A ideia de um país grande, considerado potência mundial foi, igualmente, pensado pelo estamento militar, fazendo-se menção explicita no plano de Metas e Bases Para a Ação do Governo. Para o governo, entre os objetivos, estratégia e grandes prioridades, estabelecia-se como "Objetivo-Síntese, ingresso do Brasil no mundo desenvolvido, até o fnal do século. Conforme já se esclareceu, construir-se-á no País, uma sociedade efetivamente desenvolvida, democrática e soberana, assegurando-se, assim, a viabilidade econômica, social e política do Brasil como grande potência". (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1971, p. 15)
A volta do grupo sorbonista ao poder em 1974 signifcou, em parte, a retomada de alguns princípios do primeiro governo, mas não que pudesse ser mera repetição daquele, ou contivesse mudanças abruptas do período anterior comandado por Médici. Rotulada como pragmatismo responsável, a política implementada por Ernesto Geisel aproveitava princípios já utilizados no período de Médici, mas substituía a ideia de Grande Potência por potência emergente, como se pode observar no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) (PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA,1974, p. 21-78). Ou, também, pela política de aproximação com o continente africano. De fato, após a viagem do chanceler Mario Gibson Barboza em 1972, quando esteve em nove países, laços foram intensifcados com aquele continente.
Critérios apoiados na necessidade de se pensar o mundo sob outras categorias, em razão da própria mudança verifcada nos negócios internacionais e da competição que começava a se acirrar internacionalmente, o período Geisel se caracterizou por vários fatos que tiveram signifcativo impacto interna e externamente. Um deles se refere ao reconhecimento em 1975 de países recém-libertos do jugo português, como Angola e Moçambique, ainda que governados por grupos marxistas, encabeçados por Agostinho Neto e Samora Machel, respectivamente. Nessa mesma linha, ocorreu o reconhecimento da República Popular da China em detrimento do regime de Formosa. Neste último caso, o Brasil redimia-se de sua atuação em abril de 1964,imediatamente apos o golpe, quando expulsou nove diplomatas chineses.
A assinatura do acordo nuclear com a República Federal da Alemanha, deixando de lado a proposta norte-americana em 1975, bem como as críticas aos desrespeitos brasileiros em direitos humanos feitas por Jimmy Carter, podem ser resgatados como fatos importantes desse período. Ao mesmo tempo, a ressalva ao governo israelense, condenando na ONU o sionismo como forma de racismo, é outro exemplo que marcou a política do pragmatismo.
Naquele contexto, a postura brasileira era a de que o cenário global não comportava a existência de amigos, mas simplesmente de aliados. Não se deveria dar importância às ideologias,mas sim aos mercados. No entorno da Bacia do Prata, entretanto, o Brasil manteria discussões ásperas com a Argentina com a construção da barragem de Itaipu.