- ID
- 2922331
- Banca
- COSEAC
- Órgão
- Prefeitura de Maricá - RJ
- Ano
- 2018
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto 8
PONCIÁ VICÊNCIO
Quando os filhos de Ponciá Vicêncio, sete, nasceram e morreram, nas primeiras perdas ela sofreu muito. Depois, com o correr do tempo, a cada gravidez, a cada parto, ela chegava mesmo a desejar que a criança não sobrevivesse. Valeria a pena pôr um filho no mundo? Lembrava da sua infância pobre, muito pobre na roça e temia a repetição de uma mesma vida para os seus filhos. O pai trabalhava tanto. A mãe pelejava com as vasilhas de barro e tinham apenas uma casa de pau a pique em que viviam. E esta era a condição de muitos. Molambos cobriam o corpo das crianças, que até bem grandinhos andavam nuas. As meninas não. Assim que cresciam um pouco, as mães providenciavam panos para tapar-lhes o sexo e os seios. Crescera na pobreza. Os pais, os avós e os bisavós sempre trabalhando na terra dos senhores. A cana, o café, toda a lavoura, o gado, as terras, tudo tinha dono, os brancos. Os negros eram donos da miséria, da fome, do sofrimento, da revolta suicida. Alguns saíam da roça, fugiam para a cidade, com a vida a se fartar de miséria, e com o coração a sobrar esperança. Ela mesma havia chegado à cidade com o coração crente em sucessos e eis no que deu.
(EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. p. 70.)
A escritora contemporânea brasileira Conceição Evaristo vem sendo reconhecida por sua atuação a favor da causa das mulheres e negros no Brasil. Sua prosa convoca, muitas vezes, o autobiográfico, promovendo entrelaces entre o trabalho de criação e a vida da autora. No contexto atual da literatura brasileira, o texto 8 exemplifica: