Grande acervo de obras constitui a ficção brasileira da atualidade e merece destaque pelas opções estilísticas e formais que se apresentam nas escritas dos autores contemporâneos. Os textos seguintes encerram reflexões a esse respeito.
Texto I
O contemporâneo é aquele que, graças a uma diferença, uma defasagem ou um anacronismo, é capaz de captar seu tempo e enxergá-lo. Por não se identificar, por sentir-se em desconexão com o presente, cria um ângulo do qual é possível expressá-lo. Assim a literatura contemporânea não será necessariamente aquela que representa a atualidade, a não ser por uma inadequação, uma estranheza histórica que a faz perceber as zonas marginais e obscuras do presente, que se afastam de sua lógica. Ser contemporâneo, segundo esse raciocínio, é ser capaz de se orientar no escuro e, a partir daí, ter coragem de reconhecer e de se comprometer com um presente com o qual não é possível coincidir. Na perspectiva dessa compreensão da história atual como descontinuidade e do papel do escritor contemporâneo na contramão das tendências afirmativas, talvez seja possível entender alguns dos critérios implícitos que determinam quem faz sucesso, quem ganha maior visibilidade na mídia, na academia, entre os críticos ou entre os leitores.
SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 10.
Texto II
O medo que mora em nós
No conto de terror "O Próximo da Fila" (1955), de Ray Bradbury, uma mulher visita as catacumbas de Guanajuato, México. Corpos mumificados forram as paredes. Acordada em sua cama, na noite seguinte, assombrada pelo passeio macabro, ela percebe que seu coração "era um fole eternamente soprando sobre um pequeno tição de medo... Uma luz entranhada para a qual seus olhos internos se voltavam fixamente, com fascínio indesejado".
Em nosso tempo atual, o coração da cultura assopra com força sobre um tição de medo, e o fascínio está em toda parte. Filmes de terror quebram recordes, e as vendas de literatura desse gênero sobem a cada ano.
E o sucesso não é apenas comercial. Tradicionalmente um tanto malfalado, hoje o horror desfruta uma aura de respeitabilidade crítica.
OWEN, M. M. O medo que mora em nós. Folha de São Paulo. Ilustríssima, 28 out. 2018, p. 4.
De acordo com o que aponta o autor do Texto I acerca da produção ficcional contemporânea e sobre os "critérios implícitos que
determinam quem faz sucesso" na atualidade, é correto afirmar
que, por meio de interpretações feitas com a contribuição do
Texto II, o gênero conto de terror tem guarida entre os leitores,
na contemporaneidade, EXCETO porque