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ID
2829529
Banca
IDECAN
Órgão
CRF-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

E se o Império Romano não tivesse acabado?

    Em vez da França, a província de Gália. Em vez da Inglaterra, a Bretanha. Em vez da Bulgária, a Trácia. Quem já leu as aventuras de Asterix conhece bem esses nomes esquisitos de regiões dominadas pelos exércitos de Roma (as histórias do herói gaulês se passam por volta de 50 a.C., época do apogeu do Império Romano). Pois assim seria o Velho Mundo se o império com sede em Roma não tivesse se desintegrado: uma única nação contornando o Mediterrâneo ao longo das costas europeia, asiática e africana. Mas a mudança dos nomes das localidades europeias é a menos importante das diferenças. O mundo seria outro. O capitalismo talvez ainda não tivesse surgido e, sem ele, a conquista e a colonização da América não aconteceriam. No final das contas, o Brasil poderia ser até hoje uma terra de índios.
    Mas vamos aos poucos. Primeiro é bom lembrar o que houve com o império de Roma. O poder imperial começou a se esfarelar no século 3, quando ocorreram lutas internas entre generais e vivia-se uma verdadeira anarquia militar. Para se ter uma ideia, em 50 anos houve pelo menos 20 imperadores, que foram destituídos um após o outro (alguns inclusive reinaram simultaneamente, em conflito). 
    Não era para menos. A economia romana era baseada no trabalho escravo e o suprimento de escravos dependia da conquista de novos territórios. O problema foi que o reino tornou-se grande demais para ser administrado, as conquistas minguaram, os escravos escassearam e a vida boa acabou. A arrecadação de impostos diminuiu e a população pobre começou a reclamar. Para ajudar, ainda havia o cristianismo (que era contra a escravidão e a riqueza da elite) e uma peste que varreu a região. Nessa barafunda de problemas, tentou-se de tudo, até a divisão administrativa do império em dois, o do Ocidente (com sede em Roma) e o do Oriente (o Império Bizantino), com sede em Constantinopla (onde antes ficava Bizâncio).
    Para este último, a solução foi eficaz. Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos. Em 395, a divisão administrativa transformou-se em divisão política e o império rachou em dois. Deixada à própria sorte, a metade ocidental durou pouco. A queda definitiva ocorreu em 476, quando a tribo do rei Odoacro derrubou o último chefe de Roma, Rômulo Augústulo. No Oriente, no entanto, o Império Romano continuou existindo por quase mil anos, até 1453, quando os turcos tomaram Constantinopla.
    Se o Império Romano resistisse, possivelmente ele seria parecido com sua metade oriental, diz Pedro Paulo Funari, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em primeiro lugar, o imperador seria também o papa, como em Constantinopla, onde o imperador governava tudo o que interessava: o Exército e a Igreja. Ou isso ou haveria uma divisão de poderes com a Igreja. Essa mistureba de papéis provavelmente criaria situações curiosas, como bispos governando uma província como Portugal, ou melhor, a Lusitânia, e párocos dirigindo cidades.
    A influência religiosa seria ainda maior do que foi na Idade Média ou atualmente. Nas províncias, o divórcio e o aborto provavelmente seriam proibidos e não seria nenhum absurdo que alguns costumes alimentares cristãos, como comer peixe às sextas-feiras, tivessem a força de lei, com penas severas (o açoite, o exílio e a prisão domiciliar eram comuns) para quem degustasse uma costelinha no dia sagrado.
    As línguas derivadas do latim, como o português, o espanhol, o francês e o italiano, provavelmente seriam muito diferentes. O português, por exemplo, não teria sofrido a influência das línguas árabe e germânica, já que, nesse nosso mundo hipotético, possivelmente não ocorreriam as invasões dos germânicos e muçulmanos na península Ibérica. Palavras de origem árabe e tão portuguesas, como azeite, não fariam parte do nosso vocabulário.
    E o capitalismo? “Provavelmente demoraria mais para acontecer”, afirma Funari. “Impérios em geral dificultam o desenvolvimento do capitalismo, que depende do individualismo para se desenvolver. Um Estado muito forte e controlador é um obstáculo”, diz o historiador. Na Europa, o feudalismo e a fragmentação do poder favoreceram o surgimento do capitalismo. No Japão, onde houve a fragmentação do Estado e a implantação de um sistema de shogunato, isso também aconteceu, ao contrário da China, um império que durou até 1911. Retardado o capitalismo, a colonização da América também seria outra. E os astecas, incas, tupinambás e guaranis talvez tivessem se desenvolvido mais e oferecido maior resistência aos europeus. Indo mais longe, um império inca talvez pudesse existir até hoje. Mas essa é uma outra hipótese.

(Lia Hama e Adriano Sambugaro – http://super.abril.com.br/cultura/se-imperio-romano-nao-tivesse-acabado-444330.shtml?utm_source= redesabril_super&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_jovem.)

