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ID
2875606
Banca
IDECAN
Órgão
CRF-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Farmácia literária


      Imagine chegar ao consultório ou ao hospital com um incômodo qualquer e sair de lá com a prescrição de uma terapia intensiva de George Orwell, seguida de pílulas de Fernando Pessoa, emplastros de Victor Hugo e doses generosas de Monteiro Lobato. Você não leu errado: uma boa história ajuda a aliviar depressão, ansiedade e outros problemas que atingem a cabeça e o resto do organismo.

      Quem garante esse poder medicamentoso das ficções são as inglesas Ella Berthoud e Susan Elderkin, que acabam de publicar no Brasil Farmácia Literária (Verus). Redigida no estilo de manual médico, a obra reúne cerca de 200 males divididos em ordem alfabética. Para cada um, há dicas de leituras.

      As autoras se conheceram enquanto estudavam literatura na Universidade de Cambridge. Entre um debate sobre um romance e outro, viraram amigas e criaram um serviço de biblioterapia, em que apontam exemplares para indivíduos que procuram assistência. “O termo biblioterapia vem do grego e significa a cura por meio dos livros”, ressalta Ella.

      O método é tão sério que virou política de saúde pública no Reino Unido. Desde 2013, pacientes com doenças psiquiátricas recebem indicações do que devem ler direto do especialista. Da mesma maneira que vão à drogaria comprar remédios, eles levam o receituário à biblioteca e tomam emprestados os volumes aconselhados.

      A iniciativa britânica foi implementada com base numa série de pesquisas recentes que avaliaram o papel das palavras no bem-estar. Uma experiência realizada na Universidade New School, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com o hábito de reservar um tempo às letras costumam ter maior empatia, ou seja, uma capacidade ampliada de entender e se colocar no lugar do próximo. Outra pesquisa da também americana Universidade Harvard apontou que leitores ávidos são mais sociáveis e abertos para conversar.

      E olha que estamos falando de ficção mesmo. No novo livro não vemos gêneros como autoajuda ou biografia. “Eles já tinham o seu espaço, enquanto as ficções eram um recurso pouco utilizado. É difícil lembrar-se de uma condição que não tenha sido retratada em alguma narrativa”, esclarece Susan.

      As autoras acreditam que é possível tirar lições valiosas do que fazer e do que evitar a partir da trajetória de heróis e vilões. “Ler sobre personagens que experimentaram ou sentiram as mesmas coisas que vivencio agora auxilia, inspira e apresenta perspectivas distintas”, completa.

      As sugestões percorrem praticamente todas as épocas e movimentos literários da humanidade. A obra mais antiga que integra o livro é a epopeia O Asno de Ouro, assinada pelo romano Lúcio Apuleio no século 2, que serve de fármaco para exagero na autoconfiança. Há também os moderníssimos Reparação, do inglês Ian McEwan (solução para excesso de mentira), e 1Q84, do japonês Haruki Murakami (potente para as situações em que o amor simplesmente termina).

      Disponível em 20 países, cada edição de Farmácia Literária é adaptada para a cultura local, com a inclusão de verbetes e de literatos nacionais. “Nós precisamos contemplar as obras que formaram e moldaram o ideal daquela nação para que nosso ofício faça sentido”, conta Ella. No caso do Brasil, foram inseridos os principais textos de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Milton Hatoum, que fazem companhia aos portugueses Eça de Queirós e José Saramago.

(16 de abril de 2017. Rosa Maria Miguel Fontes. Disponível em: http://blogs.uai. com.br/contaumahistoria/farmacia-literaria/.)

Depreende-se do texto que:

Alternativas
Comentários
  • A questão é dúbia. Quando ele escreve "diferentemente das narrativas de ficção" uma interpretação possível é que as narrativas de ficção não atuam na melhora de pessoas com determinados males (o que é falso, do ponto de vista do texto). Não há gabarito, em minha opinião.

  • Gabarito: Letra A


    (6º§) E olha que estamos falando de ficção mesmo. No novo livro não vemos gêneros como autoajuda ou biografia. “Eles já tinham o seu espaço, enquanto as ficções eram um recurso pouco utilizado.

    a) Gêneros como autoajuda e biografia não são uma novidade como instrumento atuante na melhora de pessoas com determinados males, diferentemente das narrativas de ficção (são novidade agora).

    Jesus: meu único Senhor e Salvador!

  • Peterson, a comparação se refere ao termo "novidade". Mas é preciso colocar a frase na forma direta:


    Gêneros como autoajuda e biografia (como instrumento atuante na melhora de pessoas com determinados males) não são uma novidade, diferentemente das narrativas de ficção (que são novidade).

  • ERROS

    b) O texto fala de equivalência/igualdade entre os tratamentos com remédios e a literatura? Não! Forçoso!

    c) Doenças diagnosticadas pela literatura? Também não!

    d) Fala dos resultados apresentados pela implementação dessa nova política pública em saúde? Não! O que pode confundir é que falou, posteriormente, a razão/embasamento pela qual a biblioterapia foi implementada como política pública de saúde.

  • Discordo do gabarito. Ora, se "as ficções eram um recurso POUCO UTILIZADO", significa que, embora fosse pouco utilizado, esse recurso já estava sendo utilizado. O que não permitiria ser uma NOVIDADE.

    Significado de novidade: "condição do que aparece, do que se apresenta pela primeira vez."