SóProvas


ID
2902597
Banca
VUNESP
Órgão
TJ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Assassinos culturais


      Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fecha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

      Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou editoras.

      Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua essência, um problema livresco.

      Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso afirmar que pago pelos meus vícios.

      E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?

      Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-prazer, escuto meus clássicos e descubro novos.

      Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.

      Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se desmaterializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela. Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante, assinantes.

      O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primórdios do capitalismo.

      Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à economia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).

      Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela. Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova geração para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.

      Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais autêntica da cultura?

          (João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)

* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.

Assinale o trecho do texto em que está presente a figura de linguagem chamada metáfora.

Alternativas
Comentários
  • GAB: E

    A- Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira. (ERRADA )

    Hipérbole: forma de expressão exagerada que tem por objetivo enfatizar a mensagem do texto.

    Veja outros exemplos muitos comuns:

    Já te avisei um bilhão de vezes!

    Se você for embora chorarei rios de lágrimas!

    As crianças estavam mortas de sede.

    Que calor infernal!

    Esta história me faz morrer de rir

    E - Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

    Metáfora é a comparação de palavras em que um termo substitui outro. É uma comparação abreviada em que o verbo não está expresso, mas subentendido.

    Por exemplo, dizer "o meu amigo é um touro, levou o móvel pesado sozinho". Obviamente que ele não é um touro nem se parece fisicamente com o animal, mas está tão forte que faz lembrar um touro. Neste exemplo, existe a comparação da força do animal e do indivíduo.

    FONTE: https://www.significados.com.br/metafora/

  • Na verdade, na letra A temos uma comparação evidenciado pelo conector (COMO), trata-se, pois, de uma comparação explícita.

     

    Diferença entre comparação e metáfora é que nessa, diferente daquela, a comparação jaz, no período, de forma implícita.

  • Hipérbole ONDE?

    ''Metáfora é uma figura de linguagem que produz sentidos figurados por meio de comparações implícitas.''

    A menos que eu esteja cego, tem um COMO alí, e faminto na capoeira é sentido figurado, a A é metáfora sim.

  • Jean Pedro, se há COMO na oração, não se trata de metáfora. No mínimo uma COMPARAÇÃO.

  • Li numa apostila que metáfora tem verbo de ligação explicito na frase, e por isso marquei letra D. Mas pelo jeito o meu material me enganou.

  • Acredito que o professor da banca aprendeu de forma errada...rs

  • A - Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira.

    Comparação, não metáfora. Esta é uma comparação específica, em que os dois elementos se fundem. A palavra "como" traz a ideia de separação total dos dois elementos comparados: "Eu" e "um faminto na capoeira". A separação é explícita, os dois elementos mantêm suas essências.

    B - O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem).

    Aqui, salvo melhor juízo, ocorre um HIPÉRBATO. Figura de linguagem na qual ocorre a inversão dos elementos de determinada frase. A posição dos elementos em uma frase, via de regra é: SUJEITO, VERBO, COMPLEMENTO, ADJ. ADVERBIAL. Quando há a inversão/mistura desses elementos numa frase, ocorre a figura de linguagem em questão.

    A regra supra é para as frases simples. Nas compostas, em que a regra é que a oração principal venha primeiro que a oração subordinada, caso ocorra a inversão desta ordem, também ocorrerá a figura de linguagem em tela.

    Em sua ordem natural, esta frase deveria ser escrita assim: "NÃO ACREDITO QUE O DESAPARECIMENTO DAS LIVRARIAS SEJA TOTAL NO FUTURO".

    C - O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação.

    Aqui não vejo nenhuma figura de linguagem. É uma frase em sua ordem natural, com um aposto especificativo entre vírgulas.

    Então tem-se: O livro “Subscribed” (sujeito), de Tien Tzuo, (aposto especificativo) analisa (verbo) a situação (complemento).

    D - Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço...

    Aqui, salvo melhor juízo, está presente a figura de linguagem chamada de Antítese, em que ocorre a ideia de oposição, mas não de contradição, esta última a qual ocorre, mais especificamente, no Paradoxo.

    E - Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

    Aqui, salvo melhor juízo, ocorre mais especificamente uma PROSOPOPEIA do que uma metáfora simplesmente, tendo em vista que deu-se à livraria característica própria de seres vivos, a mortalidade. No entanto, aquela é uma espécie desta, podemos assim dizer. Logo, entre as demais alternativas, a que diz respeito a uma metáfora, ainda que em sua forma específica.

