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ID
2895232
Banca
IF-SP
Órgão
IF-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

No livro Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo, Tomaz Tadeu da Silva, argumenta que um currículo crítico inspirado nas teorias sociais que questionam a construção social da raça e da etnia também evitariam tratar a questão do racismo de uma forma simplista. Para o autor, o racismo não poderia ser tratado simplesmente como uma questão de preconceito individual, pois isso geraria uma pedagogia e um currículo centrados numa simples “terapêutica” de atitudes individuais consideradas erradas.


Considerando tais argumentações, uma unidade educacional que estivesse diante de uma situação de racismo praticada entre estudantes, estaria alinhada corretamente com os pensamentos do teórico, se:

Alternativas
Comentários
  • Nesta questão, tomando por base o livro Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo, de Tomaz Tadeu da Silva, deve-se indicar a alternativa que traz a atitude mais adequada diante de uma situação de racismo praticada entre estudantes. 
    A) Realizasse uma investigação da situação, ouvindo a todos os envolvidos, tendo como exclusivo resultado a aplicação das sanções previstas no regimento escolar aos estudantes agressores, pois a punição, tomada como exemplo, poderia inibir a prática de atos racistas por outros estudantes. 
    ERRADO -De acordo com o autor, identidade e diferença são processos de produção social, processos que envolvem relações de poder. O outro cultural é sempre um problema, pois coloca permanentemente em xeque nossa própria identidade. A questão da identidade, da diferença e do outro é um problema social ao mesmo tempo que é um problema pedagógico e curricular. É um problema social porque, em um mundo heterogêneo, o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, é inevitável. É um problema pedagógico e curricular não apenas porque as crianças e os jovens, em uma sociedade atravessada pela diferença, forçosamente interagem com o outro no próprio espaço da escola, mas também porque a questão do outro e da diferença não pode deixar de ser matéria de preocupação pedagógica e curricular. Mesmo quando explicitamente ignorado e reprimido, a volta do outro, do diferente, é inevitável, explodindo em conflitos, confrontos, hostilidades e até mesmo violência. A incapacidade de conviver com a diferença é fruto de sentimentos de discriminação, de preconceitos, de crenças distorcidas e de estereótipos, isto é, de imagens do outro que são fundamentalmente errôneas. Como o tratamento preconceituoso e discriminatório do outro é um desvio de conduta, a pedagogia e o currículo deveriam proporcionar atividades, exercícios e processos de conscientização que permitissem que as estudantes e os estudantes mudassem suas atitudes. A punição sem um trabalho de discussão e conscientização, além de não questionar as relações de poder envolvidas na produção da identidade e da diferença culturais, pode reforçar um sentimento de “oposição", ressentimento e, até mesmo, de agressividade. Em geral, a apresentação do outro, nessas abordagens, é sempre o suficientemente distante, tanto no espaço quanto no tempo, para não apresentar nenhum risco de confronto e dissonância. Tratariam a identidade e a diferença como questões de conduta. A pergunta crucial a guiar o planejamento de um currículo e de uma pedagogia da diferença seria: como a identidade e a diferença são produzidas? Quais são os mecanismos e as instituições que estão ativamente envolvidos na criação da identidade e de sua fixação? Uma estratégia que simplesmente admita e reconheça o fato da diversidade torna-se incapaz de fornecer os instrumentos para questionar precisamente os mecanismos e as instituições que fixam as pessoas em determinadas identidades culturais e que as separam por meio da diferença cultural. Antes de tolerar, respeitar e admitir a diferença, é preciso explicar como ela é ativamente produzida.
    B) Procurasse não dar visibilidade à situação, empreendendo esforços para que somente os envolvidos a conhecessem, pois se a atitude racista dos estudantes se tornasse pública, poderia inspirar outros estudantes a terem atitudes semelhantes. 
    ERRADO - Numa visão crítica, podemos afirmar que as práticas curriculares reproduzem o saber de um grupo dominante que manipula o conhecimento e os saberes com base na afirmação de uma hegemonia racional que coloca em desvantagem as minorias desprivilegiadas dos bens culturais. Infelizmente, essa prática é concretizada em muitas escolas que não aceitam a flexibilidade do currículo como caminho para acolher os diversos saberes produzidos pelos sujeitos aprendentes. Não debater a situação, contribuiria para minimizar e invisibilizar as questões raciais, silenciando aqueles que são alvo de situações de racismo. Situações devem ser discutidas e problematizadas entre os estudantes. 
    C) Investigasse a situação e como proposta de resolução para o conflito, solicitasse aos agressores que se desculpassem junto à vítima, comprometendo-se a não terem mais atitudes semelhantes, sensibilizando-os sobre os danos do racismo para quem o sofre. 
    ERRADO - O autor coloca que o currículo é afetado de diferentes formas, mas principalmente através das relações humanas de poder. Há uma grande desigualdade em matéria de educação e currículo, no tocante a gênero, raça e sexualidade, estabelecendo neste referente, uma nítida relação de poder em sua base. Então, tratar da questão do racismo baseado nas ideias de tolerância, respeito e convivência harmônica entre os diferentes, mostra de certa forma uma superioridade por parte de quem promove esta tolerância. Não se discute, assim, as bases do preconceito, como ele é produzido, que relações de poder estão em jogo e como ele tem se perpetuado ao longo dos anos. 
    D) Propusesse, juntamente a outras medidas institucionais, uma ampla discussão sobre as causas institucionais, históricas e discursivas do racismo, procurando identificar o quê no currículo e nas práticas pedagógicas poderia minimizar ações desta natureza. 
    CORRETO  - Existe uma desigualdade no currículo no que diz respeito a gênero, raça e sexualidade, reproduzindo os saberes construídos por grupos historicamente hegemônicos e estabelecendo uma relação de poder em sua base. Uma política pedagógica e curricular da identidade e da diferença tem a obrigação de ir além das benevolentes declarações de boa vontade para com a diferença. Ela tem que colocar no seu centro uma teoria que permita não simplesmente reconhecer e celebrar a diferença e a identidade, mas questioná-las. Discutir como elas são produzidas. Favorecer toda experimentação que torne difícil o retorno do eu e do nós ao idêntico. Aproximar a diferença do múltiplo e não do diverso. É preciso trabalhar um currículo e uma pedagogia da diferença, que representem algum questionamento não apenas à identidade, mas também ao poder ao qual ela está estreitamente associada, um currículo e uma pedagogia da diferença e da multiplicidade. Nesse sentido, é importante que questões como essa sejam trabalhadas em diferentes componentes curriculares, como também de maneira interdisciplinar, envolvendo diferentes atores e promovendo discussões amplas e aprofundadas a respeito do racismo, suas origens, manifestações e efeitos ao longo da história.
    GABARITO DO PROFESSOR: LETRA D.
  • Letra D.