SóProvas


ID
2922388
Banca
COSEAC
Órgão
Prefeitura de Maricá - RJ
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1    

 

      O estudioso russo Mikhail Bakhtin afirma que não existe atividade mental sem expressão linguística e que devemos “eliminar de saída o princípio de uma distinção qualitativa entre o conteúdo interior e a expressão exterior”. No meio escolar, é muito comum o aluno afirmar que sabe determinado assunto, mas que não sabe expressar, não sabe falar sobre ele.  

      Bakhtin, como precursor da linguística moderna, enfatiza o caráter social da linguagem e, consequentemente, o seu caráter dialógico: “a palavra dirige-se a um interlocutor”. E é a presença desse interlocutor que definirá o seu perfil, ou seja, em função do ouvinte, ela será mais formal ou mais coloquial, mais cuidada ou mais solta. A presença do interlocutor é também o elemento desafiante, que vai provocar o sujeito para que ele organize sua expressão verbal. Assim, Bakhtin conclui que “não é a atividade mental que organiza a expressão, mas, ao contrário, é a expressão que organiza a atividade mental, que a modela e determina sua orientação”.

      Diante de uma afirmação como essa, vemos o quanto é importante e mesmo determinante, no desenvolvimento da criança e do jovem, a interação professor/alunos e alunos/alunos no cotidiano escolar. E vemos o quanto é essencial que o professor estimule o exercício da verbalização entre eles, o quanto é necessário que eles aprendam a se colocar como ouvintes dos colegas e a disciplinar o acesso à fala, permitindo que todos tenham o direito à sua própria palavra. Essa é a condição mesma do desenvolvimento cognitivo de todos e condição para o desenvolvimento e o domínio da linguagem.   

      É ainda Bakhtin quem esclarece melhor, mostrando o quanto é importante o interlocutor em todo processo de enunciação: “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim, numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor.”  

      O papel representado pelo grupo social com que se convive e que nos serve de interlocutor é da maior importância, diante do que Bakhtin nos expõe. Penso que, para nós, professores que atuamos na escola pública brasileira, interagindo com crianças e jovens provenientes dos meios sociais dos mais desfavorecidos, atentar para essa questão da linguagem é um imperativo básico. Só assim, com um olhar munido de uma compreensão maior, podemos melhor cumprir a tarefa que o nosso tempo histórico nos coloca. A escola constitui, para muitas dessas crianças e jovens, um dos poucos, talvez o único interlocutor em condições de interagir com eles e contribuir para a evolução de sua linguagem. E é bom lembrar, mais uma vez: seu desenvolvimento cognitivo depende do desenvolvimento de sua linguagem. Gostaria de lembrar que, diante de um livro ou de um texto, no ato de leitura somos desafiados por este interlocutor que nos fala através da palavra impressa. Ao ler, nós organizamos um discurso interno ao sermos provocados pelo discurso lido, nos lembramos de leituras ou experiências anteriores, relacionamos com outros textos que tratam do mesmo assunto. Mesmo quando não comentamos o texto com alguém, mesmo quando não escrevemos uma crítica ou resenha sobre ele, nós temos uma participação ativa na interação com a linguagem e com o sentido do texto. Essa é também uma forma de diálogo, e das mais enriquecedoras.
 
(MARIA, Luzia de. Amor literário: dez instigantes roteiros para você viajar pela cultura letrada. Rio: Ler & Cultivar  editora, 2016, p. 250-1.)

Na passagem: “em função do ouvinte, ela será mais formal ou mais coloquial, mais cuidada ou mais solta” (§ 2), faz-se no texto alusão a:

Alternativas
Comentários
  • Oi, sim.

  • Gabarito - B.

    (registros da língua padrão).

  • por que registro da lingua padrão????????????????????

  • Alguém sabe explicar porque do "registro da língua padrão?"

  • Gabarito: B

    REGISTRO DA LÍNGUA

    registro linguístico é a utilização seletiva de uma linguagem para adaptar a expressão a um determinado auditório ou finalidade. Certas escolhas, especialmente as lexicais e sintáticas, mas também o tom e o grau de liberdade em relação às regras da língua, permitem ajustar a comunicação a uma situação: as pessoas se expressam de forma diferente conforme o ouvinte seja um parente, um desconhecido, uma criança ou um superior hierárquico, e segundo a sua idade, meio social e nível cultural.

    Por isso, explica-se que em função do ouvinte, ela (a linguagem) será mais formal ou mais coloquial, mais cuidada ou mais solta.

  • ♣ Dialetos: estão relacionados às  próprias de uma região ou território, bem como às variações encontradas na fala de determinados grupos sociais. As diferenças linguísticas também estão associadas à idade dos falantes, sexo, nível de exposição aos saberes convencionais e à própria evolução histórica da língua.

    ♣ Registros: estão relacionados às variedades padrão e não padrão. O grau de formalidade em determinada situação comunicacional definirá qual registro será adotado: a norma culta ou a norma popular. A melhor opção será aquela que cumprir melhor sua função social, estabelecendo assim uma maior sintonia entre os interlocutores. Isso quer dizer que cada situação requer do falante um comportamento linguístico específico: você, em uma entrevista de emprego ou em um seminário da escola, certamente adotará a norma culta, evitando assim dialetos e gírias (marcas do coloquialismo), da mesma maneira que fará escolhas linguísticas informais em suas relações cotidianas com a família e amigos.

    https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/dialetos-registros-no-portugues-brasileiro.htm

  • A rigor, as questções da banca e dessa prova versam sobre LÍNGUISTICA e não sobre interpretação de textos. por isso o alto percentual de erros e a sensação de "nunca ter lido sobre isso.