De acordo com o texto, a principal causa da queda do Império Romano é de natureza

Alternativas
Comentários
  • Ta aí uma das piores bancas para questões de interpretação de texto que já conheci, simplesmente lastimável

  • Gabarito C

    "Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos. "

  • Eu teria entrado com recurso usando os seguintes trechos mais contundentes que validariam a alternativa D:


    "O problema foi que o reino tornou-se grande demais para ser administrado, as conquistas minguaram, os escravos escassearam e a vida boa acabou."


    "Nessa barafunda de problemas, tentou-se de tudo, até a divisão administrativa do império em dois (...)".


    Bons estudos e boa sorte pra noix com essa banca bizarra ;)

  • "Mas a mudança dos nomes das localidades europeias é a menos importante das diferenças. O mundo seria outro. O capitalismo talvez ainda não tivesse surgido e, sem ele, a conquista e a colonização da América não aconteceriam. No final das contas, o Brasil poderia ser até hoje uma terra de índios."

  • Meu nível de acerto nessa banca, em interpretação de texto, está me mostrando que as 520 questões aqui vão ser poucas pra eu sair bem na prova.

  • Há respostas no texto para todas as alternativas...

  •  arrecadação de impostos diminuiu e a população pobre começou a reclamar. Para ajudar, ainda havia o cristianismo (que era contra a escravidão e a riqueza da elite).......


        ,,,,,,,,,Para este último, a solução foi eficaz. Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos.


  • Eu era boa em interpretação de texto até responder questões da IDECAN, CESPE, AMO VC! kkkkkkkkkkkkkDificilmente erro uma questão de interpretação do CESPE.

  • "O problema foi que o reino tornou-se grande demais para ser administrado"

    Independente da economia, o fato do reino ter ficado muito grande não foi o que culminou a explosão do problema? Nesse sentido, a questão administrativa não seria o cerne da questão?

    Ps: O concurso já foi homologado e o gabarito mantido.

    Por favor, peçam comentário do professor. E se alguém souber me explicar, eu agradeço.

  • Pois é... Se não foi bem economicamente é porque se convalesceu de uma boa política.

  • Meu amigo..

    Devia ter começado a fazer questões de interpretação da IDECAN antes.. porque essa prova ta me mostrando que toda questão tem umas 3 possíveis respostas certas.. o Estudo tem que ser para entender o que passa na cabeça do Examinador..

  • Caraca tô errando tudo dessa banca... Que diacho de banca do capeta é essa??
  • Pocha, se fosse só uma questão de interpretação de texto ruim dessa banca até ia, mas todas? como assim eles não usam da lógica em seus gabaritos?

  • Para este último, a solução foi eficaz. Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos.

  • o causa foi administrativa , a econômica foi consequência!! banca horrível.

  • O comando da questão pede:

    "De acordo com o texto, a principal causa da queda do Império Romano é de natureza"

    Presumo que fala de todo o império.

    Nesse trecho fala do Imp Romano Ocidente.

    "Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos. "

    Nesses trechos falam de maneira geral.

    "O problema foi que o reino tornou-se grande demais para ser administrado, as conquistas minguaram, os escravos escassearam e a vida boa acabou."

    "Nessa barafunda de problemas, tentou-se de tudo, até a divisão administrativa do império em dois 

    Acredito que seja administrativa, de acordo com o texto.

  • LETRA C

    Para entender o raciocínio da questão, FOCAR NO 3º PARÁGRAFO.

    "A economia romana era baseada no trabalho escravo e o suprimento de escravos dependia da conquista de novos territórios". (Aqui se descreve a sustentação econômica do império)

    "O problema foi que o reino tornou-se grande demais para ser administrado, as conquistas minguaram, os escravos escassearam e a vida boa acabou. A arrecadação de impostos diminuiu e a população pobre começou a reclamar". (Logo em seguida, vemos a descrição de uma crise em relação aos fatores econômicos)

    "Para este último, a solução foi eficaz. Mas o Império Romano do Ocidente, assolado pela crise econômica, perdeu seu poder militar e foi aos poucos invadido por guerreiros germânicos". (Continua a ênfase em critérios econômicos)

    Observem melhor, com uma leitura mais atenta, e perceberão que o cerne é o critério econômico. Os outros problemas estão de forma acessória, gerando a noção de que HAVIA UMA SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA EM CONSEQUÊNCIA DE UMA CRISE ECONÔMICA E OUTROS FATORES TAMBÉM CONTRIBUÍAM PARA O AUMENTO DELA.

  • Ótima explicação, obrigada Renato!

  • Concordo com a Guiarra...Acertei a questão pq tudo nesse mundo gira em volta do dinheiro, resolvi colocar econômica kkk, kkk claro que foi no chute, pois tá impossível acertar uma questao da Idecan sem chute

  • Questão complexa e que deve ser cobrada a fundamentação da banca para a assertiva tida com a correta.

  • sinceramente ... a resposta poderia ser qualquer uma

  • O que enfraqueceu Roma foi a economia, que por sua vez girava em torno da escravidão, isso fica evidente no texto. Com o aumento do império as guerras ficavam mais escassas e a falta de administração culminou na crise. Concluindo, a falta de administração surge a partir da crise econômica.
  • O jeito é torcer para essa banca não pegar os concursos bons que o candidato tanto espera!