SóProvas


ID
2899258
Banca
RBO
Órgão
Câmara de Itatiaia - RJ
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                Pra lá de Marrakesch

                                       (Mário Prata)


       Na noite anterior havia trabalhado feito um mouro.

       Acordei e estava um verdadeiro calor senegalês. Depois de tomar uma boa duma ducha escocesa, quase dormitar num banho turco, fazer a minha ginástica sueca, passar a minha água de colônia, vesti meu terno azul turquesa de casimira inglesa (que fora um presente de grego de uma amante argentina), cuidei do meu pastor alemão, do pequinês, do dinamarquês, do meu gato siamês e, com uma pontualidade britânica, deslizando sobre o tapete persa, sai para fazer um negócio da china.

      Logo voltei. Deveria ter saído com a minha refrescante bermuda, minhas sandálias havaianas e o autêntico chapéu panamá. Evitaria o calor, aquela tortura chinesa que só um bom sorvete de creme holandês refrescaria.

      Ou teria sido melhor o terno príncipe de Gales, para evitar uma gripe espanhola ou uma febre asiática? A polaca gostaria mais.

      Foi bom ter voltado. Meu periquito australiano e o meu canário belga, famintos, pediam semente de maconha colombiana. E minha galinha de angola, o resto da linguiça calabresa, resquício de um sanduíche americano com um pouco de salada russa e molho inglês, cortado com o meu afiado canivete suíço. Hambúrguer, nem pensar, que é para inglês ver.

      Acabei me atrasando, chupei uma mexerica (ou era uma tangerina ou, ainda, uma bergamota?). Brinquei de sombra chinesa e quase dormi. Para acordar, ligo a televisão, vejo um pouco do esporte bretão, descasco uma lima da pérsia, fico em dúvida entre o pão sírio e o pão francês, conto até dez em algarismos romanos e depois em algarismos arábicos e resolvo fazer um filé à parmegiana. Abro a janela veneziana, preparo um uísque paraguaio e ali, numa autêntica noite americana, tal e qual um tigre asiático, dou um sorriso amarelo, brinco com o porquinho da índia de porcelana inglesa e me sirvo à francesa.

      Depois, balanço na poltrona de cana da índia com a cuba libre. Mas, como o pato vai ser à Califórnia, com pimenta malagueta ou pimenta-do-reino, misturado com arroz marroquino (ou à grega?), preparo à milanesa e tudo bem. Vai cravo da índia? Será que o melhor mesmo não seria um filé à cubana, para depois enfrentar uma montanha russa, arrotando couve-de-bruxelas?

      Com a chave inglesa abro a porta emperrada, levo no bolso o meu soco igualmente inglês e saio ao encontro da minha cidade, do meu Brasil paraguaio.

      Coisa de primeiro mundo.

https://marioprata.net/cronicas/pra-la-de-marrakesch - acesso em 10/01/2017

Logo no início do texto, Mário Prata utiliza o termo “presente de grego”. Segundo o contexto apresentado, assinale a alternativa que melhor explica seu sentido.

Alternativas
Comentários
  • Presente de grego é uma expressão popular usada para representar o recebimento de algum presente ou dádiva que traz prejuízo para quem a recebeu

    https://www.dicionariopopular.com/presente-de-grego/

  • concordo tem questão que esta errada banca ...

  • Se presente de grego significa recebimento de algum presente que traz prejuízo para quem recebeu, logo entende-se que é um presente INADEQUADO. GABARITO LETRA C

  • A expressão presente de grego sempre significa algo negativo, desse modo as letras A e D estão fora.

    No primeiro parágrafo o autor diz "acordei e estava um verdadeiro calor senegalês". "Vesti meu terno azul turqueza de casimira inglesa".

    Usar terno no calor consiste - por uma questão de bom senso - em algo inadequado.

  • O termo presente de grego é oriundo do cavalo de Troia. Um presente dado de modo estratégico pelos gregos para derrotar os troianos. Daí o entendimento de que a expressão denota algo negativo.

    Bons estudos!

  • é questão de português, interpretação de texto ou questão de atualidades/ questão de história? Pois, quando alguém elogia a beleza de alguém dizendo opa,parece um Deus grego..eu fui por essa lógica,pois não tinha conhecido de que presente de grego era algo ruim.