  • Respondendo ao colega Kevin Pacheco, na letra 'c' há figura de linguagem, a metáfora, mais especificamente conhecida como personificação, onde o livro (um ser inanimado) analisa a situação.

    Quem analisa a situação é o autor e não o livro!!

    Na minha opinião, essa questão deveria ter sido anulada, pois encontramos mais de um tipo de metáfora em mais de uma opção de resposta.

  • Marquei a alternativa "A" sabendo que havia uma comparação explicita. Mas, porque não identifiquei metáfora em nenhuma outra alternativa. Sinceramente....indiquei para comentários do professor.....

  • Professor Décio Terror nos ensina que para diferenciar a Comparação da metáfora, já que ambas são formas de comparação, é que SEMPRE na Comparação vai ter o conectivo explícito, no caso da letra A "Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira".

    No caso da letra E , não está explícito.

    Neste caso, compara a livraria a um ser que pode ser matado.

  • Metáfora: Comparação sem conector. 

  • Para diferenciar a metáfora da comparação basta procurar palavras comparativas: COMO/ SEMELHANTE A/IGUAL A/ QUE NEM.

  • a) Comparação

    b) Hipérbato

    c) Metonímia

    d) Antítese

    e) Metáfora

  • Uma dica:

    Sempre que uma questão tem como alternativa uma metáfora a banca coloca uma comparação antes pra pegar os apressados e pelo visto ta funcionando, tendo em vista o índice de erros.

    Vá com calma que dá certo.

    bons estudos.

  • METAFORA = NÃO ACEITA CONJUNÇÃO .

  • Fomos nós que matamos(deixa de frequentar) aquela livraria: compara

    e o crime(fechamento da livraria) não nos pesa (compara)

  • NESSE PARÁGRAFO TAMBÉM NÃO EXISTE UM EUFEMISMO?

  • a) Comparação. olha a conjunção impossibilitando ser metáfora .

    b) Hipérbato. a ordem da oração está invertida .

    c) Prosopopeia / personificação . o livro analisa a situação .

    d) Antítese ( relação clara de oposição )

    e) Metáfora

  • Pessoal, o que temos na alternativa B não é um hipérbato, mas sim, anacoluto. Reparem que há uma quebra (ao invés de inversão) da estrutura sintática. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem).

  • Complementando:

    C - O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação.

    → Pessoal, a figura de linguagem predominante na frase é a prosopopeia (personificação de seres inanimados). Você já viu algum livro analisar alguma coisa? Isso é tarefa humana.

    E- Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência. → Aqui temos metáfora. Você MATA uma livraria? Não! rsrs sentido figurado.

  • A alternativa E está mais para personificação, pois livraria não morre.

  • Achei que fosse prosopopeia

  • A última não é metonímia?

  • GAB. B

    Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

  • A primeira é um comparação, creio eu! Por eliminação, marquei a E, mas esse gabarito está estanho.

  • Gabarito: E

    Principais Regras de Figuras de Linguagem:

    a)    Elipse X Zeugma – A elipse é a omissão de um termo já subentendido (Ex: (Nós) bebemos água) e a Zeugma é o uso da virgula vicária, você basicamente subentende um verbo geralmente (Ex: Eu estudei para a prova, e ela, não).

    b)    Pleonasmo – “Lembra da palavra plágio”, logo significa trazer um mesmo significado com duas palavras diferentes. Ex: Subir para cima, descer para baixo etc.

    c)     Antítese – Emprego de palavras com sentidos contrários. Ex: O céu e o inferno.

    d)    Eufenismo – “Lembra que essa palavra é um pouco delicada”, logo é para tornar algum termo menos agressivo. Ex: Em vez de você falar gordo, você fala fofo. “Olha aquele fofo”.

    e)    Hipérbole – Exagero da ideia. Ex: Morrer de rir.

    f)      Comparação X Metáfora – A comparação eu uso o conectivo, geralmente “como” e a metáfora eu não quero nem saber do conectivo, eu digo realmente que você é. Ex: Igor é forte como um touro (comparativo) e igor é um touro (metáfora).

    g)    Metonímia – Substituição de palavras. Ex: Eu usei cotonete. Na verdade você não usou o cotonete, e sim uma haste de algodão.

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  • gab e!

    tentei concordar com o gabarito, mas não consegui. kk

  • Gabarito (e)

    Metáfora = exagero. A única assertiva que apresenta metáfora é a letra (e).

    EX: Matei o passarinho com um canhão.