SóProvas


ID
2874130
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
UPA-CS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Dona Ana

Até a última batida do coração do marido, dona Ana esteve ao lado.

Não foi fácil. Seu Antônio era educado e agradável no trato social, mas intempestivo, intolerante e voluntarioso com a esposa e os dois filhos. Dava a impressão de que as interações com pessoas pouco íntimas esgotavam na rua seu estoque de tolerância.

Aos sete anos, vendia de casa em casa os pastéis que a mãe viúva fritava, enquanto os cinco filhos ainda dormiam. Aos quinze, veio sozinho para São Paulo com a obrigação de ganhar o sustento da família. Dormiu três dias na rua, antes de conseguir emprego num depósito de ferro velho.

Quando ficou doente, aos sessenta e oito anos, tinha mais de duzentos empregados, duas fazendas e uma imobiliária para administrar os imóveis de sua propriedade.

Dona Ana tinha três irmãs e um pai militar que proibia as filhas de chegar depois de escurecer e que só permitia que ela saísse com o noivo aos domingos, desde que acompanhada pela irmã caçula, rotina mantida até a semana anterior ao casamento.

Casada, aceitou sem rebeldia o autoritarismo do consorte. Deu à luz dois filhos criados com o rigor do pai e a dedicação abnegada da mãe, num ambiente doméstico que beirava a esquizofrenia: alegre e descontraído na presença dela, sisudo e silencioso à chegada do pai.

Quando nasceu o casal de netos, a avó os cobriu de carinho. Passava os dias de semana com eles para que as noras pudessem trabalhar; nos fins de semana em que ficava sem vê-los, morria de saudades.

A doença do patriarca mudou a rotina. Com o marido em casa e os filhos ocupados na condução dos negócios do pai, coube a ela cuidar e atender às solicitações do doente, que exigia sua presença dia e noite e não aceitava um copo d´água das mãos de outra pessoa.

Nas fases finais, oito quilos mais magra, abatida e sonolenta, parecia mais debilitada do que o marido.

Viúva, fez questão de permanecer no mesmo apartamento, apesar da insistência dos filhos e das noras para que fosse morar com eles.

Os familiares estranharam quando pediu que não deixassem mais os netos com ela. Acharam que a perda do marido havia causado um trauma que lhe roubara a felicidade e a disposição para a lida com os pequenos, suspeita que se agravou quando constataram que a mãe não os procurava. Nos fins de semana, era inútil convidá-la para as refeições, ir ao cinema ou viajar com eles. Quando as crianças queriam vê-la, os pais precisavam levá-las até ela.

Numa dessas ocasiões, filhos e noras tentaram convencê-la a procurar um psiquiatra, um medicamento antidepressivo a livraria daquela tristeza solitária. A resposta foi surpreendente:

― Vocês acham que mulher deprimida sai de casa para comprar este vestido lindo que estou usando?

Além do que, explicou, não se sentia nem estava solitária: descobrira no Facebook várias amigas dos tempos de solteira, viúvas como ela. Reuniam-se a cada dois ou três dias para cozinhar, tomar vinho e dar risada. Às terças e quintas, iam ao cinema; aos sábados, lotavam uma van que as levava ao teatro.

No carro, a caminho de casa, os filhos estavam desolados: 

― Como pode? Essa alegria toda, três meses depois da morte do papai?

― Deve estar em processo de negação, acrescentou a nora mais nova.

Nos meses seguintes, voltaram a insistir tantas vezes no tratamento psiquiátrico, que ela os proibiu de tocar no assunto, sob pena de não recebê-los mais.

A harmonia familiar desandou de vez num domingo de verão. Sem conseguir falar com a mãe por dois dias, os filhos decidiram procurá-la. O zelador do prédio avisou que não adiantava subir, dona Ana saíra com a mala na quinta-feira, sem revelar quando voltaria.

Segunda-feira depois do jantar, os filhos foram vê-la. Com ar consternado, revelaram estar preocupadíssimos com o comportamento materno, achavam que a perda do marido com quem havia convivido quase meio século, comprometera sua sanidade mental.

Num tom mais calmo do que o dos rapazes, a mãe contou que, na volta do enterro, abriu uma garrafa de vinho pela primeira vez na vida, sentou naquele sofá em que se achavam e pensou em voz alta:

― Vou fazer setenta anos. De hoje em diante não dou satisfação para mais ninguém.

