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ID
28492
Banca
CESGRANRIO
Órgão
DECEA
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto II
A nuvem como guia

          Quando eu era criança, morava na Penha. Em
     minha casa, havia quintal. Deitado na grama, eu via
     estrelas, cometas, asteróides: via até a ponta das
     barbas brancas de Deus. Em dia de lua cheia, via até
5     seu sorriso, encimando o bigode branco. As estrelas
     eram tantas que pareciam confetes e lantejoulas, em noite
     de terça-feira gorda. Brilhavam forte, com brilho que hoje
     já não se vê: a luz foi soterrada no céu sombrio pela
     poluição galopante, estufa onde nos esturricaremos todos
10     como torresmos, sem remissão, se os países poluentes
     continuarem sua obra sufocante.
          Na Praia das Morenas, no fim da minha rua,
     tropeçando em siris e caranguejos - naquele tempo
     havia até água-viva na Baía de Guanabara; hoje, nem
15     morta! - eu via barcos de pescadores e peixes
     contorcionistas, mordendo as redes, como borboletas em
     teias de aranha - que ainda existiam naqueles tempos,
     aranhas e borboletas.
          Criança, eu pensava: como seria possível aos
20     pescadores velejar tão longe da areia, perder-se da
     nossa vista, perder-se no mar onde só havia vento em
     ritmos tonitruantes, onde as ondas eram todas iguais,
     sem traços distintivos, feitas da mesma água e mesma
     espuma e, encharcados de tempestades, encontrar o
25     caminho de volta?
          Meu pai explicava: os pescadores olhavam as
     estrelas, guias seguras, honestas, que indicavam o
     caminho de suas choupanas, na praia. Eu olhava o céu
     e via que as estrelas se moviam, e me afligia: talvez
30     enganassem os pescadores. Meu pai esclarecia: os
     pescadores haviam aprendido os movimentos estelares,
     e as estrelas tinham hábitos inabaláveis, confiáveis, eram
     sérias, seguiam sempre os mesmos caminhos seguros.
    
BOAL, Augusto. (adaptado).

Assinale a opção cujo comentário sobre a idéia contida no terceiro parágrafo é IMPROCEDENTE.

Alternativas
Comentários
  • encharcados de tempestades, refere-se aos pescadores, pelas tantas chuvas que tomaram ao longo da jornada.
  • Corretíssima a LETRA D, na medida em a expressão "encharcados de tempestades" se liga aos pescadores. Veja:
    "Criança, eu pensava: como seria possível aos
     pescadores velejar tão longe da areia, perder-se da
    nossa vista, perder-se no mar onde só havia vento em
    ritmos tonitruantes, onde as ondas eram todas iguais,
    sem traços distintivos, feitas da mesma água e mesma
    espuma e, encharcados de tempestades, encontrar o
    caminho de volta".
  • Observando o trecho, podemos perceber que não se refere, semanticamente, ao mar e sim aos pescadores

     

    "Criança, eu pensava: como seria possível aos pescadores (...) encharcados de tempestades, encontrar o caminho de volta?"