventura Semiológica, Lisboa, Edições 70, 1987) 

... houve inumeráveis processos, pois os direitos de propriedade estavam obscurecidos. Esses processos eram de um tipo novo. (2° parágrafo)


Uma nova redação para o segmento acima, coesa e articulada por meio de subordinação, sem prejuízo da clareza e do sentido, encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • "Como estivessem" - pretérito imperfeito do subjuntivo? O correto não seria: Como estavam (pretérito imperfeito do indicativo) obscurecidos os direitos de propriedade, houve (pretérito perfeito do indicativo) inumeráveis processos, que eram (pretérito imperfeito do indicativo) de um tipo novo? 

  • Bruno Nascim, a frase está correta sim, mas não está clara, visto que a melhor forma de encaixar haja vista na frase, seria usando "haja vista que", sendo assim, acredito, que torna a alternativa errada por falta de "clareza"

  • A alternativa "e" está errada justamente pelo sentido restritivo da frase, pois a frase original diz que "...houveram inúmeros processos.(...)" e que esses processos eram do tipo novo "Esses processos eram de um tipo novo".

     

    Ou seja, TODOS esses inúmeros processos eram do tipo novo, entao na frase da alternartiva e " Houve inumeráveis processos que eram de um tipo novo, os direitos de propriedade estavam obscurecidos." deveriam sim ter vírgula entre "processos" e "que".

  • Letra E: Houve inumeráveis processos que eram de um tipo novo, haja vista os direitos de propriedad e estavam obscurecidos. (estarem) ou haja vista que ... estavam obscurecidos.

  • Marquei a B, por falta de atenção, pois "os processos" que eram de um tipo novo, e não os direitos de propriedade. E por "parecer" mais correta do que a letra C, visualmente.

  • a) Houve inumeráveis processos, em que eram de um tipo novo, já que os direitos de propriedade estavam obscurecidos. 

     

     b )Houve inumeráveis processos, pois os direitos de propriedade, que estavam obscurecidos, eram de um tipo novo

    Os processos é que eram de um tipo novo.

     

     c) Como estivessem obscurecidos os direitos de propriedade, houve inumeráveis processos, que eram de um tipo novo. CERTA

     

     d) Estando obscurecidos os direitos de propriedade e havendo inumeráveis processos, que eram de um tipo novo. 

    Havia inúmeros processos porque os direitos estavam obscurecidos.. Não tem a relação causa-conseq.

     

     e) Houve inumeráveis processos que eram de um tipo novo, haja vista os direitos de propriedade estavam obscurecidos. 

    Estarem

  • Estou com a mesma dúvida de Gabriel Torraca.

    A troca do pretérito perfeito do indicativo pelo pretérito imperfeito do subjuntivo não provoca erro?

  • Peçam o comentário do professor gente!!