VARELLA, Dráuzio. Dona Ana. Drauzio Varella. 4 abr. 2016. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/dona-ana/>. Acesso em: 20 abr. 2016 (Adaptação).

Analise os trechos a seguir em relação ao uso do acento indicativo de crase, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, e assinale com F para o facultativo ou com O para o obrigatório.

( ) “Deu à luz dois filhos criados com o rigor do pai e a dedicação abnegada da mãe [...].”

( ) “[...] alegre e descontraído na presença dela, sisudo e silencioso à chegada do pai.”

( ) “[...] coube a ela cuidar e atender às solicitações do doente [...].”

( ) “Às terças e quintas, iam ao cinema [...].”

Assinale a sequência correta.

Alternativas
Comentários
  • Crase Facultativa:


    Depois da palavra "ATÉ"

    Antes de nomes próprios "FEMININOS"

    Antes de pronomes "POSSESSIVOS"


  • Gab. B

     

    A T E N Ç Ã O ! ! !   M U I T O   C U I D A DO ! ! !

     

    Emprega-se facultativamente o acento indicativo de crase quando for opcional a preposição "a" ou o artigo definido feminino.

     

    1º - A preposição "a" é facultativa depois da preposição "até":

     

    2º - O artigo definido é facultativo diante de pronome possessivo. Mas, para a crase ser facultativa, esse pronome possessivo deve ser feminino singular. (MUITA ATENÇÃO AQUI).

     

    3º - O artigo definido é facultativo diante de nome próprio de pessoa. Assim, se o nome for feminino e o verbo exigir preposição, a crase será facultativa.

    - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

     

    Q935900 - CESPE - É obrigatório o sinal indicativo de crase empregado em “às suas peregrinações” (l.11), de maneira que sua supressão acarretaria incorreção gramatical no texto. CORRETO.

     

    R.: A crase é facultativa se estiver diante de pronome possessivo SINGULAR.

     

     

     

     

     

    Terror Filho, Décio - Resolução de provas de português : banca FCC I Décio Terror Filho.- Niterói, R.J: Impetus, 2015

  • não entendi porque todas são obrigatórias em principal a primeira alternativa

  • “Deu à luz dois filhos criados com o rigor do pai e a dedicação abnegada da mãe [...].” 

    CORRETO - Caso obrigatório de crase: em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que participam palavras femininas.

    “[...] alegre e descontraído na presença dela, sisudo e silencioso à chegada do pai.”

    CORRETO - Caso obrigatório de crase: Usa-se a crase em algumas locuções adverbiais de tempo, que se iniciam com a preposição (em) e podem ser iniciadas pela (contração) da preposição em+a= na.

    ( ) “[...] coube a ela cuidar e atender às solicitações do doente [...].”

    CORRETO - Caso obrigatório de crase: VTI: atender a alguma coisa. 

    ( ) “Às terças e quintas, iam ao cinema [...].

    CORRETO - Caso obrigatório de crase: usa-se o acento grave indicador de crase quando se referir a nomes da semana. Exceção: quando for sábado e domingo não há crase, por tratar-se de termos masculinos. Ex: Estudo de quinta a domingo. / Trabalho de quarta a sábado.

  • Dica Zambeliana (A casa do concurseiro):

    Crase facultativa nos casos de: "ATÉ a TATI SUA" (MACETE PARA LEMBRAR)

    ATÉ (depois da palavra até) 

    TATI (antes de nomes próprios femininos)

    SUA (antes de pronomes possessivos)

    Espero ter ajudado. Bons estudos!

  • GAB B

    Crase Facultativa:

    ATÉ SUA MARIA

    Depois da palavra "ATÉ"

    Antes de pronomes "POSSESSIVOS NO SINGULAR"

    Antes de nomes próprios "FEMININOS"

     

    AVANTE! "Não se constrói uma casa pelo teto".

    Faça como quizer seu caminho contanto que persevere.

  • GAB.A.

    Casos de crase facultativa:

    ANTES DE NOME PRÓPRIO FEMININO;

    ANTES DA PREPOSIÇÃO ATÉ;

    ANTES DE PRONOME POSSESSIVO NO SINGULAR.

  • GABARITO B

    CASOS FACULTATIVOS DE CRASE

    - Diante de nomes próprios femininos:

    Entreguei o cartão Paula.

