SóProvas


ID
2937091
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de Barcarena - PA
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Existir, a que será que se destina?


            Quando entra no ar a vinheta do Jornal Nacional, meu coração vai apertando porque sei que lá vem. Não me refiro às quedas na bolsa, à desvalorização do real ou às exigências do FMI, que tudo isso já vi. Refiro-me às consequências de um mundo hostil, predatório e tremendamente injusto, seja no Brasil, em Ruanda ou em qualquer lugar onde crianças passem fome, senhoras durmam em calçadas tentando matricular seus filhos ou aposentados morram em corredores de hospitais. Cada vez mais difícil digerir a vida como ela é para a maioria.

            As crianças que eu conheço estudam em escola particular, compram livros, vão ao cinema, tomam lanches, são sócias de um clube, possuem roupas coloridas, têm brinquedos, praticam esportes, vão à praia e no primeiro sinal de doença, as mães telefonam para o médico e marcam consulta para o mesmo dia, tendo a seu dispor ar-condicionado e competência. Tudo caro. É o preço de poder ter um dia feliz entre duas noites de sono. 

            As crianças que não conheço não têm nada disso, e quando forem adultas terão menos ainda, porque até a inocência irão perder. Nunca viram um hambúrguer, não sabem o gosto que a Fanta tem, dos picolés sentem o gosto apenas do palito, não têm leite de manhã e não têm molho para o macarrão que às vezes comem. Mascam chicletes usados, assim como seus pais fumam baganas encontradas no chão. Um estômago vazio entre duas noites de sono. 

            Para a maior parte das pessoas, o espaço que existe entre nascer e morrer não é ocupado. Não comem, e não comendo, não estudam, e não estudando, não trabalham e não trabalhando, não existem. São fantasmas que não conseguem libertar-se do próprio corpo. Nós enquanto isso, discutimos o novo disco da Alanis Morrisete, aplaudimos a chegada do Xenical, vemos as fotos do Morumbi Fashion, comemoramos o centenário de Hitchcock, comentamos o lançamento do novo Renault Clio, torcemos por Central do Brasil. Saímos para dançar, provamos comida árabe, andamos de banana boat, fazemos terapia e regamos girassóis. Fazemos interurbanos, jogamos no Toto Bola, compramos o batom que seduz os moços e a espuma de barbear que seduz as moças. Bem alimentados, instruídos e com um mínimo de saldo no banco, ocupam o espaço entre acordar e adormecer. 

            Quem não come, não sabe ler e não tem medicamento não ocupa espaço algum. Flutua no vácuo, respira por aparelhos, ignora a própria existência, só sabe que está vivo porque, de vez em quando, sofre um pouco mais que o normal, porque o normal é sofrer bastante, mas não a ponto de não haver diferença entre nascer ou morrer. 

Fonte: Marta Medeiros, fev/1999, p. 162.

O fragmento seguinte é base para a questão:

“Fazemos interurbanos, jogamos no Toto Bola, compramos o batom que seduz os moços e a espuma de barbear que seduz as moças.”


Das duas orações adjetivas presentes no excerto, é correto afirmar que são:

Alternativas
Comentários
  • Metonímia = substituição.

    Fazemos ligações interurbanas, jogamos na loteria

    As moças de batom seduzem os moços e os rapazes barbeados seduzem as moças.

  • Alguém explica pq esta questão não é letra B?!

  • Não tem como ser prosopopeia, Layanne.

    Prosopopeia (personificação) é qualidade e sentimentos humanos a "coisa", aos irracionais.

    Ex: O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

  • as duas orações adjetivas no texto não são "compramos o batom que seduz os moços e a espuma de barbear que seduz as moças.”?

    porque no meu raciocínio, em "o batom que seduz" e "a espuma de barbear que seduz" está presente a prosopopeia, visto que a sedução é qualidade humana e não de seres inanimados.

  • Acredito que tenha dois gabaritos pois prosopopeia ou personificação implica a atribuir a coisas ou animais sentimentos ou atitudes humanas, e isso fica claro no excerto: O batom que seduz os moços e a espuma de barbear que seduz as moças.”

    Imagine isso numa prova caindo em linguagem não verbal... Um batom "dando uma cantada" em um homem! grande maioria iria "seco" em prosopopéia.

    Dois gabaritos, letra B / E.

  • Pérola Nery, Batom seduz alguém? E a espuma? A meu ver, o autor está atribuindo características humanas a objetos.

  • Típica questão CETAP, em que duas alternativas podem estar corretas dependendo da interpretação.

    Nesse caso, tanto letra B, quanto letra E poderiam ser assinaladas como a resposta e a banca poderia argumentar a favor de qualquer uma delas.

    Em "batom que seduz os moços e a espuma de barbear que seduz as moças." , quem seduz? O batom ou quem o usa? Se considerarmos que estar-se fazendo uma associação, uma relação lógica entre possuidor e possuído, será uma Metonímia. Como quando eu digo "o ônibus não parou pra mim", mas na verdade quem não parou foi o motorista do ônibus, só que eu faço uma associação lógica entre possuidor e possuído, exatamente como foi feito com o 'batom que seduz', quando, na verdade, quem seduz é a mulher que o usa.

    Porém, a interpretação também poderia ser a de que batons não seduzem, quem seduz é um ser humano, nesse caso estar-se atribuindo uma característica humana a um objeto, será, então, Prosopopeia.

    Mas acredito que a intenção da autora foi a de falar que quem seduz é quem usa e não o próprio objeto, daí termos a metonímia como figura de linguagem mais evidente.

    A meu ver, caberia recurso nessa questão sim, porém, pelo que já vi da CETAP eles não são muito abertos a deferir recursos, já vi questões bem piores e mais ambíguas que essa não serem anuladas por eles.

    O jeito é se adaptar ao estilo deles, já percebi que na maioria das questões dessa banca ficam duas alternativas igualmente possíveis de serem o gabarito, a depender do que se depreende do enunciado, então nós temos que ter uma dupla interpretação, do texto em si e a que o examinador está se referindo, devemos pensar com a cabeça dele.

    É a vida de concurseiro, amigos, é doce mas não é mole.

  • "Compramos o batom que seduz os moços"

    Quem seduz não é o batom, mas sim o ser que usa!

    "espuma de barbear que seduz as moças"

    Não é a espuma que vai seduzir e sim quem fez uso dela.

    São exemplos claros de metonímia, pois essa figura emprega um termo no lugar do outro!