SóProvas


ID
2954602
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: A epidemia da ansiedade


      De repente, do nada, uma preocupação surge na sua cabeça. Você começa a pensar naquilo, imagina mil possibilidades, tenta prever o que pode ou não acontecer. Então a mente acelera e começa a dar voltas em torno de si mesma: repete muitas e muitas vezes os mesmos cenários, plausíveis ou absurdos, num ciclo impossível de interromper. Quando você percebe, ficou a noite inteira em claro.

      Todo mundo já passou por algo assim. A ansiedade faz parte da vida moderna. Sua forma patológica, o transtorno de ansiedade, é a segunda doença mental mais comum no planeta: segundo dados da OMS, 264 milhões de pessoas sofrem desse mal – 14,9% a mais do que dez anos atrás. E o Brasil é o centro mundial do problema: 9,3% da população tem transtorno de ansiedade, quase o triplo da média internacional (3,5%). Na cidade de São Paulo, um estudo feito pela USP chegou a números ainda mais impressionantes: nada menos que 19,9% das pessoas têm a doença. Por ano, são vendidos 26,8 milhões de caixas do ansiolítico Rivotril (e demais remédios à base de clonazepan) no Brasil, segundo dados da empresa IQVIA, que audita o mercado farmacêutico. Seu consumo teve um crescimento de quase 300% na última década (em 2010, os brasileiros compraram aproximadamente 10 milhões de caixas desse remédio).

      Nunca estivemos tão ansiosos – e, como você talvez já tenha percebido, isso não está nos fazendo bem. Mas a ansiedade pura e simples não é um transtorno. É uma estratégia bem-sucedida, que há centenas de milhares de anos tem garantido nossa sobrevivência.

A gênese da ansiedade

      Na savana africana, com suas grandes planícies, poucas árvores e muita vida animal, os humanos viviam vulneráveis ao ataque dos leões, leopardos, cobras e hienas. Se não fossem comidos por predadores, nossos antepassados tinham que se preocupar com outra ameaça: fome. A comida era incerta, pois eles dependiam da sorte na coleta e na caça.

      Uma das estratégias de sobrevivência foi viver em grupos. Mas a vida comunitária trouxe novos problemas. Era preciso fazer força para ser aceito pelo grupo, e não acabar marginalizado ou mesmo expulso dele. O convívio também levava a disputas, geralmente resolvidas por meio da violência: pesquisas arqueológicas revelaram que os primeiros grupos humanos tinham altíssimas taxas de homicídio: 15% das pessoas morriam assassinadas.

      Em suma, a vida era dura. E as pessoas que tiveram mais êxito em sobreviver e gerar descendentes, passando seus genes adiante, foram as mais capazes de antecipar as ameaças de predadores, fome, rejeição do grupo e violência. Ou seja, os mais ansiosos.

            Hoje, é rara a pessoa que precise proteger-se de cobras e leões. Graças a seu intelecto, o ser humano transformou o mundo. Dominamos predadores, vencemos doenças, produzimos até mais comida do que o necessário e criamos leis para controlar e conter a violência (hoje, os homicídios são responsáveis por 0,005% das mortes no mundo). A vida nunca foi tão confortável, pacífica e próspera. Mas a ansiedade não desapareceu. Temos novas preocupações – o assaltante no trânsito, as contas de casa, a manutenção do emprego, a solidão, a quantidade de curtidas nas redes sociais etc. O mundo mudou, mas os medos não desapareceram; se transformaram.

      Ansiedade e medo são intimamente ligados – ambos são estados aversivos engatilhados por uma ameaça. Mas o medo é provocado por um estímulo imediato, aqui e agora, como um assaltante armado. Já a ansiedade emerge diante de uma ameaça futura, que poderá ou não se concretizar – como aqueles pensamentos que vêm à cabeça ao andar numa rua escura de madrugada. Se o medo prepara o corpo para agir imediatamente, a ansiedade nos motiva a evitar a ameaça futura, fazer preparações para ela ou agir para que não ocorra. O que pode acontecer se eu andar numa rua vazia e mal iluminada, de madrugada? Há algum canto de onde pode aparecer um assaltante? Se surgir alguém devo sair correndo? Essa antecipação de consequências envolve o córtex pré-frontal – a região mais desenvolvida do cérebro humano.