    Entreguei o cartão à Paula.

    _______________________________________________________________________________

    - Diante de pronome possessivo feminino:

    Cedi o lugar minha avó.

    Cedi o lugar à minha avó.

    ATENÇÃO: Quando o pronome possessivo for substantivo ( ou seja, aquele que substitui um substantivo) a crase é obrigatória! Ex: enviaram uma encomenda a (à) nossa residência, não à sua.

    _______________________________________________________________________________

    - Depois da preposição até:

    Fui até a praia.

    Fui até à praia.

    bons estudos

  • Gabarito: B

    Uso facultativo da crase:

    - antes de nome próprio. Ex.: Refiro-me à (a) Julia.

    - antes de pronome possessivo feminino singular. Ex.: Dirija-se à (a) sua fazenda.

    - depois ATÉ. Ex.: Caminhei até à (a) praia.

  • Porque as pessoas colocam tantos comentários repetidos? hahaha

  • Pensei que a questao tava pedindo a falsa e a obrigatória kkk

    Meu Deusss rsrsrs

    FACULTATIVA E OBRIGATÓRIA

  • Gabarito B

    CRASE

    OBRIGATORIO

    ·       Indicar Período: das 8h às 18h;

    ·       Em caso como: da segunda à sexta;

    ·       Der ideia de Maneira/Modo: file à Osvaldo;

    ·       Locução adverbial e prepositiva: à vista - à procura de;

    ·       Se der para substituir por sábado: à sexta - ao sábado;

    ·       Vou a se puder voltar da;

    ·       Quando puder substituir àquela por (a esta, a isto, a essa);

    ·       Quando INDICAR hora;

    ·       Distância/casa/terra quando determinada;

    ·       Às vezes quero ficar sozinho. (de vez em quando)

    FACULTATIVO:

    ·       Diante de pronome possessivo;

    ·       Após a Preposição até, OUTRA;

    ·       Diante do pronome de tratamento dona, senhora, senhorita e nome próprio feminino.

    ·       Advérbios que indicam instrumento ou meio - nesse caso, o uso da crase é facultativo, porém é aconselhável por ser capaz de desfazer possíveis ambiguidades. Ex.: Acentuar à mão.

  • GABARITO: LETRA B

    Tudo o que você precisa para acertar qualquer questão de CRASE:

    I - CASOS PROIBIDOS: (são 15)

    1→ Antes de palavra masculina

    2→ Antes artigo indefinido (Um(ns)/Uma(s))

    3→ Entre expressões c/ palavras repetidas

    4→ Antes de verbos

    5→ Prep. + Palavra plural

    6→ Antes de numeral cardinal (*horas)

    7→ Nome feminino completo

    8→ Antes de Prep. (*Até)

    9→ Em sujeito

    10→ Obj. Direito

    11→ Antes de Dona + Nome próprio (*posse/*figurado)

    12→ Antes pronome pessoal

    13→ Antes pronome de tratamento (*senhora/senhorita/própria/outra)

    14→ Antes pronome indefinido

    15→ Antes Pronome demonstrativo(*Aquele/aquela/aquilo)

    II - CASOS ESPECIAIS: (são7)

    1→ Casa/Terra/Distância – C/ especificador – Crase

    2→ Antes de QUE e DE → qnd “A” = Aquela ou Palavra Feminina

    3→ à qual/ às quais → Consequente → Prep. (a)

    4→ Topônimos (gosto de/da_____)

    a) Feminino – C/ crase

    b) Neutro – S/ Crase

    c) Neutro Especificado – C/ Crase

    5→ Paralelismo

    6→ Mudança de sentido (saiu a(`) francesa)

    7→ Loc. Adverbiais de Instrumento (em geral c/ crase)

    III – CASOS FACULTATIVOS (são 3):

    1→ Pron. Possessivo Feminino Sing. + Ñ subentender/substituir palavra feminina

    2→ Após Até

    3→ Antes de nome feminino s/ especificador

    IV – CASOS OBRIGATÓRIOS (são 5):

    1→ Prep. “A” + Artigo “a”

    2→ Prep. + Aquele/Aquela/Aquilo

    3→ Loc. Adverbiais Feminina

    4→ Antes de horas (pode está subentendida)

    5→ A moda de / A maneira de (pode está subentendida)

    FONTE: Português Descomplicado. Professora Flávia Rita