SóProvas


ID
2895604
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Cacoal - RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma andorinha não faz verão

        No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.

        A beleza do Rio é comparável à sua barbárie.

        No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.

        Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.

        Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.

        Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada. 

        Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia? 

        O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.

        A andorinha aculturada sou eu.

        Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.

Fernanda Torres. In: fernandatorresvejario1@gmail.com

Em: “impulsionando o voo num vertiginoso balé.”, identifica-se uma figura de linguagem:

Alternativas
Comentários
  • 2) Metáfora- Consiste numa comparação implícita, numa relação de similaridade, entre duas palavras ou expressões. Ex: Ela é uma flor. Você é um touro.

    Fonte: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/letras-portugues/figuras-de-linguagem

  • a) Elipse: (ou zeugma) omissão de um termo, geralmente verbo, empregado anteriormente. Ex.: A moral legisla para o homem; o direito, para o cidadão.

    b) Antítese: emprego de palavras ou expressões em sentidos opostos. Ex.: Era cedo para uns e tarde para outros.

    c) Metáfora: tipo de comparação em que não aprece p conectivo¹ nem o elemento comum² aos seres comparados. Ex.: Minha vida era um palco iluminado (...alegre e bonita²como¹ um palco iluminado)

    d) Catacrese: é um tipo especial de metáfora. É a extensão de sentido que sofrem determinadas palavras na falta ou desconhecimento do termo apropriado. Ex.: Dente de alho. (alho tem dente?)

    e) Eufemismo: suavização de uma ideia desagradável. Ex.: Ele descansou. (morreu)

    Fonte: Décio Terror - Estratégia Concursos.

  • Metáfora - Palavra ou expressão fora do sentido real / conotação / comparação indireta.

    Gab C

    #PMGO

  • GB/C

    PMGO

  • GABARITO C

    Comparação: ... e flutuou no ar COMO se fosse um príncipe.

    Metáfora: sua boca é um cadeado.

    Catacrese: os braços do mar.

    Metonímia: Leio Drummond, o nosso poeta.

    Antítese: Queria subir ao céu, queria descer ao mar.

    Eufemismo: Era incapaz de apropriar-se do alheio (roubar)

    Gradação: Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata (sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia.

    Hipérbole: O travesseiro eu ensopei de lágrimas ardentes.

    Prosopopeia: Dorme, ruazinha, é tudo escuro.

    Sinestesia: As derrotas do Corinthians deixam um GOSTINHO de PRAZER nos adversários. (palavras que transmitem sensações)

    bons estudos

  • Gab C

    Compara, implicitamente, o voo da andorinha a um balé 

  • Na duvida vai na metáfora