      “É provavelmente impossível sentir medo sem também sentir-se ansioso”, afirma o neurocientista americano Joseph LeDoux, autor do livro Anxious (não lançado no Brasil). Afinal, basta ter medo de uma coisa para começar a se preocupar com as consequências dela. “Ver uma pessoa com uma arma induz ao sentimento de medo. Mas a preocupação ou ansiedade rapidamente toma a dianteira, quando você passa a imaginar o que aquela pessoa vai fazer”, diz LeDoux. Da mesma forma, quando você está ansioso e vai caminhar em uma rua escura, pode sentir medo com algo que passaria batido – como uma sombra ou o barulho de um galho quebrando.

      Nossas mentes são propensas à ansiedade. Ela nos trouxe até aqui porque, no grau certo, é benéfica. Mas certas características da vida nas cidades parecem ter dado um curto-circuito nesse mecanismo.

Reportagem de Maurício Horta Revista Superinteressante. São Paulo: Abril, edição 399, fevereiro de 2019. (adaptado)

Há uma hipérbole no seguinte fragmento do texto:

Alternativas
Comentários
  • gabrito = D

  • c) “É uma estratégia bem-sucedida, que há centenas de milhares de anos tem garantido nossa sobrevivência.”

    De acordo com o texto, o termo em destaque está na forma denotativa. Não poderia ser uma hipérbole, como em "(...) imagina mil possibilidade...".

  • GABARITO: LETRA D

    Primeiro passo: Leiam o texto para compreender o real sentido.

    A) “Todo mundo já passou por algo assim.”

    B) “Seu consumo teve um crescimento de quase 300% na última década...” >>> no Brasil, segundo dados da empresa IQVIA, que audita o mercado farmacêutico. Seu consumo teve um crescimento de quase 300% na última década >>> dado correto e real, sentido denotativo, comprovado por uma autoridade (empresa de pesquisa).

    C) “É uma estratégia bem-sucedida, que há centenas de milhares de anos tem garantido nossa sobrevivência.” >>> . Mas a ansiedade pura e simples não é um transtorno. É uma estratégia bem-sucedida, que há centenas de milhares de anos tem garantido nossa sobrevivência. >>> usado no sentido denotativo, realmente têm todos esses anos.

    D) “Você começa a pensar naquilo, imagina mil possibilidades...” >>> sentido conotativo. (não há como imaginar 1000 possibilidades, foi usado uma hipérbole --- exagero).

    Força, guerreiros(as)!!

  • Hipérbole é a expressão do exagero. É  classificada como figura de pensamento. E por isto mesmo, constitui recurso estilístico capaz de aumentar a expressividade do texto.

    Ela possui uma particularidade especial, é a figura que torna tudo muito exagerado, além do real. 

    É oposta ao  que tenta suavizar as mensagens.

    fonte: https://www.figuradelinguagem.com/hiperbole/

  • Gabarito Letra D: "...mil possibilidades..." não foram tantas possibilidades assim.

    Mas letra A tb: "...todo mundo..." não dá pra garantir que tenha sido todo mundo.

  • d) “Você começa a pensar naquilo, imagina mil possibilidades...”

     

     

    Hipérbole ou auxese - é uma afirmação exagerada. É uma deformação da verdade que visa a um efeito expressivo.

     

    Exemplo:

    Chorou rios de lágrimas.

  • Esta questão é questionável!

  • A alternativa A também poderia estar correta

  • Maurício Priamo, ansiedade faz parte do ser humano, a humanidade existe há centenas de milhares de anos, fato axiomático.

  • Letra D

  • A alternativa A) se trata de uma metonímia: Não se trata de "todo mundo". Na verdade a alernativa a) troca "pessoas" por "mundo" e há uma relação de proximidade entre esses termos. por isso não se trata de hiperbole e sim de uma metonímia!

  • Há um exagero ao falar que pensamos em MIL POSSIBILIDADES ... exagero nato e corriqueiro na linguagem

  • Questões de figura de linguagem podem ser um pouco subjetiva...

  • A letra A também está correta, visto que seria um exagero afirmar que todo mundo já passou por alguma situação.

  • Por sei mal mal o que é hipérbole, faixa branca. kkkkkkkk