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ID
2844874
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.

    Na narrativa tradicional, o narrador é em geral onisciente. Para citar um exemplo clássico: no Dom Quixote, de Cervantes, ele possui livre acesso à consciência da personagem principal. O Quixote personagem sabe menos a seu próprio respeito e a respeito daquilo que acontece do que o narrador de Cervantes. Este último tem garantida a distância que o separa do Quixote herói, e por isso é capaz de delimitar conscientemente os disparates do seu personagem. Isso explica o episódio em que o Cavaleiro da Triste Figura toma moinhos de vento por gigantes que, no seu delírio, é preciso combater. Mas hoje os tempos são outros, o universo se tornou complexo, os detalhes se multiplicaram e abriram passagem à alienação, à visão parcelada do mundo, em resumo: à falsa consciência. Um dos resultados desse desdobramento histórico, em termos artísticos, foi o narrador insciente, que não sabe nada, ou quase nada, tanto quanto o seu anti-herói (que é derrotado pelos obstáculos em vez de derrotá-los).
(Adaptado de: Modesto Carone (prefácio). Essencial Franz Kafka. Penguin/Companhia das Letras, 2011, edição digital.)

Considere o que se afirma abaixo a respeito das estratégias argumentativas do texto.

I. A obra Dom Quixote, de Cervantes, é citada para embasar o argumento de que na narrativa tradicional existem personagens que apresentam uma falsa consciência de si mesmos, a qual é inacessível para o próprio narrador.
II . Para introduzir o conceito de narrador insciente, que não sabe nada, ou quase nada, o autor recorre à comparação entre este e um narrador onisciente, ou seja, aquele que possui livre acesso à consciência da personagem principal.
III . A partir da definição de anti-herói apresentada, é possível inferir que um herói derrota os obstáculos com que depara.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • I- Errado: Está invertido o conceito de falsa consciência. Na verdade essa definição se refere aos "tempos atuais", ao narrador insciente;

    II - Correto: Compara-se, no texto, a postura de um narrador antigo (Cervantes) com a postura atual (insciente);

    III - Correto: no último período: "...anti-herói (que é derrotado pelos obstáculos em vez de derrotá-los)".


  • A respeito do item III, observem que, na passagem seguinte, é reforçada a ideia do que se entende por herói: "Este último tem garantida a distância que o separa do Quixote herói, e por isso é capaz de delimitar conscientemente os disparates do seu personagem. Isso explica o episódio em que o Cavaleiro da Triste Figura toma moinhos de vento por gigantes que, no seu delírio, é preciso combater."

  • Letra (c)

    Na narrativa tradicional, o narrador é em geral onisciente. Para citar um exemplo clássico: no Dom Quixote, de Cervantes, ele possui livre acesso à consciência da personagem principal. O Quixote personagem sabe menos a seu próprio respeito e a respeito daquilo que acontece do que o narrador de Cervantes. Este último tem garantida a distância que o separa do Quixote herói, e por isso é capaz de delimitar conscientemente os disparates do seu personagem.

    II . Para introduzir o conceito de narrador insciente, que não sabe nada, ou quase nada, o autor recorre à comparação entre este e um narrador onisciente, ou seja, aquele que possui livre acesso à consciência da personagem principal.

    Isso explica o episódio em que o Cavaleiro da Triste Figura toma moinhos de vento por gigantes que, no seu delírio, é preciso combater. Mas hoje os tempos são outros, o universo se tornou complexo, os detalhes se multiplicaram e abriram passagem à alienação, à visão parcelada do mundo, em resumo: à falsa consciência. Um dos resultados desse desdobramento histórico, em termos artísticos, foi o narrador insciente, que não sabe nada, ou quase nada, tanto quanto o seu anti-herói (que é derrotado pelos obstáculos em vez de derrotá-los).

    III . A partir da definição de anti-herói apresentada, é possível inferir que um herói derrota os obstáculos com que depara.

  • I. A obra Dom Quixote, de Cervantes, é citada para embasar o argumento de que na narrativa tradicional existem personagens que apresentam uma falsa consciência de si mesmos, a qual é inacessível para o próprio narrador.

    FALSO:

    "Na narrativa tradicional, o narrador é em geral onisciente" (TEM CIÊNCIA DE TUDO QUE ACONTECE)

    à falsa consciência está ligada ao narrador insciente

    II . Para introduzir o conceito de narrador insciente, que não sabe nada, ou quase nada, o autor recorre à comparação entre este e um narrador onisciente, ou seja, aquele que possui livre acesso à consciência da personagem principal. 

    VERDADEIRO:

    "Mas hoje os tempos são outros..."

    MAS apresenta o sentido de oposição, é aqui, neste momento, que ocorre a comparação

    III . A partir da definição de anti-herói apresentada, é possível inferir que um herói derrota os obstáculos com que depara.

    VERDADEIRO:

    "anti-herói (que é derrotado pelos obstáculos em vez de derrotá-los)."

    EM VEZ DE tem o mesmo sentido aqui de NO LUGAR DE, significando troca, em vez de comer maça, comi abacate. No lugar de comer maça, eu comi abacate. Não confundir com AO INVÉS DE que tem sentido de AO CONTRÁRIO DE.

    o anti-herói é derrotado em vez de derrotar os obstáculos, isso quer dizer que o verdadeiro herói derrota os obstáculos (ANTI: ideia de contrário, oposto). Ele faz justamente o oposto do herói!

  • III . A partir da definição de anti-herói apresentada, é possível inferir que um herói derrota os obstáculos com que depara.

    Eu entraria com recurso pois inferir que o "anti" de "anti-herói" significa o oposto de "herói" é errado. Anti-herói não é alguém necessariamente mau como o vilão, ele pode ser alguém do bem ou um meio-termo (ex: Wolverine).